Mamulengo nas redes sociais em tempos de pandemia é tema de estudo

O ator e pesquisador Alex Apolônio

Um estudo e um podcast com quatro episódios sobre o convívio dos mamulengueiros tradicionais do interior de Pernambuco com as tecnologias sociais durante a quarentena foram lançados pelo ator, bonequeiro e dramaturgo, Alex Apolônio, através do programa Cultura em Rede Sesc Pernambuco. A produção dá início à pesquisa mais aprofundada sobre as alterações na dramaturgia e vida dos mestres e bonequeiros desde o contexto sociopolítico da pandemia do Covid-19. O que têm vivido os artistas desde suas casas na Zona da Mata até o universo virtual das redes sociais e plataformas digitais - Zoom, GoogleMeet, Instagram, Facebook, Whatsapp - abre um capítulo surpreendente na manifestação dessa arte centenária. 

Na verdade, o contexto de mudanças políticas e sociais vem tocando a vida dos mamulengueiros desde o golpe em 2016 e a continuidade no governo Bolsonaro de desmontes na Cultura, como a redução do status de Ministério da Cultura para uma secretaria, por exemplo. As mudanças atingem os brincantes e só não são mais graves pelo histórico investimento do governo estadual em cultura popular. No entanto, a coisa apertou com a quarentena e os fechamentos dos espaços de convívio (como ateliês), o corte de eventos importantes no sustento das famílias, como a Feneart e o FIG, e as apresentações restritas ao universo online. A reinvenção precisou vir de todos os lados. Desde as questões estruturais da vida até à dramaturgia do brinquedo”, analisa Alex Apolônio.

Mamulengo Teatro Riso, de Glória do Goitá com Alex

O pesquisador ressalta que os desafios de uma comunicação mediada por telas e internet se apresentam para além de acessar a complexa estrutura que vai desde a aquisição de computadores/smartphones, passando pela contratação de serviços de internet banda larga e/ou 4G, instalação e atualização de softwares, e criação de perfis nas redes sociais (o que nem sempre é algo acessível e prático). Há também o processo de compreensão da dinâmica relacionais e estratégias de alcance de público dentro dessas redes. “De modo geral, essas dificuldades de acesso ao universo digital passam por questões relacionadas à renda, letramento e inclusão digital”, diz. 

Outro gargalo é a própria dramaturgia que, nesta linguagem, está o tempo inteiro trabalhando com a presença e retorno do público. “O principal da apresentação do mamulengo não é só os bonecos são as pessoas! Porque todo o desenvolvimento da apresentação está relacionado às pessoas. Tem a história? Certo, tem a história! Só que o mamulengueiro mexe com todo o público. Fica até meio complicado fazer uma apresentação só pra frente de uma câmera e não ter aquele contato com as pessoas, não escutar os aplausos, não escutar as risadas, não escutar as pessoas reclamando com os bonecos... é bem complicado…”, diz a brincante Larissa Lopes, do Mamulengo Teatro Riso, de Glória do Goitá em um dos podcasts.  

Tendo este formato como a única opção viável para manutenção do sustento, a arte do mamulengo segue se moldando e recriando em novo formato, seja em plataforma própria ou de prefeituras e acabam por experimentar também as oportunidades que surgem. “Em uma das lives que a gente fez, a gente nem imaginava que tava chegando lá. Reunimos um público muito, muito amplo e diverso. A gente viu gente daqui do estado, daqui da cidade, gente de outras cidades, de outros estados, de outro país! Então de certa forma ampliou mais ainda! Ampliou esse conhecimento, as pessoas saberem que a gente está aqui, que a gente está fazendo esse trabalho”, alegra-se a brincante Cida Lopes, do Mamulengo Teatro Riso, de Glória do Goitá.

Para Alex, as mudanças que agora fazem parte de toda uma reestruturação de olhar e fazer são neste momento acontecimentos para uma observação atenta, ampla e de cuidado. O olhar do pesquisador que sabe que os impactos das mudanças serão lidos com mais substância daqui a alguns anos. E segue acompanhando a reinvenção desta expressão: “é na capacidade de adaptação do Mamulengo que reside sua força renovadora, é ela que o mantém em constante processo de diálogo e auto atualização tanto com os costumes e tradições onde subsiste, quanto os novos desafios das relações tecnovíviais de uma sociedade globalizada em pleno século XXI”.

SERVIÇO

Link para artigo: 

https://www.sescpe.org.br/wp-content/uploads/2020/07/Artigo-RETIFICADO.-Mamulengo-em-Tecnovivio.-por-Alex-Apolonio..pdf

Link para podcats: 

#CulturaEmRedeSescPE #Transborda Fala Mamulengo #1

https://podcasts.apple.com/us/podcast/culturaemredesescpe-transborda-fala-mamulengo-1/id1517641043?i=1000494869210 

#CulturaEmRedeSescPE #Transborda Fala Mamulengo #2

https://podcasts.apple.com/us/podcast/culturaemredesescpe-transborda-fala-mamulengo-2/id1517641043?i=1000494869209 

#CulturaEmRedeSescPE Fala Mamulengo #3

https://podcasts.apple.com/us/podcast/culturaemredesescpe-fala-mamulengo-3/id1517641043?i=1000495682717 

#CulturaEmRedeSescPE Fala Mamulengo #4

https://podcasts.apple.com/us/podcast/culturaemredesescpe-fala-mamulengo-4/id1517641043?i=1000495692820 

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