Janela Internacional de Cinema invade o Recife
A 10ª edição traz 120 filmes de 50 países que
formam um panorama contemporâneo e de clássicos do cinema mundial. Marcado pelo
tema “Heroínas”, o festival traz retrospectiva da diretora argentina Lucrecia
Martel, o programa especial L.A. Rebellion, e a competição de dez
longas de 11 países, entre eles Jovem Mulher, de Léonor Serraille,
premiado na mostra Um Certo Olhar em Cannes deste ano. Ampliando as ações de
formação, o Janela também oferecerá duas aulas de cinema, com Lucrecia Martel e
com o vencedor da Palma de Ouro, o cineasta francês Laurent Cantet.. O festival
é uma apresentação da Petrobras e do Funcultura.
Realizado desde 2008 por Kleber Mendonça Filho e
Emilie Lesclaux, e há três anos sob a coordenação de programação de Luís
Fernando Moura, com apresentação da Petrobras desde a quarta edição e do
Funcultura desde a primeira, o festival comemora seu decênio desde já com uma
lista extensa de novidades.
O 10º Janela Internacional de Cinema do Recife
traz, assim como nos anos anteriores, mostras competitivas de longas-metragens
curtas-metragens, programa de clássicos e seleções especiais projetados em 2K e
4K, no formato DCP (Digital Cinema Package) e também em 16mm e 35mm. De 3 a 12
de novembro, filmes, oficinas, palestras e convidados brasileiros e
estrangeiros ocuparão ao longo dos dez dias dois cinemas da cidade: o São Luiz,
no Centro do Recife, e o Cinema da Fundação no Museu do Homem do Nordeste, em
Casa Forte. Demais atividades, como o Janela Crítica e a oficina “Compondo
Trilhas Sonoras”, também ocorrerão no Portomídia, no Bairro do Recife – um dos
parceiros antigos do festival.
A décima edição do festival Janela Internacional de
Cinema do Recife é organizada pela CinemaScópio Produções Cinematográficas e
Artísticas, com apresentação da Petrobras e incentivo do Funcultura / Fundarpe,
Secretaria de Cultura do Governo de Pernambuco.
A curadoria do festival, assim como nos anos
anteriores, é marcada por visitas a festivais no Brasil e exterior, como
Tiradentes (MG – Brasil), a Berlinale (Berlim - Alemanha), Cinéma du Réel
(Paris - França) e Cannes (França), mas sobretudo pela observação do circuito
global e nacional, além de conversas com amigos e parceiros ao longo do ano
inteiro.
VENDA ANTECIPADA DE INGRESSOS ON LINE – Repetindo a experiência dos últimos dois anos, no sentido de
minimizar o efeito das extensas filas frente ao Cine São Luiz, os organizadores
do festival retomam a comercialização virtual antecipada de ingressos para
todas as sessões no histórico cinema de rua do Recife. Nesta edição, serão disponibilizados
os bilhetes on line pela plataforma Sympla (http://www.sympla.com.br/xjaneladecinema), a
partir do dia 1º de novembro (quarta-feira), às 8h (horário local do
Recife), e seguem à venda durante todo o festival até 30 minutos antes
da sessão iniciar ou até esgotar o lote. Toda a programação do Cine São Luiz
será comercializada on line e física de acordo com a seguinte cota: 50% dos
ingressos online e 50% física.
Acrescido ao valor do ingresso (R$ 6, para longas; R$ 3, para curtas),
será cobrada a taxa de R$ 2 na venda virtual. No ato da compra, o sistema gera
um bilhete que pode ser validado na entrada do Cine São Luiz, sem a necessidade
de troca do voucher, somente a apresentação de um documento de
identificação com foto junto ao QR code do ingresso impresso ou no
celular.
Paralelo a isso, a venda física antecipada no São Luiz ocorre
nesta quinta-feira (02/11) e sexta-feira (03/11), com guichê aberto das 15h às
20h. Para atender ao público nessa segunda opção e, posteriormente
durante o festival, operando exclusivamente com tíquetes impressos, o Cine São
Luiz conta com sistema de bilhetagem eletrônica.
