Meu bairro... moro aqui
Cajueiro
Texto Raquel Freitas
Fotos Vitor Chaplin
Praça Tobias Vitorino |
Nascido no limite entre Recife e Olinda, o bairro que visitamos nesta edição da Agenda Cultural do Recife deixou a timidez da sua existência para nos apresentar um lado bem peculiar dos seus confins. Aparentemente, assim como os outros bairros, Cajueiro é um local comum. Sem atrativos a olho nu, ele chega a passar despercebido aos nossos olhares. Mas, uma vez convidado a entrar, a vontade de sair é quase remota. Isso porque as ruas, as praças, os olhares dos moradores, as casas e a paisagem quase que bucólica é um chamado para resgatarmos uma das relações mais genuínas da vida: o contato com o próximo. Nesta “nova” Era, onde as pessoas se isolam do contato humano, talvez pela demanda cotidiana, Cajueiro nos dá um bom exemplo de como agregar essas atividades à nossa rotina.
Principal acesso ao bairro - Av. Sebastião Salazar |
Para iniciar a nossa viagem pelo universo simples e particular dos cajueirenses, seremos guiados pelo carnavalesco e morador do bairro há 64 anos, Everaldo Albuquerque. Se considerarmos que o tempo de moradia seja equivalente às histórias, que serão rememoradas, teremos pela frente momentos singulares e cruciais que construíram diretamente o bairro (quando este era ainda conhecido como Sítio do Cajueiro pertencente ao João Valente). Confundido por vezes com Cajueiro Seco do município de Jaboatão dos Guararapes, os dois bairros ficam ao extremo da cidade. Agora, com essa questão já esclarecida, podemos então embarcar pelas ruas e vielas desse local tão sossegado e familiar, cujo nome é somente Cajueiro.
Restaurante Pioneiro da Fava |
Com o roteiro dos lugares nas mãos e já com as histórias emplacadas, o nosso guia nos leva até o restaurante Pioneiro da fava, um dos mais antigos do bairro com aproximadamente 40 anos de tradição, localizado ainda na entrada de Cajueiro (Av. Sebastião Salazar). “Marcos, um amigo meu, tinha uma barraquinha aqui de lado, passou pra aqui [local atual] e botou [local para vender] verdura, daí ele fez A fava. Depois veio Júnior, amigo nosso também, com uma visão bem maior e criou isso aqui”, relembra Everaldo.
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Após a visita ao ACA, partimos para a praça que carrega o nome e a história de um antigo morador: Seu Tobias. Em frente à praça, ainda mora sua família. Ao chegarmos na antiga casa, logo houve a mobilização dos integrantes para saber a real data de registro da Praça Tobias Vitorino. Depois de um telefonema da vizinha para um dos seus filhos, ficamos sabendo que a sua construção se deu dois após o falecimento do patriarca Vitorino, ou seja, há 16 anos. “Ele fez a planta da praça. O sonho dele era realizar esta praça. Então desde o momento que ele não alcançou, tomamos as devidas providências para realizar o sonho dele”, afirma a filha Marilene Vitorino.
Igreja de São Judas Tadeu |
Extinto Cine Cajueiro dá espaço à uma igreja evangélica |
Escola Jarbas Pernambucano |
Cercado por histórias, cada parte de Cajueiro é digno de uma parada. Saindo da autêntica padaria cajuerense, com ares portugueses, aportamos na Praça do Seu Dioclécio, mais conhecida como Praça do Jarbas. A praça ganha forma no cruzamento da Sebastião Salazar com a Rua Barão de Tamandaré. A nomeação da Praça do Jarbas se deu pela existência do colégio na mesma rua:Colégio Jarbas Pernambucano. Mas, nem sempre, aquela praça foi um recanto de encontros. Ali, residia um dos primeiros moradores de Cajueiro, o Seu Dioclécio. “Aqui, tudo era um lamaçal só por conta do Rio Beberibe. Aqui, morava Seu Dioclécio, embaixo da casa dele tinha uma cacimba”, conta o guia.
