Oficina Francisco Brennand lança livro que sintoniza trajetória cinquentenária do museu a novos horizontes
No labirinto do sonho Ensaio de Sofia Borges a partir da obra de Brennand_2021 |
Foto: Sofia Borges/Divulgação
Com lançamento nesta terça-feira (11), data de aniversário do artista (que faria 97 anos), “No labirinto do sonho – 50 anos da Oficina Francisco Brennand” historiciza, discute e traz novos prismas ao espaço criado na Várzea, que terá entrada gratuita neste dia
“O futuro tem um coração antigo.” É o que Francisco Brennand fez questão de nos lembrar ao grafar a frase do poeta e pintor Carlo Levi em uma das paredes de sua Cidadela, no espaço que leva seu nome, no bairro da Várzea. A história da instituição é tema das 304 páginas do livro “No Labirinto do Sonho – 50 anos da Oficina Francisco Brennand”, que será lançado nesta terça-feira, 11 de junho, a partir das 14h, no Teatro Deborah Brennand, dentro do museu.
Compondo a programação da OFB neste junho, e celebrando o legado e as diversas conexões do artista, a obra recém-lançada na Gomide&Co Galeria, em São Paulo, ganha agenda de lançamento no Recife no dia do aniversário de Francisco Brennand (11/6), quando o museu abre gratuitamente aos visitantes. Refletindo sobre meio século de um dos espaços artísticos mais emblemáticos do País, a partir de uma perspectiva porosa, o livro é capaz de engendrar um pensamento contemporâneo ao legado do ceramista, muralista, escultor, pintor, desenhista e escritor pernambucano, criador do espaço-monumento ao qual dedicou boa parte da sua vida, entre a Olaria, o Ateliê e os espaços abertos.
A publicação foi organizada por Ariana Nuala (gerente de Educação e Pesquisa da Oficina), Júlia Rebouças (ex-diretora artística da instituição) e Olívia Mindêlo (gerente Artística do museu) e chega agora às prateleiras como fruto da consolidação da Oficina Francisco Brennand como instituto, criado em 2019, pouco antes da morte do seu patrono (1927-2019). O livro assinala ainda um ciclo comemorativo iniciado em 2021, ano oficial do cinquentenário, mas vai além da data, costurando diferentes tempos e olhares, a partir de um conteúdo de textos e imagens de gêneros e estilos distintos, inéditos ou em reedição.
Afastando-se de uma cronologia linear, “No Labirinto do Sonho” adota uma perspectiva de espiral, tomando emprestado a própria ideia de “labirinto de esculturas” criada pelo artista, enquanto erguia sua Oficina, e atualizando-a a partir das múltiplas entradas que compõem essa história desde ontem, ou hoje. “Esse não é um catálogo institucional, no sentido estrito do termo. É um livro para leitura, pesquisa e contemplação; um produto editorial pensado em profundidade e amplitude, e que fala da Oficina e dos muitos temas que a atravessam há mais de 50 anos.
Abordando diferentes olhares para esse lugar, trazemos uma reflexão contemporânea, falando sobre vários tempos e assuntos que envolvem esse espaço de criação e difusão. É um material que lança uma mirada artística, autoral e crítica sobre seu objeto”, afirma Olívia Mindêlo, coordenadora editorial do livro e gerente artística da instituição.
Com projeto gráfico assinado por Elaine Ramos (Cosac Naify, Ubu Editora), o volume adensa excelência editorial e visual para contar a trajetória de uma instituição de arte cuja história é única no Brasil, indo do percurso industrial ao artístico. Para tanto, é composto por textos de autores com diferentes atuações e saberes no segmento cultural.
O livro é dividido em quatro tomos, a partir de um único volume. São eles: “A ruína como princípio”, “Um fio que tudo perpassa”, “O poder do fogo e das formas” e “Um chamamento de arco”, que, em conjunto ou em separado, fazem um franco convite à imersão na complexidade, nas nuances e nas transformações da Oficina. A publicação é costurada ainda pelos escritos de Francisco Brennand, através de fragmentos originais do seu Diário e de entrevistas, impressos nas aberturas dos tomos e nos ensaios visuais do livro.
Comissionados pela Oficina e realizados no espaço, em diferentes épocas, os ensaios visuais compõem cadernos autorais de fotografias ao fim de cada tomo, assinados por Fritz Simons (1970-1980), Mauro Restiffe (2021), Ruy Teixeira (2021) e Sofia Borges (2021), respectivamente. Resultado de uma curadoria criteriosa da equipe do livro, os conjuntos amarram editorialmente o livro em sua pluralidade e autoralidade.
“Apostamos na convergência de saberes e narrativas complementares, transformando o museu em um espaço de diálogo contínuo", aponta o presidente da Oficina, Marcos Baptista Andrade.
Tomo a tomo
Explorando a ruína como um conceito fundamental que inaugura e permeia a história da Oficina Francisco Brennand, o primeiro tomo sublinha as origens desse espaço nascido em 1971, a partir do que restou da Cerâmica São João, fábrica de telhas e tijolos criada pelo pai do artista em 1917. Essa entrada numa história que “começa pelo fim de algo” se dá sob formas e perspectivas diferentes, indo desde o texto de alguém que cresceu na Oficina (e olha para ela a partir do hoje) até uma mirada profética desde 1970. O conteúdo do tomo 1 traz textos de Ariana Nuala e Olívia Mindêlo, Fernando Almeida, Maria Helena Brennand e Neném Brennand, Livia Debbane, Helcir Roberto, Marinez Teixeira e Renato Carneiro Campos.
O segundo tomo, “Um fio que tudo perpassa”, observa as narrativas entrelaçadas em torno da vida e obra de Francisco Brennand desde suas inspirações mais profundas, com ensaios e textos curatoriais de aspectos que dão alicerce e identidade à Oficina. Para isso, aborda o criador e a criatura como algo simbiótico, perpassando um olhar sobre a atuação do artista em várias frentes, a partir de visões políticas, sociológicas e estéticas. Nesse sentido, considera seu legado como moderno e singular no Brasil. Eduardo Dimitrov, José Brito, César Leal, Ariano Suassuna, Frederico Morais, Julieta González e Lina Bo Bardi assinam os textos.
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