Para as master classes "Encontro com Lucrecia Martel",
que acontece sábado 04/11, às 11h, e "Encontro com Laurent Cantet",
domingo (05/11), às 11h, ambas no Cinema do Museu, serão comercializadas
entradas antecipadas também pela plataforma Sympla. À exceção dessas
atividades, não haverá venda antecipada para sessões no Cinema do Museu.
COMPETIÇÃO - Entre
os longas, dez títulos de 11 países formam a mostra competitiva, pautada no
interesse pela singularidade dos filmes e com atenção especial a realizadores
em seus primeiros, segundos ou terceiros longas-metragens: Jovem
Mulher/Jeune Femme (França/Bélgica), produção assinada por Léonor
Serraille e aclamada na Mostra Un Certain Regard (prêmio Camera
d’Or) do Festival de Cannes no começo deste ano; Que o Verão
Nunca Mais Volte (Alemanha/Geórgia), primeiro longa do georgiano
Alexandre Koberidze, descoberto na Semana da Crítica de Berlim 2017 e vencedor
do principal prêmio do FID Marseille (França);
As Boas Maneiras (Brasil/França),
de Juliana Rojas e Marco Dutra, horror estrelado por Isabél Zuaa e Marjorie
Estiano, eleito melhor filme no 19º Festival do Rio e agraciado com o prêmio
especial do júri no Festival de Locarno, na Suíça;
Baronesa (MG
- Brasil), de Juliana Antunes, primeiro longa com percurso prestigiado por
outros festivais (melhor filme na 20ª Mostra de Cinema de Tiradentes e no
Festival Internacional de Cinema de Valdivia - Fic Valdivia – no Chile, além do
prêmio do público no FID Marseille);
A Fábrica de Nada (Portugal),
de Pedro Pinho, filme de inventiva elaboração política que estreou na Quinzena
de Realizadores em Cannes este ano, levando o prêmio da crítica); O
Gênero/The Genre (Rússia), de Klim Kozinsky, um pequeno mas
impressionante filme de arquivo que teve estreia há uma semana no DocLisboa (e
em première americana no Janela); A Noite/La Noche (Argentina),
de Edgardo Castro, filme que virou fenômeno na competição do Bafici 2016, em
Buenos Aires, onde mereceu o Prêmio Especial do Júri, e que estranhamente
permaneceu inédito no Brasil; Era Uma Vez Brasília (Brasil),
de Adirley Queirós, do mesmo diretor do incendiário Branco Sai, Preto
Fica (2014), que vem ao Janela com novo título recém-premiado em
Brasília (melhor direção) e em Locarno (Signs of Life, menção especial); O
Peixe/El Pez/The Fish (França/México), de Martin Verdet; e Verão
1993/Estiu 1993/Summer 1993 (Catalunha/Espanha), de Carla Simón,
belo filme que estreou na mostra Generationdo Festival de Berlim e
sagrou-se com o prêmio de melhor primeiro longa-metragem entre todas as seções
contemporâneas, além do troféu de melhor direção no Bafici 2017. Com Que
o Verão Nunca Mais Volte, O Gênero, O Peixe e A
noite (este que precisa ser visto em tempos de assombrosos ataques de
fundamentalistas a museus), o Janela faz, nesta edição, quatro estreias
brasileiras na competição de longas.
SESSÕES ESPECIAIS –
As sessões especiais de longas e curtas também compõem a programação do Janela
e trazem aos cinemas do Recife, pela primeira vez, filmes aguardados,
homenagens e apostas da curadoria. Vinte títulos foram selecionados, entre
eles 120 Batimentos por Minuto (França), novo filme do
realizador Robin Campillo (roteirista de Entre os Muros da Escola e
colaborador de filmes de Laurent Cantet), exibido em Cannes este ano e
agraciado com o Grande Prêmio do Júri;
Me Chame Pelo Seu Nome (Itália/França),
de Luca Guadagnino, drama projetado em competição em Sundance e na mostra
Panorama da Berlinale este ano; 66 Cinemas (Alemanha),
de Philipp Hartmann, filme-processo e um exercício de metalinguagem sobre o
cinema e o universo de pequenas salas de exibição alemãs, exibido nos festivais
de Viena (2016) e Roterdã (2017); e
Gabriel e a Montanha (França/Brasil),
de Fellipe Barbosa, longa de ficção baseado em fatos reais, vencedor dos
prêmios de revelação e da Fundação Gan na Semana da Crítica de Cannes 2017.
