Livro resgata história de repressão aos cultos afro-brasileiros
Povo Xambá Resiste será lançado nesta
quinta-feira (13), a partir das 16h, no Terreiro Xambá, em Olinda
A criminalização e a repressão policial às
religiões de matriz africana, sobretudo durante o Estado Novo (1937 – 1945), um
dos períodos mais autoritários vividos no Brasil, costura a narrativa apresentada
em Povo Xambá Resiste, 80 anos da repressão aos terreiros em Pernambuco, livro
da jornalista e pesquisadora Marileide Alves que a Cepe Editora lança nesta
quinta-feira (13), a partir das 16h, no Terreiro de Xambá, em Olinda. Fruto do
resgate da memória coletiva, a obra relata como a violência institucionalizada
e o cerceamento à liberdade atingiu o povo Xambá, terceiro maior quilombo
urbano do país, e de que forma se deu a resistência para que ritos e crenças se
mantivessem vivos. Paralelo ao lançamento, os grupos Bongar e Estesia
apresentarão o inédito show Na casa da mãe, concerto para Iansã com
músicas dedicadas ao orixá do terreiro da Nação Xambá.
Com 178 páginas, e ilustrado com fotos de
personagens que construíram a história da Nação Xambá, o livro é prefaciado
pelo historiador Hildo Leal da Rosa, pesquisador do Arquivo Público Estadual
Jordão Emerenciano, e membro da Comunidade Religiosa Xambá há vinte e seis
anos. “Neste ano de 2018 completam-se 80 anos de uma das maiores tragédias da
história do negro brasileiro, a cruel perseguição aos cultos afro-brasileiros,
empreendida pela ditadura de Getúlio Vargas, o Estado Novo, implantada em 1937,
que fechou todos os terreiros de Xangô, (Candomblé) e afro-indígenas (Jurema),
saqueando as casas de culto e atentando contra a liberdade religiosa”, pontua
em seu texto de apresentação.
Para fazer esse recorte histórico da repressão
vivida pelo povo de santo do terreiro de Santa Bárbara (Quilombo do Portão do
Gelo, bairro de São Benedito, em Olinda), a autora resgatou pesquisa que serviu
de base para o seu primeiro livro (Nação Xambá: do terreiro aos palcos, 2007),
aprofundando a análise a partir de novos relatos e depoimentos colhidos ao
longo de quase um mês de imersão na comunidade da qual faz parte há 15 anos.
Trazer à luz dos fatos a humilhação imposta pelo
aparato legal aos seguidores das religiões afro-brasileiras, por sinal, foi um
dos maiores desafios na elaboração do livro. Em Pernambuco, inexistem
documentos oficiais sobre fechamento de terreiros entre as décadas de 1930 e
1940 – o que assegura à memória oral papel essencial. “Segundo
relatos de filhos de santo do Terreiro Xambá, os policiais obrigavam os
babalorixás e yalorixás a dançar com os animais (bodes, cabras, utilizados nos
rituais de obrigação), ridicularizando os sacerdotes e as sacerdotisas. Contam
que faziam trouxas de roupas e objetos de uso do terreiro, colocavam na cabeça
dos adeptos do culto e os obrigavam a caminhar em via pública com o material,
seguindo o carro da polícia até a delegacia. Todo tipo de crueldade o povo de
santo sofreu com a repressão aos terreiros de Candomblé em Pernambuco”, destaca
a autora .
Povo Xambá Resiste, além de pontuar a história de resistência e de preservação cultural de
pais, mães, filhos e filhas de santo, tem, para a autora, importância alinhada
à contemporaneidade. “Como se não bastasse toda a repressão vivida pelo povo de
santo, durante a ditadura do Estado Novo, nos tempos atuais os terreiros têm
sofrido com a intolerância religiosa, oriundas de adeptos das igrejas
evangélicas neopentecostais. Atitudes que afrontam o Artigo 5º da Carta Magna
do Brasil e, consequentemente, o estado laico”, afirma,
Serviço:
Lançamento do livro Povo Xambá Resiste
Quando: 13 de dezembro, quinta-feira
Hora: 16h às 20h
Onde: Terreiro Xambá
Endereço: Rua Severina Paraíso Silva, 65, São
Benedito, Olinda.
Preço do livro: R$ 30,00 (impresso) e R$ 8,00
(E-book)
Comentários
Postar um comentário