Meu Bairro... Moro Aqui: Alto do Mandu

Por: Anax Botelho
Fotos: Roberta Menezes

Na Zona Norte do Recife, os altos fazem parte do cotidiano, da geografia e da visão dos recifenses. Nessa viagem cultural pela capital pernambucana, com múltiplas identidades e realidades, o Alto do Mandu se torna ponto essencial para compreender as atividades artísticas e cotidianas da metrópole. Localizado na Região Político-Administrativa 3 (RPA 3), o Alto tem cerca de cinco mil habitantes e faz fronteira com Casa Amarela, Monteiro, Apipucos, Macaxeira e Nova Descoberta.


A povoação do bairro tem origem na década de 1920. Na ocasião, funcionários da antiga fábrica da Macaxeira, bairro próximo, começaram a habitar o Alto, que se tornou oficialmente bairro em 1988, após a separação de Casa Amarela. O terreno originalmente pertencia ao Seu Mandu, nome que batizou o Alto.

Em direção a essa região da Cidade, é inevitável passar pela Avenida Norte (partindo do Marco Zero), porém é na Avenida Doutor Eurico Chaves que identificamos a presença de uma comunidade ativa e com vasta participação nos arredores. Responsável por ditar a localização espacial de toda a comunidade para os moradores, a avenida tem forte característica comercial e rotina movimentada de automóveis e pedestres. Bastante arborizado, o Alto do Mandu resiste com suas casas e a familiarização entre os moradores.


Para conhecer melhor essa região, a Agenda Cultural do Recife, em sua série de reportagens Meu Bairro... Moro Aqui, conta com a colaboração de um jovem paulista apaixonado pelo Alto do Mandu. O rapper e militante Gão, como é conhecido no meio artístico e no bairro, participa do grupo de RAP Aliados CP. Em 2003, mudou-se para o Recife e, desde então, permanece morando no Alto do Mandu. Nosso guia passeia pelo  bairro demonstrando bastante intimidade com o local e com seus moradores. Ele, que se mostra extremamente simpático com as pessoas e não esconde a paixão que sente pelo bairro, rapidamente mostra a escola onde terminou o seu ensino médio – a Escola Estadual São Miguel. Falando sobre o local, ele nos conta que eram organizados vários eventos pelos jovens no espaço, como o baile de fim de ano, a festa de Halloween, entre outros. Apesar de todas as mudanças, a escola continua a ser o centro de referência da região e é, no campo da instituição, que os boleiros jogam futebol, tornando a escola um local não só de aprendizado e enriquecimento cultural, mas também de  entretenimento para a comunidade.

Conversando com Gão, pudemos conhecer a professora Patrícia da Silva. Educadora há 20 anos na instituição, a professora mostra seu entusiasmo pelo bairro ao conversar com o nosso guia, seu ex-aluno. “Não sou daqui, mas tenho uma relação muito boa com este lugar”. Destacando sua articulação com o Alto do Mandu, Patrícia chama atenção para a relação de amizade que existe entre os moradores. Para ela, festas como o São João e a Copa do Mundo reforçam sua afirmação. É nítida a empolgação dos moradores com as festividades, várias ruas estão enfeitadas com bandeirinhas verde-amarelas, remetendo o gosto da comunidade pela festa junina, a qual, este ano, se pinta com as cores da seleção brasileira. Para a professora, a vontade de produzir cultura e ocupar espaços públicos é uma constante na população. Ao retornar o foco para a escola, um dos destaques é a maior frequência de jovens da comunidade no horário integral, além da sua vizinhança. – o reservatório da Companhia Pernambucana de Saneamento Básico (Compesa) -, que possibilita uma extensa área verde bastante arborizada.