A seleção de longas brasileiros em sessão especial
neste ano joga luz sobre o diálogo dos filmes com o presente. Nessa lista,
estão filmes com diferentes carreiras em festivais, como os pernambucanos Em
Nome da América, do diretor estreante Fernando Weller (documentário de
tons e cores marcadamente políticos, em competição este ano no Festival do Rio
e presente na MostraSP e no CachoeiraDoc); Açúcar, de Renata
Pinheiro e Sérgio Oliveira (estrelado por Maeve Jinkings e que também concorreu
na Mostra Première Brasil do 19º Festival do Rio); Modo de Produção,
de Déa Ferraz (nova obra da diretora de Câmara de Espelhos, que
estreou na 20ª Mostra de Cinema de Tiradentes e foi exibido no 50º Festival de
Brasília) e Camocim, dirigido por Quentin Delaroche
(vencedor do prêmio máximo no Miami Film Festival e recém-estreado na
mostra Terra em Transe do último Festival de Brasília).
Merecem atenção o longa paraibano:
O Nó
do Diabo, de Ramon Porto Mota, Gabriel Martins, Ian Abé e Jhésus
Tribuzi, um compêndio de cinco histórias de terror que retorce fantasmagorias
do presente e do passado sob o vórtice da escravidão (em competição no Festival
de Brasília 2017); e o mineiro Arábia, da dupla de diretores
Affonso Uchoa e João Dumans, que reflete a vida íntima de um operário numa
fábrica de alumínio em Ouro Preto (melhor filme pelo júri oficial e pela
crítica no 50º Festival de Brasília). Vale menção também o retorno da
realizadora Helena Ignez, mestra do cinema marginal, presente no Janela em 2015
com Ralé, que exibe seu mais novo filme A Moça do
Calendário (SP), baseado em roteiro deixado por Rogério Sganzerla.
Na seção de curtas, serão apresentados quatro
títulos nacionais, três deles agrupados tematicamente em torno da mostra
intitulada “3 Maneiras de Dizer Não”.
Eis eles:
De Tanto Olhar o Céu
Gastei Meus Olhos (MS), de Nathália Tereza (premiado no 28º
Kinoforum – Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo pelo Canal
Curta/Porta Curtas, em setembro deste ano); Fantasia de Índio,
de Manuela Andrade, uma busca narrativa e histórica da diretora recifense guiada
por seus antepassados indígenas; e Primavera, de Fábio
Ramalho, mais nova produção do coletivo pernambucano Surto & Deslumbramento
– ambos em première mundial no Janela.
E na noite de encerramento do Janela, será exibido
o curta-metragem Vendo/Ouvindo (1972), primeiro
trabalho artístico de Lula Gonzaga (em parceria com Fernando Spencer e Firmo
Neto) e um dos primeiros filmes do ciclo do Super-8 em Pernambuco, em versão
digital restaurada em DCP 2K. Trata-se da mais antiga animação existente da filmografia
pernambucana. O processo de digitalização de “Vendo/Ouvindo” foi coordenado por
André Dib (pesquisador e crítico) e Tiago Delácio (realizador e filho de Lula
Gonzaga) e incluiu eliminação de riscos, restauração de som e correção de cor
no sistema Da Vinci.
