Tagore

Por Guilherme Menezes
Tagore. Foto: Divulgação
Apertei o número de meu interesse no interfone e logo surgiu uma voz que me pediu para subir. Convidado a entrar, deparei-me com um apartamento quase sem nenhum móvel ou objeto. Visivelmente, ainda estava sendo ocupado. Foi então que eu vi, com mais simpatia do que surpresa, talvez os objetos mais indispensáveis para os residentes: uma vitrola e discos (vinis). Eu estava no QG da banda Tagore, ou seja, o novíssimo apartamento onde o grupo vai morar. Tagore, banda em ascensão no cenário recifense e vencedora do Pré-AMP deste ano, falou sobre o panorama de sua carreira e os novos projetos.

Nos primórdios, os integrantes da banda Tagore Suassuna e João Cavalcanti começaram a conversar sobre as músicas que Tagore fazia no intuito de materializar as obras, em 2009. “De vez em quando, João vinha na minha casa para trabalhar as canções e, nesses encontros, paramos para gravar em dois deles. Então, gravamos Poliglota e Crença. Isso nos fez querer, logo depois, dar um passo maior”, diz Suassuna. Segundo eles, mesmo durante o momento do “passo maior”, ainda estavam muito voltados à gravação e não se consideravam uma banda, já que eram apenas eles (com participação especial de Igor Távora – flautista e vocalista da banda Caapora), trabalhando e gravando o que viria se tornar o EP Aldeia, em janeiro de 2010.

Tagore Suassuna. Foto: Divulgação

O EP, que fez a banda ganhar seu espaço, foi um trabalho realizado de forma bastante intensa. “Era mais ou menos o que a gente estava fazendo antes. Só que, dessa vez, fomos para uma chácara situada no bairro de Aldeia e ficamos internos lá. Gravamos durante dez dias de forma contínua, com dedicação e com mais tempo. E aí saiu o disco. Mas, na verdade, foi muito inesperado, nem queríamos produzir um disco ou um EP, ou até formar uma banda. Queríamos mesmo era gravar as músicas e algumas ainda nem estavam prontas”, completa Cavalcanti.

O grupo atual é formado por Tagore Suassuna – compositor da banda, voz e violão; João Cavalcanti na guitarra, synth e baixo; Diego Dornelles também na guitarra, synth e baixo; Gustavo Perylo na bateria e Caramuru Baugmatner na percurssão e voz. O elenco se formou no segundo semestre de 2010. “Queríamos tocar as músicas. Eu até gosto de bandas que têm uma relação mais introspectiva, que só lançam seus discos, mas aqui isso é inviável. É importante que a banda esteja fazendo shows. Então, apresentamos nosso EP no Terça Autoral, do UK, e a partir daí, começaram a aparecer os convites. Foi apresentando nosso EP que conseguimos espaço na rádio. Quando as faixas Ilhas Cayman e 2012 tocaram na rádio, conseguimos nossa produtora. Quer dizer: a produtora ouviu nosso trabalho na rádio e se interessou pelo som da banda”, frisa João Cavalcanti.

Eles disseram ainda que demorou um tempo razoável para formar a banda, devido à fase de pós-produção do EP Aldeia. “Passamos muito tempo produzindo e mixando as músicas para que ficássemos realmente satisfeitos com o som de cada instrumento, de cada timbre. Eu também não sabia nada de mixagem. Eu me vi tendo que aprender primeiro para poder realizar esse trabalho. Li muito sobre equalização e outras coisas para poder usar em algo que já estava acontecendo”, pontua Cavalcanti.

No decorrer da conversa, levanto uma curiosidade: Tagore, você participou de projetos como The Keith, que mostravam influências do Nirvana e do The Strokes; e de The New Folks, que também mostrava um grande foco na música internacional; o que fez você começar a compor de uma forma diferente, puxando para aspectos regionais? Suassuna responde: “Na minha primeira banda, a The Keith, eu realmente tinha um trabalho mais puxado para o rock estrangeiro. Mas, na minha própria família mesmo, eu sempre tive sonoridades regionais. Tenho tios que tocam em bandas que trabalham esse tipo de sonoridade. O meu avô é um poeta de cordel. Na minha descendência, tenho parentes que carregam na veia a poesia popular. Só que isso não aflorou até eu ir para Caruaru. A atmosfera daquele lugar já representa isso. O barro está presente na rua, vamos dizer assim”. 


