Orquestra Criança Cidadã leva mensagem de paz a Hiroshima 80 anos após a bomba atômica

Crédito: Augusto Cataldi/Orquestra Criança Cidadã/Divulgação
 

Projeto social do Recife se une a jovens músicos de países em conflito em turnê internacional que celebra a fraternidade e alerta para a urgência da paz mundial


Enquanto a cidade japonesa Hiroshima retém o silêncio cúmplice das suas memórias, cordas, madeiras, metais e percussão irão contar outra história, a da esperança, da reconciliação e da urgência da paz. No palco simbólico de reconstrução e resiliência humana no Parque Memorial da Paz, e no YMCA International Cultural Center, jovens músicos da Orquestra Criança Cidadã, uma instituição social pernambucana, se unem no próximo sábado (4) a outros artistas vindos de países em conflito (Rússia, Ucrânia, Israel, Irã, Coreia do Sul e Coreia do Norte), em um “Concerto pela Paz”, uma sinfonia pela vida e pela fraternidade que transforma a música em gesto de resistência ao ódio e à destruição.


A escolha de Hiroshima não é por acaso. Em 6 de agosto de 1945, às 8h15, quando a primeira bomba atômica caiu sobre a cidade, aproximadamente 140 mil pessoas morreram até o fim do ano devido à explosão, às queimaduras e à contaminação radioativa e desse episódio trágico torna-se essencial recordar não apenas o horror, mas também a urgência de impedir que a história se repita. 


Em agosto de 2025, a cidade japonesa celebrou esse 80º aniversário com cerimônias silenciosas, orações, homenagens aos sobreviventes e apelos uníssonos pela eliminação das armas nucleares. Autoridades, visitantes e descendentes de vítimas convocaram o mundo a reafirmar compromissos com o desarmamento e a responsabilidade global. 


É nesse cenário carregado de dor, mas também de esperança, que a Orquestra Criança Cidadã, projeto recifense de inclusão pela música, assume um papel simbólico e emocionante. Nascida em 2006 no coração da comunidade do Coque, território que por muito tempo foi associado à violência e à exclusão social, mas que hoje respira um cotidiano mais tranquilo, a orquestra carrega em sua história a prova de que a música pode transformar realidades, como resposta ao silêncio imposto pela desigualdade. 


Desde então, atua em áreas vulneráveis da Região Metropolitana do Recife, oferecendo aulas com diversos instrumentos, apoio pedagógico, psicológico, médico e odontológico, além de alimentação e inclusão digital. Hoje, são cerca de 450 jovens beneficiados, em três núcleos, distribuídos no Recife, em Ipojuca e em Igarassu, além da Escola de Formação de Luthier e Archetier, que forma construtores e reparadores de instrumentos.


CONCERTOS PELA PAZ: NA ARTE NÃO HÁ GUERRA


Para compor a delegação internacional da turnê Concertos pela Paz em 2025, a orquestra recifense realizou audições às cegas e selecionou 11 jovens músicos brasileiros com idade entre 16 e 22 anos, aos quais se juntam maestro e professores. Eles compartilham o palco com representantes de cada país convidado: iranianos, israelenses, russos, ucranianos, coreanos das duas Coreias.

O concerto, de cerca de 70 minutos, será dividido em duas partes: a primeira, “Comunidade de Pessoas”, inclui obras como as Bachianas Brasileiras nº 4, de Villa-Lobos, e o Concerto para dois violinos em Ré menor de J. S. Bach. A segunda, “Música Latino-Americana”, enfatiza ritmos e percussão, com peças como Fuga y Misterio (Piazzolla) e termina com um medley de sambas e frevo pernambucano, celebrando a diversidade cultural brasileira.

Além de Hiroshima, a turnê Concertos pela Paz percorre outros pontos estratégicos na Ásia e na Europa, levando a mensagem de fraternidade e diálogo entre nações. Em Seul, na Coreia do Sul, a primeira apresentação aconteceu no Youngsan Art Hall. Em Osaka, no Japão, o concerto acontece após a de Hiroshima, na Expo 2025, no Pavilhão Brasil, simbolizando a conexão entre culturas e a importância de propagar valores de convivência pacífica em eventos internacionais de grande visibilidade. O encerramento da turnê será no Vaticano, com apresentação na Praça São Pedro diante do Papa Leão XIV, no dia 8 de outubro, um gesto de grande significado simbólico. 

A violência, afinal, é abrangente. Não se limita a explosões e bombas, ela se insinua também nas desigualdades, nas exclusões, nas feridas deixadas pela miséria e pela injustiça. O concerto é uma mensagem viva, urbana, jovem, audível. É um lembrete de que a paz não é uma palavra distante, mas um movimento que deve ser cultivado no cotidiano e compartilhado. As cicatrizes de Hiroshima, visíveis ou invisíveis, são um alerta para as novas gerações. Ao levar jovens de países historicamente divididos a tocarem lado a lado, a orquestra faz do palco um espaço para mostrar que a paz pode ser cultivada, ensaiada e celebrada, mesmo em contextos marcados por conflitos e tragédias.

SERVIÇO

Turnê Concertos pela Paz 

Hiroshima: 

- Parque Memorial da Paz, 04/10, às 11h (horário local) - Nakajimacho, Naka Ward, Hiroshima, 730-0811

- Hiroshima YMCA International Cultural Center, 04/10, às 18h30 (horário local) - 7-11 Hatchobori, Naka Ward, Hiroshima, 730-8523

Osaka:

- Pavilhão Brasil da Expo Osaka 2025, 05/10, às 17h (horário local) - Yumeshima Artificial Island(Konohana-ku, um distrito de Osaka)

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