L.A
REBELLION: UM NOVO CINEMA NEGRO –
O Janela traz, pela primeira vez ao país, um recorte de 16 filmes da produção
do L.A. Rebellion, como ficou conhecido grupo de realizadoras
e realizadores negros egressos da Escola de Cinema da Universidade da Califórnia
em Los Angeles (UCLA) nos anos 1970 e 1980. Foco de um projeto de
restauração e catalogação pela universidade na última década, esta numerosa e
frutífera produção tem sido redescoberta com entusiasmo dentro e fora dos EUA
como uma espécie de Cinema Novo Negro, por seu arrojamento político e estético,
sua independência em relação aos esquemas industriais vigentes em Hollywood e
sua pregnância crítica no presente. Parte do acervo restaurado circulou
recentemente no Tate Modern, em Londres, e no festival Cinéma du Réel, em
Paris. A mostra L.A. Rebellion: Um Novo Cinema Negro, com
seleção feita pelo curador Luís Fernando Moura e pelo curador convidado Victor
Guimarães, conta com filmes dirigidos por realizadores e realizadoras, entre
elas Julie Dash, primeira diretora negra a ter um filme em circuito comercial
nos EUA, Filhas do Pó (Daughters of the dust),
em 1993 – e que tem declaradamente inspirado iconografia pop contemporânea,
como o álbum visual Lemonade, de Beyoncé. Além do longa, restaurado
em DCP em março deste ano, Dash tem também um curta-metragem e um
média-metragem na programação, das décadas de 1970 e 1980, respectivamente. Um
dos diretores com maior visibilidade no grupo, e que receberá Oscar honorário
no ano que vem, Charles Burnett terá dois curtas-metragens e dois
longas-metragens exibidos, entre eles o clássico
O Matador de
Ovelhas (Killer of sheep), de 1978. Alguns raros títulos
serão projetados em cópias 16mm provenientes do arquivo de preservação da UCLA.
LUCRECIA MARTEL –
Uma das atividades mais aguardadas deste ano é a vinda da diretora argentina
Lucrecia Martel, que irá participar de um encontro com o público, além de
ganhar retrospectiva de sua produção em longa-metragem. Referência na produção
audiovisual da América Latina com três filmes – O Pântano (2001), A
Menina Santa (2004) e A Mulher sem Cabeça (2008),
Lucrecia foi inicialmente enquadrada no chamado “novo cinema argentino” dos
anos 2000, acumulando renome internacional além de participações e prêmios em
diversos festivais, incluindo Cannes e Sundance. A aula de cinema “Um Encontro
com Lucrecia Martel” será mediada pelo cineasta Kleber Mendonça Filho,
idealizador e curador do Janela. A filmografia da diretora será revisitada a
partir da exibição de seu novo filme, Zama (2017), que estreou
no Festival de Veneza, e de seus três longas anteriores.
PROGRAMA
DE INTERCÂMBIO CINÉLATINO TOULOUSE –
Reafirmando a vocação do Janela de promover encontros e descobertas, o Janela
apresenta um programa de intercâmbio Brasil-França em parceria com o lendário
Festival de Cinema Latino-Americano de Toulouse, o Cinélatino –
Rencontres de Toulouse. Existente desde 1989 e uma das plataformas de maior
referência para o cinema independente no trânsito entre a França e a América
Latina, o Festival Cinelatino – Encontros de Toulouse (Cinélatino –
Recontres de Toulouse), sediado na região da Occitânia, no sudeste francês,
firma parceria inédita com o Janela em 2017. Assim, o festival recebe, em sua
décima edição, a mostra “Cinélatino – Rencontres de Toulouse”, com
dois programas formados, ao todo, por oito curta-metragens. No primeiro
programa, intitulado “Pequenas Histórias da América Latina #2” e direcionado
para um público infanto-juvenil (“Petites Histoires D’Amérique Latine #2”),serão exibidas as produções
Caminho dos Gigantes (Brasil),
de Alois de Leo; Ba (Brasil), de Leandro Tadashi; Wuejia
Nyi/El Camino del Viento (Colômbia), de Diana Marcela Torres
Llantén; e Viaje a Marte (Argentina), de Juan Pablo
Zaramella. No segundo programa, batizado de “Occitânia” (“Occitanie”),
serão projetados os curtas franceses After School Knife Fight,
de Caroline Poggi e Jonathan Vinel; Les Photographes, de
Aurélien Vernhes-Lermusiaux; Contorsion, de Ingrid
Chikhaoui; e Belle Guelle, de Emma Benestan. Chance
imperdível de conferir novos olhares de cinemas que dialogam fortemente com a
safra atual pernambucana.