Travessia pelo Rio Beberibe |
Assim como a casa do Seu Dioclécio um dia foi banhada pelas águas do Rio Beberibe, o bairro ainda tem esse privilégio. O Beberibe não é conhecido como um cartão postal do Recife, mas ele tem tanta importância quanto qualquer ponto turístico. Atualmente sujo e maltratado, o rio quer ser visto, mas não consegue. Pelos arredores, os matos e o lixo tomam conta da sua pouca existência. “Esse rio era muito limpo. As águas eram límpidas, tinha muito pé de caju ao redor dele, a gente jogava uma moeda e dava para ver ela no fundo. Agora, vocês veem como estão”, lamenta Everaldo. É nesta paisagem habituada que os moradores ergueram suas casas. A vista poderia ser melhor se o rio fosse bem cuidado, mas infelizmente a imagem do sofá beirando o rio pode ser a única fotografia desse momento. Muitos não refletem, mas é de lá que famílias tiram seus sustentos. É através da margem do rio que muitas pessoas são transportadas, diariamente, do Recife até Olinda por meio da canoa improvisada da Dona Maria Aparecida,que é conduzida pelo remador Alexandre. “Estamos aqui há quase trinta anos fazendo benefício ao povo”, afirma Aparecida, que há esta hora já está em cima da canoa conosco. Seu Everaldo ainda completa: “Antes de existir essa passagem aqui, só tinha a passagem lá no Cabo Gato”(Espaço cuidado pelo morador, cuja identidade era conhecida como Cabo Gato. Ele dividia o espaço no rio para os homens e as mulheres tomarem banho).
Depois do passeio navegante pelo rio, seguimos sentido à Rádio Jovem Cap, antiga Rádio Capibaribe. Localizada em frente à extinta Praça Capibaribe, que hoje está sendo construída a Academia da Cidade, a rádio foi inaugurada em 1960. Após sete anos de transmissão, o nome foi modificado para o atual devido à efervescência do movimento da Jovem Guarda. Foi a partir dessa premissa que a nova rádio, com o novo nome, instaurou-se, modificando a sua programação com foco em um público mais jovem. Pela redondeza desse mesmo local, outros empreendimentos dão vida a demanda necessária do dia a dia. Na mesma rua da rádio, Rua Cel. Urbano Ribeiro de Sena, o primeiro mercadinho abastece há 29 anos as famílias cajueirenses: o Mercadinho Capibaribe, cujo dono é o antigo morador Coronel Jerônimo Tavares.
Nosso guia Everaldo Albuquerque |
Chegando ao fim da nossa expedição, encontramos duas Praças que recebem o nome da avó e da mãe do Everaldo. A primeira foi a Praça Maria Pereira, criada por Dona Alice, em homenagem a sua mãe. Situada no cruzamento das ruas Maria Cristina T. de Souza e a Couto Soares, ela é conhecida como a Praça do Terminal. Mas assim como a ACA, o espaço é fruto da luta de Alice Albuquerque por um lugar onde se pudesse criar e apresentar peças de teatro. Segundo Everaldo, sua mãe alegava falta de um lugar “para fazer os espetáculos e também as apresentações de pastoril”.
Assim como fez Dona Alice Albuquerque por Dona Maria Pereira, seu filho Everaldo fez o mesmo. Com o intuito de deixar registrado o nome da mulher que tanto fez por Cajueiro, ele decidiu estruturar um espaço, localizado na bifurcação da Rua Couto Soares com a Adolfo Simões, que trouxesse benefícios de lazer para a comunidade. Conhecida como Praça da Rodinha, devido a uma mesa de madeira construída por eles em formato circular, o nome e a história de Dona Alice Albuquerque passa a fazer parte dos momentos de diversão dos moradores, seja numa partida de dominó ou numa simples conversa.
