A Revolução de 30 do ponto de vista nordestino
No mês dos 90 anos do movimento que levou Getúlio Vargas ao poder, a Cepe lança título de Ana Maria César sobre o episódio
Até parece obra de ficção o drama de
João Pessoa, assassinado pelo adversário político João Dantas, que foi morto na
Casa de Detenção do Recife; e a morte de João Suassuna, acusado de cumplicidade
no homicídio do então governador da Paraíba, vice na chapa de Getúlio Vargas à
presidência da República pela Aliança Liberal. Os desdobramentos deste episódio
levaram à deflagração da Revolução de 30, movimento que neste mês completa 90
anos. Oportunamente, a Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) publica Três
homens chamados João – Uma tragédia em 1930, da escritora Ana Maria
César. O lançamento será nesta quinta-feira, dia 22, às 17h30, no
canal da Cepe no YouTube, com bate-papo entre a autora e o editor Diogo Guedes.
O livro traz um novo foco sobre o
mais importante movimento revolucionário brasileiro, ratificando historicamente
a vocação libertária de Pernambuco, que protagonizou a Revolução Pernambucana
de 1817, a Convenção do Beberibe, a Confederação do Equador e a Revolução
Praieira. Para escrevê-lo foram necessários quatro anos de dedicação ao
tema, obedecendo à precisão historiográfica. Na pesquisa, a autora
privilegiou os jornais locais a fim de captar o entusiasmo, a comoção, o
desvario do povo vivendo um novo momento.
Além da perspectiva nordestina da
história, e da sacada dos três homens chamados João, um importante diferencial
do livro está na riqueza da linguagem narrativa, que se assemelha ao que há de
melhor em estilo literário. Essas características, aliadas à capacidade
imagética da escritora, conduzem o leitor ao ambiente da época. É como se a
própria Ana Maria tivesse vivido os acontecimentos de então. O teor passional e
trágico dos acontecimentos também permitiram à autora uma construção mais despojada.
Algumas vezes até mesmo poética.
“Chego a ver o tumulto da Rua Nova na
tarde de 26 de julho (data do assassinato de João Pessoa). Percebo a agonia de
Augusto Caldas (preso injustamente com o cunhado João Dantas) na Casa de
Detenção. Sinto o vento que dança nos cabelos de Ritinha (Rita de Cássia Dantas
Villar, mãe do escritor Ariano Suassuna), no Porto do Recife, se despedindo de
João Suassuna (que foi à capital, Rio de Janeiro, provar sua inocência, e lá
foi morto). Ouço o martelar da máquina de escrever de João Dantas em Olinda,
escrevendo mais um artigo contra João Pessoa. Acompanho a trajetória de
desespero de Anayde Beiriz até o momento final. E então escrevo. Porque o que
sou mesmo é escritora”, define-se Ana Maria.
A fim de apreender armas e munições
que pudessem ser usadas numa possível revolta, João Pessoa mandou a
polícia revistar as casas dos suspeitos. No dia 10 de julho de
1930 invadiram o escritório do advogado e jornalista João Dantas.
Embora a polícia não tenha encontrado
armamento, com a intenção de desmoralizar e atingir a honra de João Dantas, o
jornal estatal A União iniciou a publicação dos papéis ali apreendidos, cartas
e telegramas de familiares e correligionários, peças de processos de
constituintes, promissórias, um diário, “confidência da mais repugnante
politicagem”, alardeava a folha.
E no dia 26 de julho, o
advogado entrou na Confeitaria Glória, no Recife, onde o presidente da Paraíba
se encontrava, e matou João Pessoa com três tiros de revólver. A comoção
popular levou ao movimento armado em 3 de outubro, considerado vitorioso em 24
de outubro.
Fascinada pela história, a escritora
recifense ressalta a ancestralidade paraibana e sertaneja. “Meus pais eram
fervorosos adeptos da Aliança Liberal. Quando eu tinha 12 anos, na Praça João
Pessoa, meu pai narrou para mim a Revolução de 1930. Claro que não lembro nada
do que ele disse, mas possivelmente aquela narrativa ficou no meu inconsciente
como uma epopeia do nosso povo. Agora me sinto em paz. É como se tivesse
cumprido um pacto, contar a história do ângulo dos nossos dois Estados”,
destaca Ana Maria.
No prefácio, a professora e escritora
pernambucana Margarida Cantarelli, ocupante da cadeira 9 da Academia
Pernambucana de Letras, diz que muito já se escreveu sobre a Revolução de 30,
mas que a autora conseguiu ir além do que já foi produzido sobre o tema. “Ana
conseguiu trazer fatos e interpretações novos ao que se supunha definitivamente
esclarecido ou adormecido”, diz.
Sobre o teor dramático da história e
sua semelhança com a ficção, a acadêmica lembra o filme da cineasta Tizuka
Yamasaki, Parahyba Mulher Macho. Em 1983, quando Margarida era
chefe da Casa Civil do Governo de Pernambuco, presenciou algumas cenas gravadas
nas dependências do Palácio do Campo das Princesas. No elenco, Tânia Alves,
como Anayde; Walmor Chagas protagonizava João Pessoa; e Cláudio Marzo, João
Dantas.
Sobre a autora - Ana Maria César é pernambucana do Recife. Bacharelou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade do Recife (atual UFPE) e em Letras Neolatinas pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Católica de Pernambuco. Publicou livros de ensaios, poesia, memórias, ficção e história, incluindo, pela Cepe Editora, A faculdade sitiada e Último porto de Henrique Galvão. É membro da Academia Pernambucana de Letras, da Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro (onde exerceu a presidência em três gestões), da Academia Recifense de Letras e da União Brasileira de Escritores (UBE).
Serviço
Contato
da autora, Ana Maria César: (81) 99973-6564
Contato
do editor da Cepe, Diogo Guedes: (81) 98863-7311
Live
de lançamento do livro Três homens chamados João – Uma tragédia em
1930, com participação da autora, Ana Maria César, e o editor da Cepe,
Diogo Guedes
Quando: 22 de
outubro
Horário:
17h30
Endereço:
Inscreva-se no canal da Cepe no YouTube, bit.ly/canalcepe
O
livro impresso está condicionado ao retorno das atividades presenciais do
parque gráfico da Cepe, suspensas em função do isolamento social imposto pela
pandemia no novo coronavírus
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