Galeria Base Recife realiza individual de Ismael Caldas
Depois de 15 anos sem uma individual no Recife, artista pernambucano, falecido em 2016, tem um recorte de obras inéditas apresentadas na mostra A Luz do Silêncio
A Galeria Base Recife inaugura no dia 10 de dezembro, às 19h, a exposição A Luz do Silêncio, do artista pernambucano Ismael Caldas, com curadoria e texto crítico de Daniel Maranhão. Todas as obras da mostra, que passou inicialmente pela Base São Paulo, eram da coleção particular do artista, falecido em 2016, cujo espólio é representado pela galeria. A exposição apresenta um recorte amplo, que vai da década de 1970 a 2010, trazendo os múltiplos temas que compõem a obra de Caldas: animais, políticos, músicos, atletas, cadeiras, itens do cotidiano, autorretrato e figuras humanas de forma geral.
São
20 obras inéditas, todas em pintura com tinta acrílica. Segundo Daniel
Maranhão, a pintura do artista não seguia modismo. “Ismael pintava os temas que
lhe eram afetos, e não aqueles que o espectador ou o mercado demandava, jamais
cedeu à tentação da mídia, do espetáculo, da fama, dos holofotes. Diferente da
verborragia de grande parte dos artistas visuais — ainda mais nos tempos
atuais, em que se discursa em demasia sobre a própria obra —, Ismael dizia que
‘a pintura não é uma atividade verbal’”, explica Maranhão.
Em
entrevista para a revista Continente, em 2003, o artista falando
sobre seu processo de produção disse: "inspiração existe à medida em que
você tem dias de sintonia consigo mesmo. Deprimido não se faz coisa alguma.
Estar em sintonia consigo mesmo talvez seja a chave da inspiração".
Sua
pintura traz imagens disformes e carregadas de ironia, representando generais
da ditadura militar, políticos corruptos e figuras do imaginário popular. A
crítica social é evidente, como na série sobre os políticos intitulada Corruptos,
corruptos. Apesar da temática por vezes ácida, a crítica destaca que
sua busca não era pela feiura, mas por uma "beleza rara" e por uma
realidade despida de ilusões.
Para o
artista e crítico de arte, Raul Córdula, organizador do livro Ismael
Caldas (CEPE, 2023), a pintura de Caldas é uma
expressão do insólito, do incomum, do infrequente e do anormal. O artista busca
um outro lado da beleza. Não se trata de feiura do ponto de vista corriqueiro,
mas da realidade escondida na visibilidade da figura que se apresenta despida
de engodos e adornos, ou quando estes aparecem, isso acontece como um gesto de
ironia, de crítica sarcástica.
Além dos
traços inconfundíveis, a cor também marca seu trabalho. O também artista José
Cláudio escreveu uma crônica sobre o colega pintor na qual ressalta a paleta
própria de Caldas que fugia dos tons tropicais. “Ele segue rigorosamente a
sua paleta inconfundível. Não se trata aqui das cores das nossas paisagens
tropicais, da cor do céu e do mar, das árvores ou das flores ou dos pássaros,
da nossa natureza ‘perpetuamente em festa’. As cores de Ismael Caldas não são
para ‘açucenar a vida’.” Segundo Córdula, é na série na qual celebra
a música, em especial o jazz, gênero pelo qual Caldas tinha um apreço especial,
que é possível perceber o uso de uma paleta de cores mais generosa.
O título da exposição ressalta a invulgar técnica de Ismael no uso da luz em suas obras, assim como o seu temperamento introspectivo, arredio e refratário de encontros sociais, ao ponto de se comunicar com os amigos mais próximos por cartas, vide as inúmeras missivas trocadas com Francisco Brennand, para quem Ismael “era o maior artista de Pernambuco”.
Ismael
Caldas (1944-2016) nasceu em Garanhuns e iniciou sua
trajetória artística ao se mudar para Recife em 1963.Em 1966, ingressou na
Escola de Artes Visuais da UFPE e participou do 25º Salão do Museu do Estado de
Pernambuco. Sua carreira ganhou projeção nacional e internacional já em 1967,
ao ser selecionado para a 9ª Bienal Internacional de São Paulo. Ao longo de
cinco décadas, participou de 33 mostras, salões e bienais, com exposições no
MAM-RJ, em Portugal e em galerias renomadas como a Bonino (RJ) e a Artespaço
(Recife). Exerceu um papel fundamental na formação de novos talentos,
lecionando desenho e pintura na Oficina 154, em Olinda, a partir de 1969.
Faleceu em 2016, aos 72 anos, vítima de complicações de um câncer.
Inaugurada em março de 2025, a Base Recife fecha este primeiro ano de
atividades celebrando o talento desse pernambucano. “Na coletiva Eixo trouxemos
artistas de fora de Pernambuco, que estão despontando no cenário nacional.
Conseguimos apresentar ao público pernambucano esses artistas. Agora, trazemos
um artista da terra que merece uma maior visibilidade e reconhecimento em seu
estado. Estamos felizes de fechar o ano com essa individual”, pontua Gabriela
Maranhão, nome à frente da filial recifense.
Serviço:
Exposição: “A Luz do Silêncio" - Ismael
Caldas
Curadoria e texto Crítico: Daniel Maranhão
Abertura: 10 de dezembro – quarta – 19h
Período: de 11 de dezembro de 2025 a 30 de janeiro de 2026
Segunda a sexta, das 10h às 18h.
Endereço: Rua Professor José Brandão, 163. Boa Viagem.
@galeriabase_recife @galeriabase
www.galeriabase.com.br



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