AULAS
DE CINEMA PETROBRAS – Patrocinadora
pelo sexto ano consecutivo, a Petrobras vem ajudar a ampliar o circuito de
cursos e oficinas do festival, somando sua experiência, em âmbito nacional, de
oferecer patrocínios à produção de filmes e difusão, além de ações de formação
na área de audiovisual, em projetos como a Escola de Cinema Darcy Ribeiro,
Projeto 5 Visões, cursos no Festival de Curtas de São Paulo, entre
outros. E, desde 2015, o programa “Petrobras Apresenta: Aulas de Cinema do
Janela” promove encontros com importantes profissionais que ajudam a difundir a
formação no setor. "A Petrobras abraçou a ação de Aulas de Cinema proposta
pelo festival, com o intuito de incentivar o
diálogo com os espectadores por meio de debates, conversas
e oficinas", explica Emilie Lesclaux, produtora e co-diretora do
festival.
Pelo
terceiro ano consecutivo, o programa “Petrobras Apresenta: Aulas de Cinema do
Janela” renova a parceria de longa data do Janela com a Petrobras (desde 2011)
pela realização de atividades educativas e de reflexão sobre o próprio fazer
cinema. Duas aulas de cinema com grandes cineastas serão
realizadas, a primeira com a argentina Lucrecia Martel, que vem também exibir
retrospectiva de seus longas e também seu mais novo filme Zama.
Além
da atividade com Lucrecia Martel, está programada uma segunda aula de
cinema conduzida por Laurent Cantet, cineasta francês vencedor da
Palma de Ouro em Cannes por Entre os Muros da Escola (2008). O
premiado diretor, roteirista e ator, que desde os anos 1980 assina uma
filmografia sensivelmente política e social, vem ao Janela apresentar seu
recente filme A Trama (2017), que estreou no último
Festival de Cannes. O programa “Petrobras Apresenta: Aulas de Cinema do Janela”
abrange, ainda, encontros de realizadores e críticos em torno de questões e
formas que atravessam filmes; haverá debates em torno do movimento L.A.
Rebellion e da representação e representatividade de negras e negros nos
filmes, do cinema de gênero no Brasil e da tematização do trabalho e da vida
dos trabalhadores pelo cinema contemporâneo.
“As
aulas de cinema são uma oportunidade de aproximar o público recifense de
realizadoras e realizadores com experiência admirável com a criação de filmes.
O Janela é também um lugar de troca de experiências, e ter figuras de
referência como Lucrecia Martel e Laurent Cantet entre nós é também uma chance
de ouvir e descobrir de perto pontos de vista especiais sobre o cinema. Há
também uma série de debates no Janela, e este ano planejamos conversas de muito
interesse com a presença de realizadores e críticos, por exemplo em torno de
cinema de gênero no Brasil, que é algo emergente e cada vez mais disseminado de
maneira muito rica e diversa”, diz Luís Fernando Moura.
DEBATES
Após as sessões, o Janela também
promove debates e encontros com realizadores e realizadoras, nos cinemas São
Luiz e do Museu, como uma forma de aprofundar a reflexão e as percepções do
público. Na lista dos debates, destaca-se, no sábado (dia 11), às 18h30, no
Cinema do Museu, o tema “Caça e censura às artes”, que ocorre após a exibição
de Prelúdio da Fúria, de Gilvan Barreto.
CURTAS
Nada será como antes
curta nacional
Este ano o festival recebeu o montante
expressivo de 1.350 trabalhos de 47 países na etapa de inscrição, encerrada em
julho passado. Destes, foram selecionadas 39 obras de 19 países, sendo
19 curtas brasileiros e 20 estrangeiros. Participaram da seleção de curtas
nacionais os pesquisadores Sabrina Tenório e Rodrigo Almeida, o cineasta
Leonardo Lacca e o roteirista Luiz Otávio Pereira. A comissão de curtas
internacionais é formada pelo cineasta e ator Fábio Leal, pela produtora
executiva e coordenadora do Janela Emilie Lesclaux, pela cineasta Nara Normande
e pelo sócio da Cinemascópio Produções, Winston Araújo.