Tagore Suassuna. Foto: Bruna Valença
Além da influência da família e sua vivência em Caruaru, o cantor e compositor conheceu uma turma do Recife, que estava lá para estudar, que o fizeram despertar para a música brasileira. Na época, ele gostava de poucos artistas brasileiros, entre eles, Ave Sangria e Raul Seixas. No entanto, esse contato abriu seus horizontes para um lado mais nacional. “As influências de hoje em dia da banda Tagore são os Beatles. O grupo é essencial em relação a tudo que fazemos. Minha monografia foi sobre o Sargent Peppers [risos]”, fala Suassuna. João Cavalcanti completa: “Fomos atrás das gravações dos Beatles para usar como referência. Até porque é parecido com o que a gente queria fazer. Aquele lance do rock anos de 1960 ou 70... Gostamos muito do The Doors e dos Rolling Stones, mas também somos muito influenciados por Raul Seixas, Alceu Valença, Ave Sangria, Gilberto Gil e outros artistas nacionais”.

Tagore, no momento, está com um clipe pronto da música Poliglota e outro, quase pronto, intitulado Ilhas Cayman, os dois para serem lançados. Além disso, está para lançar seu primeiro CD, Movido a vapor, divulgado em 2012, novamente na Terça Autoral, com duas músicas novas. O disco foi gravado no Fábrica e será lançado ainda neste primeiro semestre. O grupo também utilizará as cem horas que ganhou no estúdio Casona, um dos prêmios do Pré-AMP, para fazer uma gravação ao vivo do Movido a vapor, que sairá só no próximo ano.

Ao ser perguntado sobre a contribuição do Pré-AMP na carreira da banda, Tagore declarou: “O bom é que nós temos mais de um ano de atividade e mídia. Tocamos na Quarta-Feira de Cinzas, vamos tocar agora no Abril pro Rock, que já é por fora dos prêmios do Pré-AMP, mas aí converge com o lançamento do disco antes do meio do ano e, logo depois, tem o Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), que já é outro prêmio. Vamos estar num bom momento para fazer divulgação em relação ao nome da banda. Nós também vamos começar a gravar agora em abril no Casona e finalizaremos no próximo Pré-AMP, quando vamos tocar como banda convidada”.

O que o ouvinte encontra no Movido a vapor?, pergunto. “É aquela atmosfera do nosso show, só que de uma forma mais polida. Uma busca por originalidade na produção e nas composições e muito instrumental. Encontram ainda uma preocupação grande com os arranjos, que são elementos que chamam muito a nossa atenção. Serão cinco músicas do Aldeia e temos dez inéditas para entrar”.

O grupo já fez shows fora de Pernambuco em uma miniturnê pelo Nordeste, onde tocou no Ceará, na Paraíba e em Alagoas. Também tocou no Coquetel Molotov e abriu para artistas reconhecidos no Estado e nacionalmente como, por exemplo, Céu – em show realizado no Mercado Eufrásio Barboza –, Silvério Pessoa e Lirinha no Carnaval deste ano e Marco Polo, ex-vocalista do Ave Sangria, no Pátio de São Pedro.

Para terminar, toquei no assunto da mudança para o apartamento onde a banda vai residir: Isso beneficia a Tagore? O cantor começa com tom de brincadeira: “Banda é que nem namoro. Os conflitos são parecidos”. Cavalcanti entra em seguida: “Nós, juntos, podemos discutir sobre a nossa música diariamente, podemos nos entrosar de forma mais rápida. Não precisamos esperar chegar o dia do ensaio para conversar sobre novos shows, novas músicas ou alguma insatisfação com qualquer coisa. Resolveremos muitas coisas em casa mesmo, tornando a banda ainda mais produtiva”. Animado, Suassuna, de forma sagaz, finaliza a entrevista: “Singles novos virão”.

Contato:
Tagore
tagoresuassuna@gmail.com

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