Ao ser indagado sobre festividades do bairro, Gão nos mostra a Rua da Aroeira. É nesse logradouro que ocorre o Encontro de músicos, artistas e amigos, sempre no segundo domingo após o Carnaval. Organizada pelo percussionista e baterista Pita Cavalcanti há 15 anos, a festa movimenta toda a região. Nascido e criado no bairro, Pita planeja terminar de montar um estúdio, onde músicos do Alto do Mandu e de bairros vizinhos poderão ganhar mais um espaço para ensaio e exercício da atividade artística. Com o incentivo da comunidade, Pita ainda realiza festas alternativas e regionais no bairro.

No largo do Alto do Mandu, onde fica o terminal da linha de ônibus que leva o nome do bairro, Gão conta que é  nesse local que ocorrem as principais festas do bairro. A sede do Bloco dos Cornos chama a atenção, porque, segundo nosso guia, é a maior agremiação carnavalesca da região. Seguindo adiante, caminhamos para o Largo do Buracão, onde o bairro faz fronteira com o Alto Santa Isabel, do bairro bastante populoso, Casa Amarela. Próximo ao Largo, na rua onde nosso guia mora, continuamos pelo local até chegar à barraca do Manoel, conhecido como Seu Mané do Caldo. O comércio ambulante de caldo de cana, segundo Gão, é o ponto de encontro de todos da região que buscam um lanche a qualquer hora do dia. Nesse local, Gão nos apresenta Marcos da Silva, nascido há 30 anos, na mesma época em que surgia o Alto do Mandu. Marcos conta que seu avô, funcionário da Fábrica da Macaxeira, foi morar no local ainda no tempo do Seu Mandu. E, ao nos mostrar a casa onde sua família começou a história na região, ele sente orgulho em dizer que a propriedade continua com a família.


É acompanhado de um paulista integrado com o bairro do Alto do Mandu que a Agenda Cultural registra mais uma história do Recife em suas páginas. “Não tenho vontade de sair daqui por nada”, diz Gão. E é assim que afirmamos a paixão que a cidade das pontes, dos rios e dos morros constrói no coração dos seus habitantes, sejam naturais ou recifenses de adoção. Sempre buscando uma integração com a comunidade, nosso guia declara que sua relação com a cultura é a grande responsável pela boa convivência com todos. Com mais uma história, e enxergando a integração da comunidade em torno da cultura, a série Meu Bairro... Moro Aqui aponta mais uma vez o compromisso dos recifenses em tornar a cidade um espaço de positivas e ricas relações culturais.

Comentários

  1. linda história do Alto do Mandu e das pessoas que amam o morro, como esse paulista, Gão. Uma ressalva, apesar do amor pelo bairro, o guia do Agenda Cultural é muito jovem e não conheceu a história antiga do Alto, tanto que a história fui curta e bem atual. Nos anos 20 do século passado, antes de seu Mandu, o Alto era conhecido por Outeiro do Jatobá. Faltou falar do grande marco do Alto do Mandu, a Escola França Pereira, que foi inaugurada em 1955, pelo então governador Etelvino Lins, como Escola Reunidas Rural. vocês esqueceram de falar do centenário Beco do Quiabo que também pertence ao bairro. Acompanho o excelente trabalho de vocês, mas com certeza esse foi a matéria mais curta.

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  2. linda história do Alto do Mandu e das pessoas que amam o morro, como esse paulista, Gão. Uma ressalva, apesar do amor pelo bairro, o guia do Agenda Cultural é muito jovem e não conheceu a história antiga do Alto, tanto que a história fui curta e bem atual. Nos anos 20 do século passado, antes de seu Mandu, o Alto era conhecido por Outeiro do Jatobá. Faltou falar do grande marco do Alto do Mandu, a Escola França Pereira, que foi inaugurada em 1955, pelo então governador Etelvino Lins, como Escola Reunidas Rural. vocês esqueceram de falar do centenário Beco do Quiabo que também pertence ao bairro. Acompanho o excelente trabalho de vocês, mas com certeza esse foi a matéria mais curta.

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