Entrevista: Johny C

Fotos: Divulgação / Arquivo Pessoal

Por Camila Marques

A arte visual tem como objetivo ligar o homem a uma manifestação comunicativa, realizada com base na percepção e nas emoções a fim de estimular ideias e dar um significado único e diferente para cada obra. Assim como acontece com diversos estilos artísticos visuais, a arte de graffitar está presente no cotidiano urbano dando um colorido diferente e passando mensagens através do graffiti. O objetivo dessa arteé aproveitar os espaços públicos, criando uma linguagem intencional para interferir na cidade. A Agenda bate um papo descontraído com o Grafiteiro e estudante de Design Gráfico Johny Cavalcanti, conhecido nas ruas como Johny C, que trabalha com aerografia desde 2000 e se envolveu na cultura do Graffiti no final de 2006. Desde então, vem estudando novas técnicas e conceitos aplicados por artistas da cena mundial. Seu estilo de letras agrega a base da OldSchool com dinâmica das letras atuais. Ultimamente desenvolve uma fusão do WildStile Francês com a simplicidade dos “Throw-ups”. Seu personagem, que recebeu o nome de “Gosma”, nos leva ao universo lúdico sem perder seu aspecto social. Seus traços refletem o fluxo da consciência, revelando assim um lado experimental e improvisado. O artista acredita que seu trabalho, no início, transmitia cem por cento dos seus pensamentos e vivências para o público, depois ele passou a explorar mais o significado, pintando para ele mesmo e deixando que o público fizesse sua própria leitura.

Agenda – Qual foi o seu primeiro contato com o graffiti?
Johny Em meados da década de 1990 quando o graffiti cativou meus olhos. Eu andava de skate e via os trabalhos de Guga, Galo e LéoGospel, mas eu sempre gostei dos movimentos de rua. Adorava resolver as coisas com minha mãe só para andar por aí. Eu implorava para ir com ela e, já na rua, ainda pequeno, perguntava a minha mãe como eles faziam aquilo naqueles locais e ficava imaginando... Naquela época, isso ainda era muito distante para mim, então parti para a aerografia porque além de  trabalhar em casa, isso gerava uma grana.

Agenda – O que acha do seguimento do graffiti no estado?
Johny Retratar a cena do estado é uma tarefa difícil, pois temos poucos lugares onde o Graffiti é tão forte como no Recife. Mas posso citar o Cabo de Santo Agostinho, Olinda e Camaragibe como boas promessas. Não tão forte assim, temos: Paulista, Carpina, Paudalho e vai diminuindo quando se chega ao sertão. Em relação à ação de pintar na rua a ideia é colorir e trazer vida aos espaços e o cenário tem evoluído nesses últimos anos. Os artistas têm afrontado a repressão com quantidade, têm quebrado os paradigmas e preconceitos com a qualidade dos graffitis, a riqueza de detalhes e o tamanho dos painés. Entretanto, o mercado de graffiti art no Recife ainda é muito escasso, tanto de Street shops como de contrato de serviço. Não há sequer uma loja específica de Graffiti na cidade, e as que se aventuram ‘quebram a cara’ se não abrangerem tattoo, piercing e outras coisas. Em outros estados, não é assim, existem Graffiti shops em Belo Horizonte, no Rio, em São Paulo e no Espírito Santo.



Agenda-Quais as dificuldades da valorização da arte?
Johny Os contratos requerem muito do artista e dão pouco em pagamento. O estado quer que o artista dê oficina, pinte painéis, participe de ações descentralizadas na cidade, mas com seu próprio material, arcando com o custo e ainda ter o retorno financeiro três ou quatro meses depois da ação. Outra coisa que me incomodava muito era ver os mesmos artistas inseridos nas redes que articulam exposições, projetos etc. Ou seja, não havia possibilidade de incluir outros artistas e nem de haver outras redes. Agora, isso começou a mudar. Pouco, mas começou. Não era possível que um dia ninguém enjoasse das mesmas coisas!

Agenda – Você segue algum estilo? Qual?
Johny Eu curto muito a Velha Escola do graffiti, aqueles painéis carregados com fundos em perspectivas, com muitos detalhes. No começo, meu traço era,  como costumamos chamar, vetorizado. Tinha um traçado mais linear, quase uma impressão na parede. Tudo muito certinho, bem preenchido. É legal, mas eu perdia muito da expressão do risco. E por já ter uma tendência a ser metódico, isso me prendia ainda mais. Hoje meu traço é mais solto, mais livre, me permito escorrer, sair da marcação, fazer do erro parte da obra. Isso tem muito haver com meu estilo de vida atual, eu me tornei mais eclético. Considero uma boa mudança.
Eu pinto muito personagens e venho trabalhando a mistura de dois estilos de letras: o throw-up (estilo de letras mais arredondado e divertido) e o wildstyle (letras entrelaçadas e mais agressivas).


Agenda – Quando você começou a arte do graffiti profissionalmente?
Johny Com lata de spray, eu pinto desde 2007 e, desde o início, sempre andei com os artistas de um dos grupos do qual faço parte hoje, a 33CREW, que sempre teve uma mentalidade profissional independente de projetos. É ser profissional mesmo em algo não remunerado. Isso também faz parte do que eu acredito, gosto de fazer minhas coisas benfeitas. Acredito que os trabalhos maiores e as oficinas começaram em 2008-2009.

Agenda – Você vê algum projeto no graffiti? Caso veja algum,qual seria ele?
Johny Há vários projetos de graffiti  no Recife, mas sempre senti falta de um megaevento, sempre achei que merecíamos isso. Um evento em que o graffiti fosse o foco, que pudesse expressar bem: “Estamos aqui!”. E começamos isso de maneira sutil, com poucos recursos, mas com muita vontade. Atualmente, coordeno com a 33CREW o Recifusion Art, que vai para sua 5ª edição, em 2013. É um projeto ambicioso em comemoração ao Dia Nacional do Graffiti – 27 de março, e que traz muita movimentação para a cidade nesse dia. A 4ª edição do evento reuniu mais de 50 artistas no Beco do Estudante, sendo 20 de outros estados.

Agenda – O artista sempre tem uma vertente idealizadora, sua arte sofre alguma influência? Qual?
Johny Eu sou muito dualista, não só na arte, mas na vida mesmo. Minha base é cristã, e o cristianismo é bem assim. Mas, na realidade, não é só do dualismo em si que eu gosto, gosto do diálogo que há entre certo/errado, bem/mal, fazer/não fazer... Gosto da linha tênue, porque tem a ver com o que acredito: o ser humano, de natureza divina e carnal.

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