Giro Literário: poetas pernambucanos
Na girândola da vida, muitas
lições são apreendidas e neste tempo de quarentena, quando devemos ficar em
casa para evitar uma maior contaminação do Codiv19, a poesia é uma ferramenta
que alimenta a alma e nos torna mais sensíveis a tudo que nos rodeia mas o
maior sentimento que devemos cultivar é respeitar a natureza e o outro,
amorosamente.
A Agenda Cultural do Recife volta
a publicar poetas pernambucanos para que possamos refletir sobre o nosso caminhar
no mundo.
Hoje publicaremos Manuel
Bandeira, João Cabral de Melo Neto e Carlos Pena Filho mas haveremos também de
publicar poetas das várias gerações.
Andorinha
Manuel
Bandeira
Andorinha lá fora está
dizendo:
— “Passei o dia à toa, à toa!”
— “Passei o dia à toa, à toa!”
Andorinha, andorinha,
minha cantiga é mais triste!
Passei a vida à toa, à toa…
Passei a vida à toa, à toa…
Tecendo a Manhã
João
Cabral de Melo Neto
1.
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
2.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
Carlos Pena Filho
Quando mais nada resistir
que valha
A pena de viver e a dor de amar
E quando nada mais interessar
(Nem o torpor do sono que se espalha)
A pena de viver e a dor de amar
E quando nada mais interessar
(Nem o torpor do sono que se espalha)
Quando pelo desuso da navalha
A barba livremente caminhar
E até Deus em silêncio se afastar
Deixando-te sozinho na batalha
A barba livremente caminhar
E até Deus em silêncio se afastar
Deixando-te sozinho na batalha
A arquitetar na sombra a despedida
Deste mundo que te foi contraditório
Lembra-te que afinal te resta a vida
Deste mundo que te foi contraditório
Lembra-te que afinal te resta a vida
Com tudo que é insolvente e provisório
E de que ainda tens uma saída
Entrar no acaso e amar o transitório
E de que ainda tens uma saída
Entrar no acaso e amar o transitório
Muito bom, parabéns.
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