Praça Alice Albuquerque |
Depois dessa visita, Cajueiro nos deixa a mensagem de que um bairro não é uma construção de casas consecutivas. A definição de bairro vai muito além desses clichês. Cajueiro em sua essência nos mostrou um bairro sinônimo de comunidade, local onde as pessoas se reúnem, encontram-se e se renovam a cada ganho. É com esse espírito familiar que Cajueiro dá as boas-vindas ao novo ano, fazendo-nos refletir sobre a relação que devemos manter com o próximo.
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ResponderExcluirSeria interessante uma pesquisa sobre Sr. Salazar que nomeia a principal avenida do bairro
ResponderExcluirRelevantes comentários sobre o bairro, porém faltou falar sobre o campo, o sítio, as enchentes, os aterro no campo do aca, as favelas as margens do rio e do campo, sobre as ajudas de dom Helder as vítimas das enchente de cajueiro, o antigo nome da rua Nova Betânia, era rua são Sebastião,devido a um morador que fez muitos benefícios na citada rua nós anos 60/70.
ResponderExcluirA história sobre o Pioneiro da Fava NÃO é essa...
ResponderExcluirsou filho do fundador.
Meu pai senhor Gildo José de Albuquerque, fundou e trabalhou 20 anos... ele arendou o Pioneiro da Fava a Júnior nos anos 2000, e fazem 19 anos que Júnior estar lá.
Esta Igreja foi construída pelo meu tio Padre Valdenito Lins de Oliveira.
ResponderExcluirInicio da Construção próximo do ano 1950. Que Saudade. O seu projeto
inicial era para ser circular e bem maior.
Bela lembrança de Don Helder Câmara feita por UNKNOWN, ele tomava café
ResponderExcluirna casa de minha Avó Dona Noemia, Mãe do Padre Valdenito meu tio e idealizador
da igreja. Don Helder Genial meu Tio Meu Guru. Eles eram fantásticos.
Faltou registrar o Colégio Comercial do Cajueiro. Ginásio pioneiro do bairro. De 1968 até 1982. Desfiles , gincanas, concursos e campeonatos.
ResponderExcluirVocês não sabem o tamanho a minha felicidade rever a história do bairro de Cajueiro onde passei minha infância, adolescência e sair casado de lá. Fiz o primário na Escola Comercial de Cajueiro, o ginásio no Jarbas Pernambuco, joguei pelo Aca e na quadra do terminal ( futebol de salão), participei de muitas atividades incluindo levando tijolos pra construção da igreja São Judas Tadeu, assisti a copa de 70 no palanque montado pela prefeitura ao lado da igreja, dancei o pastoril masculino de D.Alice mãe de Everaldo meu amigo, chegando a nos apresentar no canal 2 do apresentador Jorge Chau . Nessa época já estava servindo a Aeronáutica. Agradeço a Deus por todos amigos que participaram de uma parte da minha história de vida. Saudade de todos. GUARACY SANTIAGO.
ResponderExcluirGostaria q comentasse sobre o Ginasio Comercial de Cajueiro, q foi seu 1 nome em 1968.
ResponderExcluirEu Marcio, Gerson,Marcelo,Pedro Marques, João Geraldo, Djalma, Chorão,liomar Priscila, Socorro, Regina, Luzia, Socorro, Lígia, Edmar, Adaltina, Dona silvia, Raul, Abniedja, Betânia, Nadjanei, Vera, e tantos e outros.
Vale à pena lembrar.
Grande saudade do bairro de Cajueiro onde vivi dos anos 69 até 75, os melhores de minha vida, Estudei no Jarbas Pernambucano, comprava plantas nas chácaras que ficavam na rua Arão Botler onde também tinha uma vacaria. lembro de Seu Criança que alugava bicicleta, Minha casa ficava na rua Belo Horizonte, 201, meu pai quem construiu. No ano de 2018, estive lá para mostrar à minha filha o local onde morei e visitei as ruinas da casa, fiquei muito triste em ver aquela casa deteriorada, mas, o banheiro ainda estava preservado como mesmo azulejo que meu pai encomendou com uma paisagem do mar. São muitas recordações boas para lembrar...Quantas saudades.
ResponderExcluirNinguém mora naquela casa? Tá completamente abandonada?
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