Dois atores, José Brito e Ivan Leite, comemoram 25 anos de boas gargalhadas.




Quem disse que fazer teatro é um mar de rosas? Aqueles que não vivem nos bastidores podem achar que fazer teatro é sempre uma festa.  Aqueles que vivem o cotidiano, a labuta do dia a dia, correndo atrás de patrocínio, ensaiando, criando, buscando encontrar a melhor forma de interpretar as personagens, a cumplicidade e os companheiros, sabem que a profissão exige muito, além da paixão inquebrantável pelo fazer teatro, há que se ter persistência, disciplina e fé.

Os dois atores Ivan Leite e José Brito, dupla que se dedica a comedia popular, comemoram orgulhosamente os 25 anos das personagens Mateus e Catirina, que correm o mundo ora fazendo campanhas educativas, ora fazem espetáculos em temporada, como agora quando apresentam “Mateus e Catirina, 25 anos de Munganga!”, cartaz no Teatro Arraial, na Boa Vista. A agenda Cultural comemora a carreira dois artistas, com a entrevista a seguir:

Manoel Constantino – São 25 anos de Mateus e Catirina. Nessa estrada quais foram os momentos mais prazerosos e quais os momentos que deixaram lições de aprendizado como atores?
Ivan Leite– Prazeroso é a troca de ideais, o intercambio, o reconhecimento e valorização do trabalho, e a consciência do dever cumprido em cada estado/cidade que passamos, isso é por demais gratificante, e ai, você acaba levando lições, e estas lições é o conhecimento de novas técnicas, as diversas formas de traduzir a cultura das regiões do Brasil
José Brito –Há momentos de reconhecimento do nosso trabalho em que as pessoas chegam e falam: Eu nem vinha mas depois que assisti voces saio daqui bem melhor. Ou então “eu só vim porque são vocês...é a cara de voces”. É muito gratificante. As lições acontecem quando nos é dado um desafio em cena e a gente pensa que não vai dar conta, mas não tem tempo pra pensar, a gente trabalha com o improviso e tem que ser ali , na hora, daí penso que o ator está no aprendizado a todo instante.

Manoel Constantino – O trabalho do ator é uma permanente troca com o público. Como vocês desenvolveram a técnica da improvisação no dia a dia do espetáculo? Há apenas um roteiro ou há um texto pronto e fechado?
Ivan Leite e José Brito – é um pouco de cada coisa, temos um roteiro pronto e alguns textos que são dirigidos e marcados pelo diretor Alberto Braynner, contudo, como as personagens são da cultura popular, isso os torna muito próximo do publico e a interação com ele é inevitável, costumamos dizer que improvisar é meramente conversa, ninguem vai encontrar com um amigo na rua e ter um texto pronto na cabeça, a conversa acontece ali, na hora, no momento e improvisar é isso, agora, como o espetáculo é um comedia, procuramos o tempo todo tirar proveito e graças dessa conversas com o publico, porém, com um enorme cuidado de não expor nem ridicularizar ninguem, nós somos os palhaços, nós somos os ridículos e é assim que tocamos o espetáculo.
Manoel Constantino – Vocês vieram de experiências diferentes no teatro, como foi o processo de amadurecimento da dupla na construção de Mateus e Catirina?
Ivan Leite e José Brito – Pois e, dizem que os opostos se atraem, as experiências teatrais foram antagônicas, porém, a formação familiar e o habitat em que vivemos, embora muito longe um do outro, Ivan em Barreiros (zona da mata sul) e Brito no Recife no bairro do Arruda, tem coisas do rural e urbano muito próximos, a Catirina tem muito do dia a dia do povo e a sua formação vem da minha família, minha mãe, minhas tias, vizinhas, professoras e principalmente locais de frequência popular: posto de saúde, mercado público, feiras, escolas, ônibus, filas, etc. O Mateus tem muito do homem rural, do campo, o homem engraçado que faz piada da própria vida, da própria estória e como vários atores fizeram Mateus, o Ivan Leite, foi o que mais entrou no universo da personagem fazendo uma paralelo das nossas famílias com a cultura popular,

Manoel Constantino – Produzir teatro hoje é a mesma coisa de estar numa arena matando vários leões por dia. Como vocês encontraram o caminho da MC Produções?
Ivan Leite e José Brito –A MC é Mateus e Catirina Produções, fomos nós que começamos a utilizar o teatro como ferramenta de aglutinação em campanha sindical, dai nasceu TV Bancaria, do Sindicato dos bancários em Pernambuco, nesta época chamamos Cleuson Vieira e Carlos Pitoia, e a coisa tomou uma proporção tão grande que chegávamos a fazer 120 esquetes por dia e vários sindicatos começaram a nos chamar para fazer suas campanhas, depois os próprios Governos (Federal, Estadual e Municipal), vendo que esta formula aglutinava muita gente e passava a mensagem de forma mais eficaz, então eles passaram a nos chamar para fazer suas campanhas, e ai veio a então EMTU, hoje Grande Recife, fazer suas campanhas com Mateus e Catirina, depois, EMPETUR, ABAV e FUNASA, DETRAN/PE, e tantos outros que não podíamos mais fazer como pessoa física, então, nasceu MC Produções e daí foi surgindo a arte educação como instrumento para a conscientização e campanhas educativas, hoje, chamado de Artistas Educadores.

Manoel Constantino – Como vocês definem a comédia na vida de vocês como artistas? Para alguns é o caminho mais fácil, para outros um grande desafio.
Ivan Leite e José Brito – É um caminho tão difícil quanto todos os outros, na difícil tarefa de fazer teatro, na árdua profissão do ator, só isso é um grande desafio, o riso, o choro, tem o mesmo peso a mesma dedicação de quem os fazem, agora, o resultado disso é da competência de cada um, Temos o humor como rumo em nossas vidas.

Manoel Constantino – Brito, qual seria a dica que você daria para quem quer ser um ator cômico?
José Brito – Observe ao seu redor, ser observador já é pra lá de necessário para um ator, e cômico nem se fala, viva de bem com a vida e dê alegria onde querem te dar tristeza. Sorrir ainda é o melhor remédio! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.

Manoel Constantino – Ivan, qual dica você daria para quem quer ser profissional do teatro?

Ivan Leite – Dedicação, estudo, visão econômica, quando minha mãe pediu pra escolher qual curso iria fazer (técnico agrícola ou contabilidade) era o que tinha naquela época em Barreiros, pedi pra vim pra Recife estudar, pois queria fazer teatro, perguntou ela, “isso dá dinheiro? Procure fazer com que seu sonho lhe sustente” e foi o que fiz, ela nunca perdeu um único espetáculo meu e hoje aos 84 viajou 120 km para assistir a esteia de “25 anos de Munganga”. 

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