Meu bairro... Moro aqui: Água Fria
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A Avenida Beberibe faz parte da história do bairro |
Texto e fotos: Gianfrancesco Mello
Água Fria
Um
dos maiores celeiros culturais do Recife. Assim podemos definir Água Fria.
Trata-se de um daqueles bairros que, se não pararmos para prestar atenção,
memórias culturais passam despercebidas em meio às casas, às ruas, aos prédios
e ao comércio. Lugar de pastoris, maracatus, afoxés, escola de samba, além de
muitas outras agremiações carnavalescas e também do Terreiro do Pai Adão, o
bairro faz parte da Zona Norte do Recife e tem muito a nos mostrar.
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Nossa guia Ana Farias. Foto: Divulgação |
Água
Fria integra a 2ª Região Político-Administrativa da cidade, fazendo limite com bairros
como Alto Santa Teresinha, Arruda, Beberibe, Bomba do Hemetério, Campina do
Barreto, Fundão, Linha do Tiro e Porto da Madeira. O bairro nasceu de uma das
localidades mais antigas do Recife, Beberibe. O nome tem origem em várias
versões: uma delas, considerada fantasiosa, diz ter existido ali, no século
XIX, um menino que vendia cocadas e oferecia aos fregueses água bem fria. O
mais provável é que o bairro tenha ficado com esse nome porque assim é chamado
um dos afluentes do Rio Beberibe, que corta a região.
Para
nos guiar pelo bairro, convidamos a fundadora da Companhia de Dança Giselly
Andrade, Ana Farias. A Cia existe há 14 anos e participa coreograficamente dos
ciclos carnavalesco, junino e natalino. “Moro no bairro há 22 anos e, desde
então, comecei a me envolver com cultura para poder ocupar o dia a dia da minha
filha Giselly Andrade. Com o tempo, foram gostando do nosso trabalho e
começamos a ser chamadas, cada vez mais, para outras apresentações”, explica
Ana. Mesmo começando como uma brincadeira, o grupo se destacou e, atualmente, é
um dos mais requisitados do município. “Ensaiamos aqui mesmo em casa (Rua
Doutor Pereira da Silva) e as personagens principais ficam com aquelas que
tirarem as melhores notas no colégio. São, ao todo, 19 meninas. Algumas estão
no grupo desde muito pequenas”, pontua.
Maracatu Nação Raízes de Pai Adão. Foto: Divulgação |
Água
Fria sempre foi berço ou abrigo de artistas, atletas, políticos e escritores. Dos
mais famosos, lembremos-nos de Sivuca, do cineasta Vladimir Carvalho, do cantor
Orlando Dias, do Mestre Ginu do Mamulengo, do goleiro Manga, do Pai Adão do
Xangô, do Maestro Formiga, do seu João do Caldíssimo e de Gregório Bezerra. Água
Fria dos carnavais é lugar de grupos como o Urso Brilhante do Coque, o Urso do
Vizinho, o Urso Teu Urso, o Urso Cangaçá de Água Fria, o Grêmio Recreativo
Cultural Urso do Ovão, a Troça Carnavalesca Mista Missangueiras, a Troça
Carnavalesca Mista Batutas de Água Fria, a Troça Carnavalesca Mista Espanador
de Água Fria, o Clube de Frevo Amantes das Flores, a Tribo de Índios Tupi
Oriental – Recife, o Caboclinhos Oxóssi Pena Branca, o Caboclinhos 7 Flexas, o Maracatu
Cambinda Africano e o Maracatu Nação Raízes de Pai Adão.
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Mercado Público de Água Fria |
Lugar
de muita badalação cultural, o bairro ainda possui o Mercado Público de Água
Fria, que teve sua construção iniciada no dia 28 de julho de 1952 e está
localizado na Avenida Beberibe. A inauguração aconteceu dois anos depois, no
dia 26 de janeiro. Como na maioria dos mercados da capital pernambucana, no
local, havia uma pequena feira, onde se comercializavam frutas, verduras e
outros gêneros. Nos dias de hoje, o forte do mercado são os artigos de umbanda
e candomblé, miudezas em geral e cerâmica, mais especificamente, panelas de barro.
Há ainda uma forte procura pelo café da manhã típico com cuscuz, macaxeira,
inhame com charque ou carne guisada, além da busca pelo preço do almoço
comercial. Ao lado, na Rua Japaranduba, existe a relocação provisória da Feira
Livre.
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Relocação provisória da Feira Livre na Rua Japaranduba |
Percorrendo
pelas ruas do bairro, a agitação e tráfego nos fazem até achar que se trata de
mais um lugar como outro qualquer. Todavia, o bairro é mais do que um simples
lugar para morar ou comercializar. Isso porque Água Fria seja pelo Mercado Público,
o Bloco dos Irresponsáveis, a macaxeira do Gordo, o lendário Bar do Cabaço ou
pelo boneco negro chamado de Benedito, que era levado por um ventríloquo para o
mercado, é um dos bairros com mais história cultural no Recife. Berço de muitas
descobertas, o Brasil inteiro precisa dar valor a esse lugar simplório, no
entanto, que desperta nos moradores o amor pela cultura local.
Mais fotos:
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Caboclinhos 7 Flexas. Foto: Divulgação |
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Companhia de Dança Giselly Andrade existe há 14 anos. Foto: Divulgação |
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Pastoris marcam a história de Água Fria. Foto: Divulgação |
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O forte do mercado são os artigos de umbanda e candomblé, miudezas em geral e cerâmica |
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