Giro Literário: a literatura nas suas mãos



O mapa poético de Pernambuco ultrapassa as barreiras geográficas com vozes que surgiram e surgem dos quatro pontos cardiais do Estado e que ressoam no país e no mundo inteiro.

Uma dessas vozes é Cyl Gallindo. O poeta nasceu em Buíque, Pernambuco, no Nordeste do Brasil, em 28 de maio de 1935. Cursou Contabilidade no Rio de Janeiro, onde envolveu-se nos movimentos estudantis daqueles anos conturbados do final da década de 1950. Fugindo da repressão pós-1964, retorna a Recife, onde faz vestibular para o curso de Ciências Sociais e ingressa por concurso na SUDENE.

         Publica o livro Agenda Poética do Recife, antologia dos novíssimos, em 1971 e o primeiro livro de poesias — A Conservação do Grito-Gesto, obtendo o Prêmio de Poesia da Academia Pernambucana de Letras.  E ganha o mundo... Viaja pela Europa, segue colaborando em suplementos  literários, muda-se para Brasília em 1986, onde trabalhou no Senado Federal.

Uma obra vasta e reconhecida nacional e internacionalmente.
Cyl Gallindo. Caricatura deNicolas-1973

Poeta de vela obstinação social e telúrica; e especulativa; usa ritmos variados, desde o verso de composição livre até o soneto; é, talvez, deste grupo de poetas (geração 65/ Recife) o de penetração mais funda nos modernos problemas humanos.” Joaquim Cardoso

Cyl Gallindo ficou encantado em 04 de fevereiro de 2013, em João Pessoas, onde residia, aos 77 anos.

ROCHEDO HUMANO
POEMA III

Pois não é bom que o homem só esteja:
o homem e a mulher tecem harmonia
onde quer que o amor buscado seja.

Se a partir da aurora nasce o dia,
é forçoso, portanto, estar atento
à luz que dos olhos teus se irradia.

Para cravar em mim vital momento
da parte que da vida é minha vida
e no tear das ilusões é meu alento,

eu não devo olvidar que em toda a lida
lapidei o meu corpo em tua busca
e filtrei a solidão que me castiga.

Mas a alegria de ter-te é mais antiga!

 A CONSERVAÇÃO DO GRITO-GESTO

Poema VII

Serei o último poeta a me sentar à mesa
o verso só vem a mim depois de cristalizado.

Meus versos são gente pobre
e convivem com a fome
nos brinquedos da infância.

São os meus versos surrados
em plenas ruas do mundo
e confidenciam o seu corpo
à intimidade do relento.

Mas que os abutres não se iludam,
pois não joguei sobre a mesa
todos os naipes do Grito-Gesto:
o segredo é necessário para o jogo e para a luta.

Dei apenas o meu canto feito de estrela e de
sangue:
no amor nunca tem noites
nem esquinas de escuridão!

Em cada carta há duas faces
que os homens tentam beijar
mas enquanto o trunfo estiver retido
a canção será menor...

Vamos traçar novamente a esperança e a vontade!


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