Para não esquecer a perseguição às religiões de matriz africana


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Projeto Repatriação Digital cataloga objetos apreendidos em terreiros pernambucanos na década de 1930

O projeto Repatriação Digital do acervo Afro Pernambucano sob a guarda do Centro Cultural São Paulo, patrocinado pelo Funcultura, continua com a exposição, no Museu da Abolição, da catalogação digital que fez de mais de 400 peças pertencentes a terreiros pernambucanos que foram confiscadas na década de 1930, durante as perseguições às religiões de matriz africana, e que hoje compõem o Acervo Mário de Andrade, guardado pelo Centro Cultural São Paulo (CCSP). 


Durante o Estado Novo, houve uma dura perseguição às religiões de matriz africana. O governo implementou ações para localizar, invadir, destruir e eliminar estas expressões e, muitas vezes, os seus praticantes. Essa política teve muita força em Pernambuco e vários terreiros foram invadidos e destruídos e seus objetos violentamente retirados de seus locais sagrados, quebrados, amontoados e queimados em praça pública. Apenas uma pequena parte deles foi encaminhada às delegacias e à Secretaria de Segurança Pública – SSP, como prova do crime cometido pelo povo do terreiro: a prática ilegal das expressões religiosas, associadas aos processos de curandeirismo, charlatanismo e possessão como doença mental. Esse conjunto de objetos que estava sob a guarda policial terminou sendo cedido à Missão de Pesquisas Folclóricas de Mário de Andrade, durante sua passagem pelo Recife, em 1938.




Equipe

O conjunto é composto por peças de diversos suportes: cerâmicas, tecido, metal e madeira, ferro e papel. Entre eles  estão instrumentos musicais, imagens de santos católicos, resplendores, espadas, abebés, pilões, setas, facões, imagens de santos católicos, bancos de pegí, cifres de madeira e cerâmica, documentos e roupas dos filhos-de-terreiro. “Observando a documentação museológica, identificamos cinco ´seitas´ das quais faziam parte aqueles objetos: Xangô, Xambá, Nagô, Gêge e Mirê. Entre os orixás, aos quais são atribuídos os objetos, ou nos quais têm inscrições, estão: Yemanjá, Xangô, Xangô Bacele, Oxum, Oxum Timi, Oxum Pandá, Oxum Fá Miló, Oxossi, Aloiá, Ogum, Exu, Oxalá, Odê Bombôchê, Odê, Omulu e Oiá”, descreve Charles Martins, antropólogo e coordenador do projeto. 
  
Segundo Charles Martins, além de permitir ao público pernambucano o acesso ao acervo que se encontra distante, em São Paulo, dá a possibilidade de resgatar memórias sociais em torno das perseguições das expressões religiosas de matriz africana, ocorrida nos anos de 1930 no Recife. Ao resgatar essa memória, denunciamos a violência do Estado ao povo de terreiro. Esta, talvez, a maior contribuição: possibilitar o conhecimento sobre episódios do passado, que não devem ser esquecidos, para que evitemos que ele se repita no presente e no futuro”, pontua. 

Ficha técnica da exposição:
Coordenador do Projeto/arte mídia: Charles Martins
Curadoria: Maria Elisabete Arruda de Assis
Expografia: Marcela Camelo Barros
Museóloga: Daianne Silva Carvalho
Educativo: Fabiana de Lima Sales
Apoio: CCSP – Centro Cultural São Paulo
Realização: Museu Afrodigital | Museu da Abolição
Produção: Primeiro Plano Produções
Incentivo: Funcultura

Serviço: 
Repatriação Digital do Acervo Confiscado nos Terreiros  - Exposição Digital
Museu da Abolição
Segunda a sexta, das 9h às 17.
Sábado, das 13h às 17h

Até 30 de junho


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