Mês da nação forrozeira
Por: Anax Botelho
Fotos: Thays Monteiro
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Foto: Andréa Rêgo Barros |
Na
mesma efervescência da copa, o mês de junho pinta de verde e amarelo a intensa
paixão e manifestação da identidade da região Nordeste: a festa de São João.
Intimamente presente na cultura do Recife, o mês de junho está para a festa
junina, como fevereiro (e março) está para o Carnaval e dezembro para o Natal.
Pessoas de todas as regiões voltam sua atenção para o Nordeste para conhecer e
matar a saudade da comida típica, dos foguetórios, das quadrilhas e de um dos
protagonistas: o forró.
Acompanhando
a festa do Nordeste, Junho de 2014 entra na história de Pernambuco e do Recife.
Após 64 anos, o Brasil volta a sediar uma Copa do Mundo de Futebol. Na última
oportunidade, em 1950, a capital pernambucana foi umas das anfitriãs do maior
evento esportivo do Mundo, com jogos realizados no Estádio Adelmar da Costa Carvalho,
conhecido pelo torcedor como Ilha
do Retiro. Este ano, o espetáculo muda de endereço, será na Arena Pernambuco, em
São Lourenço da Mata, município da Região Metropolitana do Recife (RMR) mas o
frisson do Mundial paira sobre a Veneza brasileira. Agora com um novo palco, a Cidade se
prepara para escrever mais um capítulo dessa paixão universal, o futebol.
Ritmo
típico da região, o forró é tradicionalmente tocado por sanfoneiro, zabumbeiro
e triângulo, o conhecido trio do pé de serra. Com o passar dos anos, o estilo começou
a contar com inúmeras variações e com novos subgêneros. O forró popularizou-se
por todo o País na década de 1950 graças a Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, e se
tornou uma bandeira de resistência e identidade cultural da Região Nordeste.
Foi Luiz Gonzaga quem melhor expressou, em suas palavras, a emoção do São João.
Escrevendo sobre a noite com seus balões
no ar, o xote, o baião no salão, ele, ao lado de nomes como Jackson do Pandeiro
e a primeira geração do Trio Nordestino, inspira os forrozeiros até hoje. É com
esse espírito que a fogueira continua queimando em homenagem a São João. O
forró já começou e o Recife rapapé no salão.
Divulgador Iram Ferreira |
O São João, festa que reúne as maiores características da
cultura popular do Nordeste, não se comporta como proprietário do forró. Junto de iniciativas de forrozeiros e
apaixonados pelo estilo, o ritmo é presente no Recife de forma independente e
popular durante todo o ano. Para o forró não perder o compasso, a música conta
com o trabalho de um apaixonado pela cultura nordestina, o divulgador Iram
Ferreira, da IF Divulgações - Cultura é vida. Desde 2005 com a produtora, Iram
começou o seu trabalho ainda de forma amadora, utilizando apenas o seu nome. E
tudo isso por causa do amor que sente pelo forró. Seu trabalho é centrado em um
pacote de mídia, que inclui panfletagem, assessoria de imprensa, divulgação,
produção e marcação de shows. Atualmente trabalhando com a nova geração do Trio
Nordestino, Genival Lacerda, João Lacerda e Manoelzinho do Acordeon, Iram já fez
a divulgação de mais de 20 artistas locais. Com uma forte personalidade, o
divulgador cultural tem o forró entrelaçado com sua história de vida. Quando
criança, sua mãe cantava para ele e Iram mantém o costume de ouvir músicas de
Luiz Gonzaga todos os dias antes de dormir. “Eu sou louco por forró. Almoço e
janto ele”, afirma emocionado.
Texeira entre letras e canções |
Para dançar, para realizar a noite de São João, a música é
fundamental. E fundamental para o forró, são seus compositores e intérpretes
que diariamente produzem melodias e letras contando histórias de paixões e da
vida no Nordeste. O cantor e compositor Texeira de Paula, com 45 anos de dedicação
à composição de letras de forró, além de outros estilos, não perde o estímulo.
Para ele, o fato de ser nordestino já é meio caminho para trabalhar com o forró
nas suas letras e melodias. “A música é inspiração para a vida”, diz Teixeira, e
completar dizendo que sua principal fonte de inspiração é a região Nordeste e o
Rei, como chama, Luiz Gonzaga. Com álbuns gravados, Teixeira diz que ainda tem
muito que compor e destaca nomes como os de Beto Hortis, Genaro, Marcelo de
Feira Nova, Cezinha, Mahatma, entre outros, como seus ídolos do gênero na
atualidade.
No último estágio de comunicação do forró com o público, as
apresentações, os músicos são os responsáveis por animar a nação nordestina.