Na mostra nacional, participam curtas de sete
estados. De Pernambuco, foram selecionados três trabalhos: Terremoto
Santo, de Barbara Wagner e Benjamin de Burca (em première mundial
no Janela); O Peixe, do artista visual alagoano e radicado
pernambucano Jonathas de Andrade (apresentado pela primeira vez na 32ª Bienal
de São Paulo) e O Olho e o Espírito, de Amanda Beça.
Entre os filmes internacionais, há um equilíbrio
entre as diferentes origens, com uma leve dianteira em produções da França,
Portugal e dos Estados Unidos. A maior parte estreou em diferentes
seções dos principais festivais de cinema no mundo, a exemplo de Cannes e
Clermont Ferrand (França), Berlim (Alemanha), Roterdã (Holanda) e Locarno
(Suíça), como Jeunes Hommes à La Fenêtre, de Loukianos
Moshonas, que tem première brasileira no Janela.
A seleção conta com filmes fortes ou inventivos
como o holandês Meryem, de Reber Dosky, um documentário
direto sobre mulheres do exército contra o Estado Islâmico; e Borderhole,
de Amber Bemak e Nadia Granados, filme-performance com que um casal de
namoradas reimagina o imperialismo e a liberdade. Questionador também dos
limites do queer e do pornô, o lendário diretor de cinema
adulto Bruce LaBruce aparece com seu Refugee's Welcome,
obra que tematiza o drama dos refugiados na Europa pela história de amor entre
um poeta sírio e outro imigrante tcheco.
“A produção de curta-metragem internacional parece
estar agitada com o estado das imagens e das políticas, e há no conjunto uma
série de filmes tomados, se não simplesmente por temas de visibilidade, por
energia de enfrentamento, de desconforto e de descompasso. Temos a sincera
sensação de que é um conjunto especial e de que, a partir de certo pensamento
que põe os filmes lado a lado, algo pode acontecer entre ele e o público do
festival”, avalia Luís Fernando Moura.
Os curtas vão competir nas categorias melhor som,
montagem, imagem e melhor filme.
CLÁSSICOS DO JANELA - Sob o tema “Heroínas”, a oitava
edição do Clássicos do Janela traz uma seleção de 11 títulos em cópias novas ou
restauradas, nos formatos DCP e 35mm, obras de mestres como Chantal Akerman
(com Jeanne Dielman, 23, Quai du Commerce, 1080 Bruxelles,
de 1975, obra-prima da cineasta belga falecida há dois anos); James Cameron
(com o espetacular thriller-scifi-horror Aliens, o Resgate, de
1986, onde Sigourney Weaver e Cameron fizeram avançar algumas casas
a liderança de uma personagem feminina num espetáculo de massa através da
Tenente Ripley, na mesma década de 80 dominada por Sylvester Stallone e Arnold
Schwarzenegger); Agnès Varda (com uma dupla de protagonistas femininas
em
Uma Canta, a Outra Não, de 1977, realizado dentro do
movimento feminista dos anos 70 na França, um documento e tanto em forma
de cinema); e Dario Argento (com Suspiria, também de 1977,
que reescreve a noção da "donzela em apuros" num filme de horror de
forte tom vermelho).
Nesses filmes, a representação habitual do
herói masculino não faz parte de nenhum dos filmes, que em troca apresenta
personagens femininas, ou noções de feminilidade que comandam cada filme
nos mais variados tons e estilos de representação.
Vale destacar também
Garota Negra/La
Noire de... de Ousmane Sembène, o primeiro filme da África
subsariana a ter um grande impacto na Europa e na América do
Norte. Restaurado em 2015 na Cineteca di Bologna/L'Immagine Ritrovata
laboratory, o longa foi recuperado pela Film Foundation's World Cinema Project,
em colaboração com a família Sembène, o Instituto Nacional do Audiovisual, os
laboratorios Eclair e o Centro Nacional da Cinematografia (França). Há ainda o
filme de aventura de 1913 Protéa, de Victorin-Hippolyte
Jasset, lançado há 104 anos e que será exibido no Janela em cópia restaurada
pela Cinémathèque Française. Trata-se de um dos primeiros registros de uma
heroína em um filme de ação, estrelado pela atriz Josette Andriot no papel da
acrobata e espiã Mata-Hari. A sessão terá acompanhamento musical ao
vivo.
