O Véio Mangaba se autoanalisa em O Velho em Con (s) erto

O Velho em Con(S)erto  - Li Buarque-Nuvon


Espetáculo em formato de ópera contemporânea com texto de Walmir Chagas e Armando Lôbo estará em cartaz no Teatro Marco Camarotti


A roda-viva do tempo é tal qual a gigante, dos parques: a cada momento, nos deixa em um lugar diferente. E cada espaço ocupado permite uma nova perspectiva da realidade. Diferente dela, entretanto, o tempo não se move sempre, e para todos, na mesma velocidade. De maneira que adequar-se aos novos tempos é um desafio desde muito tempo. Talvez nunca, entretanto, velhos e jovens tenham compartilhado mudanças tão radicais em tantas instâncias quanto agora: tecnológicas, ambientais, sociais e comportamentais. Uma temática trazida à tona na cena teatral por ninguém menos do que um personagem tradicional do universo cultural pernambucano: o Véio Mangaba. O Velho em Con(S)erto, escrito e encenado pelo multiartista Walmir Chagas, estará em cartaz, dentro da programação do Festival Janeiro de Grandes Espetáculos, nos dias 15 e 16 de janeiro, no Teatro Marco Camarotti, Santo Amaro, às 19h30. A ópera contemporânea experimental inspirada no brinquedo do Pastoril de Ponta de Rua (ou profano) procura destacar o caráter interdisciplinar da ópera, combinando tons pernambucanos com técnicas inovadoras da música de concerto contemporânea e teatro popular. O projeto tem apoio do Sistema de Incentivo à Cultura (SIC) do Município do Recife e ingressos à venda tanto no Sympla e site www.janeirodegrandesespetaculos.com - quanto na bilheteria do teatro, 1h antes dos espetáculos.

Sobre o projeto - Com o libreto (texto) do multiartista Walmir Chagas – em conjunto com Armando Lôbo, o espetáculo toma como ponto de partida a jornada anárquica e eclética das antigas Funções dos Pastoris tradicionais, incorporando referências literárias e musicais que ressaltam o aspecto paródico do Pastoril. Em O Velho em Con(S)erto, o velho truão ou Bedegüeba enfrenta uma crise existencial e de identidade, representando uma metáfora da vida e da necessidade de renovação da cultura popular conservadora.

Em cena, o Velho contracena com as ninfas / pastoras: Anastácia Rodrigues (mezzo) e Karla Karolla (soprano). Na trama, rebela-se contra seu criador, reivindicando sua existência autônoma e real, recusando-se a ser uma mera criação ficcional. As pastoras líricas reagem acusando-o de sexismo e o diálogo entre eles - em prosa, verso e música - desdobra-se em reflexões anárquicas sobre liberdade e empoderamento feminino. A obra culmina em uma celebração carnavalesca que afirma a cultura brasileira e nordestina, dentro de uma perspectiva de ópera contemporânea e experimental. Trata-se não de uma opereta popular, mas uma ópera radicalmente contemporânea, com escrita musical erudita, criada pelo renomado professor e maestro Armando Lôbo, que acolhe a música tradicional pernambucana propondo uma regionalização consciente do gênero.


Objetivo/Justificativa – o espetáculo surge buscando renovar a linguagem do pastoril profano nordestino, integrando-a com a música de concerto, a literatura e o teatro. Além disso, visa atualizar sua temática, estendendo o potencial de crítica social para questões contemporâneas. Objetiva, ainda, a realização de uma oficina de Pastoril Profano conduzida por Walmir Chagas – O Véio Mangaba com data a definir.

Os produtores acreditam que Pernambuco carece de experiências operísticas que integrem aspectos da cultura nordestina e revelem novas possibilidades estéticas e técnicas. “A produção operística no Estado tem se concentrado principalmente no repertório tradicional europeu ou na ópera brasileira com estética musical historicamente defasada e encenação convencional. Além de renovar a dramaturgia operística em Pernambuco, O Velho em Con(S)erto visa preservar o patrimônio cultural local. O Pastoril Profano é um gênero popular em risco de extinção, com menos de dez artistas interpretando ocasionalmente o Velho do Pastoril na Região Metropolitana do Recife, enfrentando falta de espaço e visibilidade”, afirma o produtor do espetáculo, Pedro de Castro.

Outra questão relevante é a manutenção de padrões sexistas em algumas piadas e posturas dos Velhos, o que não é mais aceito em uma sociedade que busca constante emancipação, O Velho em Con(S)erto propõe transcender essas questões, focando em uma brincadeira pura e democrática, utilizando um tratamento musical polimórfico que mistura tradição popular com música de concerto e inovações da música eletrônica. “A referência à obra de Pirandello propõe uma metalinguagem no Pastoril, com o meu personagem atuando como uma crítica ao seu próprio criador, discutindo os aspectos positivos e negativos de seu legado. O projeto está seguro de seu ineditismo e da relevância de combinar a estética musical da ópera erudita contemporânea com a cultura popular de maneira criteriosa, aberta e esteticamente conceitual”, afirma Walmir Chagas.

