Meu bairro... Moro aqui

San Martin

Por Raquel Freitas e Vitor Chaplin
Fotos Vitor Chaplin

Igreja Nossa Senhora de Fátima
Visitar um bairro e conhecer um pouco da sua história vai além do contato com as suas estruturas e formas. O bairro ganha vida no contorno dos traços dos seus moradores. É no olhar, nas cores das suas casas e nas conversas trocadas nas calçadas, que essas linhas do tempo nos transfiguram para algo que não é só nosso, é de todos aqueles que vivem na cidade e para a cidade. E é assim, nesse caminhar lento da globalização, que o bairro passa a receber esse nome e a atuar na sua primeira finalidade: agregar e acolher quem o escolheu. Foi nesse cenário de pessoas caminhando, das buzinas dos carros e das vozes dos moradores entrecortadas pelos barulhos alheios, que o bairro de San Martin nos dá o prazer de conhecê-lo. Com isso, deixamos de lado a lupa sobre o mapa com ares um tanto investigador, para admirarmos as suas retas e curvas mais de perto.


Localizado a Sudoeste da cidade do Recife, San Martin faz fronteira com os bairros do Bongi, Prado, Cordeiro, Torrões, Curado, Jardim São Paulo, Mangueira e Mustardinha. O principal acesso ao bairro se dá pela Avenida Engenheiro Abdias de Carvalho, com entrada pela Avenida General San Martin. Logo no início, é possível avistarmos o Regimento Dias Cardoso – Batalhão de Cavalaria da Polícia Militar do Estado de Pernambuco. Ao lado do batalhão, é possível também apreciarmos uma praça conhecida popularmente como Praça da Cavalaria, bastante arborizada, porém pouco movimentada. Mais à frente, ainda na mesma avenida, encontra-se a escola pública do bairro, cujo nome é Escola General San Martin.

Av. General San Martin
Para nos ajudar nessa quase expedição, foi preciso recorrer a mais de um guia, não que o bairro seja extenso (sua área territorial está calculada em, aproximadamente, 204,9 hectares e a sua população chega à quase 22.959 habitantes), mas simplesmente para facilitar os direcionamentos aos itinerários. Moradores do bairro desde que nasceram, ou seja, pouco mais de 20 anos, os jovens Milca Raab, Felipe Simões e Mayara Simões já conseguem perceber as primeiras mudanças. “Antigamente, o bairro não tinha um comércio tão forte como tem hoje. É possível comprarmos o que quisermos sem sair daqui”, afirma o estudante de Comunicação Social Felipe Simões, a respeito do aumento do número de lojas instaladas na Av. General San Martin.

Nosso guia, Felipe Simões
Questionados a respeito de um lugar onde os moradores possam se divertir, eles pensaram ligeiramente no Pátio de Eventos do bairro. Situado quase em frente à Escola Gen. San Martin, a área agrega em dias comuns pessoas fazendo atividades na Academia da Cidade, crianças brincando no pula-pula montado no centro do parque, como também idosos conversando nos banquinhos da extensa praça. O espaço ainda conta com um minipalco que, na época das festividades locais, serve para entreter os moradores. “Aqui no São João fica tudo enfeitado. Monta-se um palco em cima dessa estrutura e as pessoas vem pra cá, para se divertir”, afirma o guia Felipe.
Milca Raab
Mas não é só de sensações movimentadas que se constrói e se sustenta um bairro. 
Diferente do centro caótico, as ruas nos levam a um sentimento um tanto apaziguador. Em frente às casas, algumas plantas, ainda em fase de crescimento, nos dão a sensação de que alguns elementos se confrontam, por exemplo: o urbano e o campo. “Quando meus pais vieram morar aqui, as casas já existiam. O conjunto dessas ruas (Rua Cdor. Queiroz de Oliveira, Rua Estudante Antônio Farias Filho, Rua Professor Luiz Gonzaga Porto e a Rua Professora Maria do Carmo Araújo) é conhecido como vila. Isso devido à construção ter sido realizada por uma construtora. Todas as casas por dentro são iguais.”, garante o morador da Rua Prof. Luiz Gonzaga Porto, Felipe Simões. “A nossa infância não foi muito em praça. Brincávamos nas ruas, depois do jantar”, rememora Mayara Simões.

