Meu bairro... Moro aqui: Jiquiá

Parque do Jiquiá. Foto: Divulgação
Texto e fotos: Gianfrancesco Mello

Jiquiá

Para começar bem o ano de 2014, fomos buscar um lugar que promete ser a nova aposta do mercado imobiliário da cidade. Trata-se de uma localidade que possui em seus confins bairros como Afogados, Imbiribeira, Ipsep, Estância e Areias. Neste mês, aportamos no Jiquiá e resgatamos a história dessa região. Toda essa especulação gira em torno da proposta da construtora Conic Souza Filho, que vai construir um bairro planejado em uma área de 260 mil metros quadrados, localizada nas imediações do prédio da Justiça Federal.

O EcoCity Jiquiá nasce com a proposta de ser o primeiro bairro sustentável do Recife por contemplar alguns itens como captação de água da chuva, calçadas verdes e implantação de ciclovias. No local, além de 30 edifícios com 4 mil unidades habitacionais, haverá oito prédios comerciais e um shopping center. O terreno, que será destinado ao bairro, localiza-se em uma área estratégica, próxima ao entroncamento da BR-101 com a BR-232. No entanto, como o entorno possui três comunidades e não possui equipamento comercial, o uso provável da área seria um conjunto habitacional para baixa renda.

A região promete ser uma grande aposta imobiliária
Do ponto de vista ambiental, a proposta é que tenha edifícios verdes, com maior aproveitamento da luz natural, paredes com isolamento térmico e sensor de presença nas áreas comuns. A sustentabilidade social se dará por meio da prioridade na utilização de matéria-prima regional e na contratação de mão de obra local, além da integração com comunidades carentes do entorno, por meio de novas vias de acesso. O pedestre também será priorizado, com implantação de ciclovias, calçadas verdes, passeios sombreados e requalificação do canal.


Está em andamento, também, o Parque Científico e Cultural do Jiquiá. Trata-se de um projeto que traz um novo conceito urbano, científico e ambiental para a região. É um parque misto, com equipamentos, moderno projeto arquitetônico, arrojado conceito paisagístico, diversos ambientes e inúmeras atividades. O objetivo é resgatar o papel de vanguarda da produção científica que a cidade já desempenhou, por ter sido a primeira cidade das Américas, bem como de todo o Hemisfério Sul, a sediar um observatório de pesquisa do Céu, com Georg Marcgrave – também pioneiro na pesquisa das ciências naturais e na botânica.

Zeppelin no Recife em 1930. Foto: Divulgação
Mesmo com toda essa especulação, o local guarda – na sua história – ricos elementos que se mantêm firmes até os dias de hoje. Isso porque como tantos outros bairros da cidade, ele possui uma história entrelaçada com o desenvolvimento do feudo açucareiro de Pernambuco, durante o período do Brasil Colônia. Andando pelo local, pode-se perceber que não existe mais nada daquelas construções centenárias como a casa de vivenda, a capela e os edifícios do engenho. Antes, existiam viveiros de peixes que, a cada ano, durante a Semana Santa, atraíam famosas pescarias. Fomos atrás do campo do Zepelim, onde foi edificada a primeira estação aeronáutica para dirigíveis da América do Sul, mas tudo está sendo reconstruído. Talvez pela mudança das gerações ou uma simples evolução do tempo, talvez pela inquietude do ser humano.

Torre do Zeppelin
Segundo a pesquisadora Semira Adler Vainsencher, da Fundação Joaquim Nabuco, a demarcação judicial das terras do Jiquiá – local onde havia, primeiramente, um engenho de açúcar – foi procedida pelo ouvidor Jorge Camelo, no dia 12 de outubro de 1598, e executada  em atenção a uma carta de sesmaria, conferida pelos donatários da capitania, que deduziu o começo daquele feudo açucareiro em cerca de dois quilômetros de Afogados. De acordo com levantamentos feitos pela Semira, existem referências de que o fidalgo madeirense Francisco Berenguer de Andrade foi o verdadeiro fundador da localidade.

Em 1639, Berenguer de Andrade teria tomado parte de um movimento de rebeldia contra o Governo holandês, juntamente com Pedro da Cunha Andrade (senhor de engenho, na Várzea), Filipe Pais Barreto (senhor do morgado do Cabo), João Carneiro Maria (senhor do engenho Ipojuca), entre outros. Antes da invasão holandesa, Berenguer teria vendido a fábrica de açúcar e grande parte de suas terras a Antônio Fernandes Pessoa, filho de um colono que possuía ainda o engenho Sibiró, no município de Ipojuca. Devido à importância estratégica do engenho, Antônio Fernandes foi obrigado a se retirar para Ipojuca, com sua família, deixando Jiquiá no ano 1637 em completo abandono. Apenas no ano de 1654, com o fim da guerra contra os holandeses, o engenho pôde ser reparado dos danos sofridos e ter os trabalhos reiniciados. Na ocasião, foi construído um trapiche de embarque de açúcar, junto à própria foz do rio Jiquiá, para servir de acostagem aos pequenos barcos que traziam mercadorias para os engenhos e povoações das proximidades. O trapiche servia de ponto de embarque de açúcar, madeiras e outros artigos de comércio que se destinavam à praça do Recife.

A área serve como base do quartel da polícia militar
A pesquisadora explica também que, alguns anos depois, com a morte de Antônio Fernandes e de sua esposa, Ana de Luís da Silva, a filha deles herdou as terras, mas decidiu vendê-las ao capitão Antônio Borges Uchoa, o que foi feito mediante uma escritura datada no dia 3 de março de 1657. A localidade, na época, chamava-se Engenho de Santo Antônio do Jiquiá. Cinquenta anos depois, os irmãos Álvaro e Antônio Barbalho Uchoa apareceram como os legítimos proprietários do engenho. Logo depois, surgiu Antônio Correia, capitão-mor da Vila do Recife. No decorrer da história do bairro, destaca-se, ainda, a construção de um grande armazém de açúcar (Passo de Santa Cruz do Jiquiá), que garantia o abastecimento da população suburbana.

O então governador Luís do Rego Barreto, em 1819, objetivando construir uma estrada geral do centro até Santo Antão (Vitória de Santo Antão), passando por Jaboatão, determinou o aterro da estrada do Jiquiá. Em 1829, havia uma grande olaria na Camboa do Jiquiá, com porto de embarque. De suas terras saíam barro para a fabricação de telhas e tijolos, e uma lagoa de água doce fornecia água para os amassadores. Mas, com a lei imperial de 1835, decretando a extinção dos Vínculos e Morgados, deu-se a distribuição dos bens e das terras entre os vários co-senhores e, por isso, a propriedade perdeu forças. Até o próprio cruzeiro de granito ficou completamente abandonado. Ele foi encontrado em 1868. No ano de 1930, o local foi reativado, com a construção da Torre do Zeppelin, uma torre de atracação de dirigíveis. O local ficou conhecido como o Campo do Jiquiá, e o seu entorno voltou a ser habitado, tornando-se um dos bairros do Recife. Durante a Segunda Guerra Mundial, em 1945, foram construídos paióis com a finalidade de armazenar pólvoras e armamentos e, atualmente, o espaço abriga construções militares. O local serve até a atualidade como base do quartel da polícia militar. E foi assim que deixamos o bairro de Jiquiá: tendo a certeza de que a história sempre irá prevalecer. 

Comentários

  1. sou morador que vive em torno do parque jiquiá tenho dois filhos,como ficarão as familias carentes que vão ser desapropiadas,como fcarão essas familia,será que vamos ser benefisiados com uma moradia,esta resposta,só a deus pertençe.

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