Em Nome do Desejo faz as duas últimas apresentações no Teatro Barreto Júnior


Em Nome do Desejo. 
Foto de Yeda Bezerra de Melo

Durante a primeira metade da década de 1990, Em nome do desejo alcançou expressiva repercussão, recebendo o reconhecimento da crítica e do público nas diversas cidades brasileiras por onde excursionou.
Trata-se de um espetáculo fundamental tanto na história da Seraphim quanto no percurso artístico e pessoal de Antonio Cadengue(1954 - 2018).

Originalmente, a montagem foi concebida como prova pública do Curso Básico à Formação do Ator, da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), onde Antonio Cadengue ministroua disciplina Improvisação/Interpretação. Terminadas as obrigações institucionais com a Fundaj, Cadengue incorporou o espetáculo ao repertório da Companhia Teatro de Seraphim, preservando o elenco original quase integralmente e prolongando sua temporada até maio de 1990.

Dois anos depois, dentro do Projeto Seraphins Revisões, o grupo faz uma segunda montagem de Em nome do desejo, em que ocorreu um aperfeiçoamento técnico e estilístico do espetáculo. A peça se baseia no romance homônimo de João Silvério Trevisan, e aborda a crise de um homem que decide retornar ao seminário em que estuda 25 anos antes e vive uma intensa paixão por outro seminarista. Uma viagem de volta a si mesmo, em que o protagonista retoma suas memórias, particularmente as lembranças desse amor que o marca de modo profundo.

A encenação de Em nome do desejo é conduzida por um narrador, que também é o protagonista da estória em sua fase adulta (Ticão). Por meio de sua fala, o espectador acompanha em flashback a trajetória do jovem Tiquinho no seminário: dos primeiros contatos com o ambiente religioso até o início de sua amizade com Abel Rebebel, culminando no amor consumado e, depois, no seu rompimento. Assim como o romance de João Silvério Trevisan, os temas fundamentais do espetáculo versam sobre a memória, o desejo, a paixão e a morte.

Utilizando um palco nu, envolto em uma caixa cênica toda revestida de um veludo azul marinho, e explorando essencialmente efeitos de luz e som, a encenação expõe a sexualidade juvenil. Antonio Cadengue apoia-se em um amplo aparato visual por meio de uma iluminação que varia entre tons azuis e rubros, e por intermédio do uso da liturgia católica: paramentos, procissões, matracas, turíbulo, incenso, velas, candelabros, anjos e santos, posturas hieráticas de corpos nus e seminus, adornadas pelo desenho de luz.

Constituindo o repertório da Seraphim ao longo de década de 1990, Em nome do desejo acolhe significativa recepção crítica. Para o crítico e ensaísta Sebastião Milaré, “A encenação de Antonio Cadengue materializa no palco essa estranha história de amor, com a mesma profundidade e a mesma dignidade que o autor a abordou. Sem temer o ridículo, caminhando sobre o fio da navalha recria esse universo insólito através de suas contradições. Trabalha os atores com extraordinária sensibilidade, conduzindo-os aos abismos dos personagens. E o elenco responde com prazer aos estímulos do diretor, criando alguns tipos marcantes, como o de Lúcia Machado no papel de Santa Teresa de Ávila, ou Hilton Azevedo, interpretando Tiquinho.



Os figurinos de Aníbal Santiago e Manuel Carlos; iluminação de Augusto Tiburtius, a sonoplastia do próprio diretor, apresentam alto nível de concepção e execução, oferecendo um acabamento exemplar ao espetáculo”.

Para o crítico Edelcio Mostaço, “O espetáculo de Antonio Cadengue equilibra-se sobre o difícil fio que interliga o tema à sua realização, sem que despenque quer para o patético quer para a facilitação melodramática. Dosando com perícia seus ingredientes, o encenador vai destilando-os e, mesmo sem desprezar certas convenções de efeito garantido junto aos espectadores, sabe encontrar a medida adequada para a criação sensível. O resultado é uma equilibrada composição que mescla o realismo poético com efeitos dotados de modernidade, capaz de ser arrojada e sem hermetismos”.

SERVIÇO:
Teatro Barreto Júnior
R. Est. Jeremias Bastos - Pina, Recife
22 e 23 de setembro
R$ 40 / R$ 20 (meia)
Sábados e Domingos, às 20h

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