Deyvson Pereira, Presidente da Banda Marcial Maurício de Nassau 
Para que o bairro consiga ascender e receber os holofotes justos, faz-se necessário atuar na mudança de alguns aspectos sociais. Esse trabalho, que deveria também fazer parte do processo educacional familiar, transfere-se para o cotidiano das escolas. Longe de ser um local só de assimilação de conteúdo, a escola hoje é, acima de tudo, um ambiente onde as expectativas se renovam e se tornam primordiais na vida do ser humano. Para que essa ideologia não seja extinta, algumas pessoas assumem a função de transformar a trajetória de alguns cidadãos. É dessa forma que a Banda Marcial Maurício de Nassau atua dentro da comunidade. Presidida por Deyvson Pereira da Silva, desde 2008, a banda é mais do que um grupo, pois ela dá espaço aos jovens há oito anos, fazendo com que o tempo ocioso desses estudantes se transforme em música e dança. A banda é um projeto em parceria com a Escola Farias Filho (localizada na Rua Vinte e Um de abril, onde também acontecem os ensaios). “Ensaiamos aqui na escola e nos apresentamos no desfile do dia 7 de setembro (na Av. Cruz Cabugá)”, afirma uma das dançarinas da banda, Milca Raab. Para Deyvson, que começou na banda como instrumentista, o intuito principal é fazer com os “meninos” encontrem na música uma nova possibilidade. “Acho que somos vitoriosos, porque começamos com um projeto bem pequeno e crescemos na medida do possível”, afirma com satisfação o presidente.

Banda Marcial Maurício de Nassau

Agora, seguimos viagem pela Rua Vinte e Um de Abril, onde nos deparamos com o terminal da Mustardinha. Neste lugar, há uma grande movimentação de moradores devido ao fluxo de veículos e também por ser uma das avenidas principais. Já não se vê mais a calmaria que nos retrata a um lugarejo interiorano, porém ainda observamos pessoas sentadas nas calçadas, em frente aos armazéns, salões de beleza e lojas de móveis “jogando conversa fora”.

Assim que saímos do terminal, fomos ao encontro da Praça San Martin, mais conhecida como Praça do Giradouro. Ela ganha contorno na junção da Av. General San Martin e da Rua Vinte e Um de Abril. Chegando à praça, vimos crianças brincando no parque, algumas pessoas sentadas nos bancos descansando do dia e um aglomerado de senhores em um quiosque da praça jogando dominó em uma tarde ensolarada. Logo ao lado, está o Terminal de San Martin. Pegamos agora a Rua Visc. de Porto Seguro, em direção à Praça da Igreja, como ela é conhecida.

Deparamo-nos de cara com a Igreja e, em frente à praça bem arborizada, com parque para as crianças, retomamos mais uma vez a calmaria interiorana. Adentrando à praça, ninguém imagina que ali um dia já foi uma lagoa ou que as ruas eram de barro, como relembra Maria Campos, moradora há 40 anos. Ela fala que mudou muito e que não se tinha linha de ônibus. “As ruas não eram iluminadas e até para fazer uma feira, tínhamos que buscar - a pé - nos bairros mais próximos”, completa.

Fomos então à Igreja da Praça, ou melhor dizendo, à Igreja Nossa Senhora de Fátima, construída  entre  os anos de 1974 e 1977, pelo Pe. Josef Sianko. Em 2004, ela sofreu uma restauração promovida por iniciativa do Pe. Francisco Cisbin e dos moradores do próprio bairro, que contribuíram financeiramente na obra. Ela foi reinaugurada pelo Arcebispo Metropolitano Dom José Cardoso Sobrinho, em 6 de janeiro de 2005. A construção ficou sob os cuidados da arquiteta Pratrícia Grabielli B. Campello e o engenheiro Lonardo Alves S. de Sá. Atualmente, a igreja está sob o comando do Padre Robson Barros.

Praça da Igreja Nossa Senhora de Fátima
Ao entardecer, despedimo-nos de San Martin. Isso se deu com o sentimento de que ainda podemos encontrar lugares onde a agonia de uma cidade grande não sobrepõe a serenidade da vizinhança. É possível vermos moradores em suas calçadas passando o resto do dia conversando ou até mesmo usufruindo das praças. Essas coisas que nem imaginávamos ser possível encontrarmos aos arredores da grande Recife, tornaram-se realidade nesse bairro, que deixará saudades. 

Moradores jogando dominó na Praça San Martin


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