Sobre o artista - Walmir José Oliveira das Chagas é um artista versátil, com uma carreira multifacetada como ator, músico, cantor, compositor, roteirista, poeta, palhaço e pesquisador de arte. Como o Véio Mangaba, personagem dos pastoris profanos do Nordeste, Walmir une seu conhecimento erudito às raízes populares, criando performances cômicas e inventivas.

Desde cedo, aos oito anos, frequentava circos mambembes nos arredores do Recife, onde começou a aprender a arte do palhaço. Nos anos 70, destacou-se na TV ao vivo, cantando, dançando frevo e atuando em contos infantis na TV Jornal do Commercio. Em 1975, ingressou no “Teatro Escola de Pernambuco”, o que impulsionou sua carreira artística. Como primeiro solista do Balé Popular do Recife e um dos fundadores da trupe, acumulou inúmeras apresentações de dança popular no Brasil e no exterior. Na música, fundou o Trio Romançal Brasileiro com Antúlio e Antero Madureira, viajando pelo país e pelo mundo.

Espetáculos como “Sou Feio e Moro Longe”, “Pastoril do Véio Mangaba”, “Saudosiar... Uma Noite Insone de Um Palhaço” e “No Tablado do Véio Mangaba” lhe renderam aplausos, críticas positivas e prêmios, incluindo o de Melhor Ator na 22ª edição do Festival Janeiro de Grandes Espetáculos. Em 2020, durante a pandemia, Walmir reinventou-se, dedicando-se à literatura e criando oito textos teatrais, além de haikais, ensaios, poemas e crônicas.

Seu personagem Véio Mangaba é oriundo dos tradicionais pastoris profanos do Nordeste. Com malícia, esperteza, crítica e humor, incorpora elementos do circo, do teatro e da música. Surgiu em 1982, pelo multiartista Walmir Chagas, como homenagem aos velhos Faceta e Barroso, mestres do pastoril de Pernambuco.

Em "Amor Paregórico", Walmir teve grande sucesso no Festival Internacional de Teatro (FIT), em Belo Horizonte, resultando no lançamento do CD "Véio Mangaba e Suas Pastoras Endiabradas", pelo selo Geleia Geral de Gilberto Gil, com distribuição da Warner Music Brasil. Desde então, o Véio não parou, apresentando espetáculos como Mangaba com Catuaba, Sou Feio E Moro Longe - A Saga De Um Pobre Star, O Pastoril do Véio Mangaba, dentre outros.

Desde 2002, com o selo fonográfico Mangaba Produtos, produziu e participou em diversas obras, como "Véio Mangaba - 20 Grandes Sucessos das Paradas de Ônibus", "Motorista de Táxi", "Meditação através dos Sons e das Cores", "Alquimia Maluca", "Cantigas de Roda", "Amor, Folia e Brincadeira", "Água, Festa e Baião", "Pernambucarnaval", "Nem Sempre Lili Toca Flauta", "Orquestra da Bomba do Hemetério - Ao Vivo", "Bacia D’Água" e "Politicamente Incorreto". A obra do Véio Mangaba é vasta e diversa, conquistando fãs em todo o Brasil.

Serviço: 
Local:  TEATRO MARCO CAMAROTTI
Endereço: R. Treze de Maio, 455 - Santo Amaro, Recife - PE, 50100-160
Data e hora: 15/01/2025 às 19h30 e 16/01/2025 com suas sessões, sendo uma às 16h e outra às 19h30
Classificação: 16 anos
Duração: 50 minutos
VALORES: INTEIRA R$ 30,00 e MEIA R$ 15,00


SINOPSE:
O Velho em Con(S)erto é uma ópera contemporânea experimental que une o Pastoril Profano à música erudita. Com libreto de Walmir Chagas, música de Armando Lôbo e produção de Pedro Castro, a obra explora crises existenciais e culturais do Véio Mangaba em meio a pastoras líricas e críticas sociais. Em uma jornada irreverente e lírica, o espetáculo celebra a cultura nordestina enquanto propõe uma renovação artística e um diálogo entre tradição e vanguarda.


FICHA TÉCNICA:
Produção Geral: Pedro Castro
Libreto: Walmir Chagas e Armando Lôbo
Música e Direção cênica: Armando Lôbo 
Diretor de Arte e Assistente de Direção Cênica: Cleusson Vieira
Ator: Walmir Chagas (o Véio Mangaba)
Ninfas / Pastoras: Anastácia Rodrigues (mezzo) e Karla Karolla (soprano)
Músicos: Ewerton Cândido (flauta); Gueber Santos (Clarinete); Gilson Filho (violino); Pedro Huff (violoncelo) e Hugo Medeiros (percussão)
Participações Especiais: Marcos Brandão (Velho Mingonga e Psicanalista); Silessier Araújo (Véi Lumbrigueta); Carlos Amorim (Velho Cafuné); Valdir Nunes (Velho Maroto); Beto Filho (Velho do Mangaio)
Coreografia das Ninfas / Pastoras: Anastácia Rodrigues
Consultoria de Movimento: Célia Meira
Concepção e Operação de Luz: Eron Villar
Assistente de Produção: Sayonara Silva
Incentivo: SIC – Sistema de Incentivo à Cultura do Município do Recife 2021/2022

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