Roberto Silva, 40 anos como compositor e três como cantor profissional, é um
dos embaixadores dessa paixão. Na luta pela cultura diariamente, Roberto afirma
que a música nasce com você e não tem hora para vivê-la. “No São João e fora, a
poesia é a mesma”, diz. Com dois álbuns gravados, o cantor acredita que o forró
seja a voz do Nordeste para o resto do Brasil, e não mede elogios ao Rei do
Baião. “Foi por causa da coragem de Luiz Gonzaga que estamos aqui hoje. Ele foi
o precursor”, afirma. No São João, o qual classifica como a copa do forró, Roberto estará presente do
Litoral ao Sertão, levando sua poesia por todo o Estado.
Roberto Silva ao lado do seu mestre, o Rei do Baião |
Manoelzinho do Acordeon |
Um dos destaques dessa cena, além da sua elogiadíssima
execução musical, é o sanfoneiro, professor, cantor e compositor Manoelzinho do
Acordeon. Com 20 anos de carreira, quatro como artista solo, já possui três
álbuns. Manoelzinho também já trabalhou com nomes consagrados como Jorge de
Altinho, Geraldinho Lins, entre outros. Agora se aventurando em carreira solo,
o artista não nega sua ansiedade com a proximidade do período junino. A vontade
de tocar é a mola condutora do forrozeiro, que tem, entre seus planos, gravar
um DVD em 2015, com a presença de artistas convidados. Para além da celebração
nordestina, Manoelzinho do Acordeon tem um projeto fixo no restaurante de
comida regional, Parraxaxá, no bairro de Boa Viagem. Ele se apresenta em
companhia de Cirlene Menezes todos os sábados a partir das 19h30.
Ivan ferraz, o embaixador do forró |
Na retaguarda desse movimento, o cantor e radialista Ivan
Ferraz, que foi homenageado do São João do Recife em 2001, não mede esforços
para que o forró faça parte da rotina dos recifenses. Com nove LPs e 10 CDs
gravados, Ivan comanda, desde 2000, o programa Forró, Verso e Viola na Rádio Universitária FM 99,9, de segunda a
sexta-feira das 16h às 18h. Com uma extensa carreira na música, registrada por
gravadoras nacionais e internacionais, o radialista começou sua história na
comunicação em 1981 na Rádio Capibaribe. Desde o começo, Ivan mantém a tradição
de levar nomes conhecidos do público e novos artistas, com o objetivo de
fortalecer e apresentar os iniciantes da música nordestina. “Sempre gostei de
pesquisar e estudar a origem do forró”, diz Ivan, ao lembrar o programa que
comandou na televisão por seis anos, na emissora estatal TV Tropical, hoje TV
Pernambuco. Com uma visível preocupação com a cultura nordestina, segundo ele,
devia haver mais espaços destinados à música, pois, artistas, a Cidade já tem
para conduzir a festa. “Dar valor a quem está começando... Precisamos aumentar
a quantidade de nomes novos”, apela Ivan, que faz questão de afirmar que o
Recife é um das poucas cidades que preserva o autêntico forró.
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Espaço Dominguinhos Foto: Divulgação |
Iniciativas como a do radialista Ivan, criador e coordenador
do Espaço Cultural Dominguinhos, realizado todo sábado a partir das 14h no
Clube da Sudene, no bairro do Engenho do Meio, vem ocupando espaços públicos e
privados para sustentar a paixão nordestina, ao longo dos anos, para além do
São João. O espaço inaugurado em 2012, que contou com a presença do próprio
Dominguinhos, um dos maiores divulgadores da cultura nordestina, falecido em 2013,
tem a mesma proposta do programa de rádio do seu idealizador: levar nomes
conhecidos e iniciantes para todo o público. No Recife, outro local que se
destaca na apresentação do forró, é a Sala de Reboco, no bairro do Cordeiro. “Uma
das melhores casas de forró do Brasil, o Sala de Reboco Bar & Comedoria é
um lugar dedicado exclusivamente ao autêntico forró pé de serra. Inaugurado em
1999, possui um público fiel e de qualidade, atraído pela boa música executada
ao vivo pelos maiores forrozeiros do país, que compõem e interpretam”, como
define em seu site oficial o espaço. Entre os outros destinos da nação
forrozeira, está a Casa da Rabeca do Brasil, no município de Olinda,
pertencente à RMR. Fundada em 2002, tem como objetivos a preservação da cultura
e a tradição da região. Além dessas, tem também a Casa do Forró, no bairro do
Pina.
É Junho. Dentro das quatro
linhas, o Brasil luta pelo hexacampeonato mundial de futebol. Já as noites, são
noites brasileiras. Meninos
brincando de roda, velhos soltando balão, moços ao redor da fogueira brincando
com o coração. Eita! É o São João dos sonhos de Luiz Gonzaga! O São João do
Recife continua lutando pela autenticidade e valorizando a cultura nordestina.
Bairros festejam em palhoças, a fumaça das fogueiras tomam conta da rua e o
forró, este, tem o seu momento de apoteose. Com bandeirinhas verdes e amarelas,
cantando o Nordeste e São João com a bola no pé, começa a Copa do Mundo do
Forró.
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