Além dos 11 títulos agrupados sob o título “Heroínas”,
o Janela exibirá duas sessões especiais: Contatos Imediatos de
Terceiro Grau (1977), de Steven Spielberg, que completa 40 anos e
é um dos grandes filmes de ficção científica do cinema; e Vá e
Veja (1985), de Elem Klimov, filme monumental sobre um garoto de
12 anos que perambula pela terra arrasada da Bielorrúsia sob a
cruel invasão nazista. Ambas as cópias, apresentadas há um mês no Festival
de Veneza, serão projetadas em resolução 4K na tela do Cinema São Luiz.
PROGRAMAS CONVIDADOS
Cachaça Cinema Clube - Cineclube carioca que pela nona vez
colabora com o Janela de Cinema. Traz um longa que se comunica com a intenção
do festival de borrar fronteiras e fundamentalismos:
o filme Etéia,
a Extraterrestre em sua Aventura no Rio, lançado em 1983, de Roberto
Mauro (1940 – 2004), obra maldita de um dos maiores nomes da pornochanchada brasileira.
Diretor de 20 longas, entre eles O poderoso machão e As
cangaceiras eróticas, Roberto Mauro filma uma versão antecipada de E.T.,
o extraterrestre, clássico de Steven Spielberg, com cópias forçosamente
adiadas e depois compradas (e destruídas) pela Universal Studios, em um
episódio sui generis de apagamento histórico de um filme brasileiro. No Janela,
será exibida uma cópia restaurada com base em negativos encontrados em 2011,
pelo pesquisador Hernani Heffner, dentro do projeto de Recuperação do Acervo da
Cinemateca do MAM, financiado pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
No filme, também celebra-se a carreira da incrível atriz Zezé Macedo,
recordista feminina em participações no cinema brasileiro, tendo feito mais de
108 filmes.
Toca o Terror – Coletivo
que promove programas de rádio e sessões de cineclube dedicados a filmes de
horror apresenta, pelo quarto ano consecutivo, sessões especiais no Janela.
Este ano são seis curtas e um longa. São eles: Mar de Monstro (RJ/MG),
de Isabella Raposo; Casulos (SP), de Joel
Caetano; Ándale! (SC), de Petter Baiestorf; Última
Puella (PE), segundo curta-metragem de Jota Bosco, membro do Toca
o Terror; Os Enamorados (SP), de Claudio Ellovitch;
e Zornit (PE), de Marcello Trigo. O coletivo apresenta também
a sessão do longa O Nó do Diabo.
PRÊMIO JOÃO SAMPAIO – Anunciado na sétima edição, o “Prêmio João
Sampaio para Filmes Finíssimos que Celebram a Vida" é uma homenagem
permanente ao crítico baiano, falecido em 2014. A honraria será concedida pela
organização do festival para um filme contemporâneo ou de arquivo, nos formatos
longa ou curta-metragem. "O que mais me alegra nesse prêmio é todo ano ter
que explicar para as pessoas como era João Sampaio, crítico e jornalista que
teve trabalho importantíssimo em Salvador e uma voz notável no âmbito nacional.
Para além disso, alguém que muitos de nós, em todo o cenário de cinema, amavam
como amigo", diz Kleber.
Serviço:
X
Janela Internacional de Cinema do Recife
Quando: de 3 a 12 de novembro
Onde: Cinema São Luiz (Rua da Aurora, 175 - Boa Vista)
e Cinema do Museu (Avenida 17 de Agosto, 2187, Casa Forte) e Portomídia (Rua do
Apolo, 181 – Bairro do Recife)
Quanto: Cinema São Luiz (meia entrada para todos: R$ 6 -
LONGAS; R$ 3 - CURTAS)*; Cinema do Museu (meia entrada para todos: R$ 7).
Informações: www.janeladecinema.com.br
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