Meu bairro... Moro aqui: Ibura

Além de muitas casas, podem-se encontrar
sonhos culturais no Ibura
Texto e fotos Gianfrancesco Mello

Ibura – Parte II

O bairro do Ibura vem se reinventando. Caminhando pelas ruas asfaltadas ou não, admiramos a beleza dos morros, a união dos moradores e sentimos o suave vento que bate nas nossas faces em um dos pontos mais altos da UR-5. A sensação aqui faz com que o tempo passe mais lento e possamos perceber que, além de muitas casas, podem-se encontrar sonhos culturais e sociais. Isso nos remete ainda ao século XIX, período em que existiu um engenho de açúcar de mesmo nome. Falando em nome, originou-se da língua tupi e significa “água que arrebenta”, talvez por causa das fontes de água que existem na região e que estão sob o comando do 4º Batalhão de Comunicação do Exército. Uma dessas fontes, denominada “Bica dos Milagres”, existente na Vila dos Milagres, na margem da BR-101, é muito procurada pelos moradores e viajantes para abastecimento de água potável.

Nossa guia Cássia Arcoverde.
Foto: Divulgação
Na década de 1940, foi construído um campo de pouso de aeronaves, denominado Campo do Ibura (Ibura Field), que originou o atual Aeroporto Internacional dos Guararapes Gilberto Freyre, localizado nos dias de hoje no bairro da Imbiribeira. Essa pista se estendia desde a Avenida Barão de Souza Leão, em Boa Viagem, até o Parque da Aeronáutica. Nessa mesma época, acontecia a Segunda Guerra Mundial e o Recife serviu de base para os soldados americanos se abastecerem para o combate no Atlântico Sul, e o Ibura fez parte da história que garantiu a vitória dos países aliados na luta contra Adolph Hitler.

Integrante da 6ª Região Político-Administrativa do Recife (RPA-6), na Zona Sul da cidade, que é formada por um total de oito bairros, o Ibura fica entre os bairros de Arreias, Barro, Caçote, Ipsep, Imbiribeira, Boa Viagem, Jordão e Cohab. É o terceiro maior bairro recifense em extensão territorial, atrás apenas da Guabiraba e da Várzea. E para adentrar melhor nesse bairro cheio de história, convidamos a promoter Cássia Arcoverde, que mora há 21 anos na UR-5, para nos guiar por ele. “Aqui, não tem muita coisa cultural e, por isso, os moradores começam a formar grupos de dança, teatro e até mesmo quadrilhas”, explica. Ela diz que é uma das maneiras de tirar os jovens das ruas para não se envolverem em coisas erradas como o tráfico de drogas. “Nas associações de todas as URs, podemos encontrar diversas atividades sociais e culturais. Isso acaba sendo alternativa para todos nós”, completa.

Quadrilha Junina Brincant’s Show. Foto: Divulgação
O nosso passeio teve início na Escola Municipal Engenheiro Guilherme Diniz, na Rua Tereza Margarida. O local serviu para o surgimento de alguns grupos culturais, entre eles a Quadrilha Junina Brincant’s Show. Formada, inicialmente, por crianças da escola, a quadrilha se originou por causa do sonho de toda uma comunidade que precisava ter algum atrativo diferente no seu dia a dia. “Para nós da direção, é um prazer fazer parte dessa iniciativa. Mas, com o tempo, as crianças foram crescendo e tivemos a necessidade de acabar com a quadrilha infantil e fundar a adulta, denominada Quadrilha Junina Brincant’s. O nosso maior propósito é fazer o encontro dos amigos e tirar a juventude da realidade das drogas”, pontua Kátia Marinho, uma das diretoras da quadrilha que possui o envolvimento de 90 pessoas, aproximadamente.


Associação dos Moradores da UR-6
De lá, fomos até a Rua Gregório de Matos Guerra, na UR-6, para conhecer a Associação dos Moradores do local, que foi fundada em 1976 e serve como encontro de jovens todas as terças e quintas. Na Associação, eles aprendem a tocar instrumentos de percussão. Da UR-6, dirigimo-nos até a UR-11 e lá encontramos ótimas iniciativas realizadas pela Associação dos Moradores, localizada na Rua 40. De acordo com o presidente, Carlos André, o espaço é um verdadeiro ponto de cultura e a ideia é reunir grupos de todas as partes do Ibura. “Queremos usar esse espaço e movimentá-lo de alguma forma.” O produtor cultural Paulo Phrança, mais conhecido como Paulinho Phuba, é o grande incentivador das atividades culturais na região. “Participei da Brincant’s infantil e dou uma força aos adultos. Lembro até que o nome da quadrilha surgiu por causa de Antônio Carlos Nóbrega, que possui projetos com a mesma identidade e, então, decidimos fazer uma homenagem a essa figura tão importante da nossa cultura”, fala.


Carlos André e Paulinho Phuba, da Associação
dos Moradores da UR-11
O Ibura, a partir do mês de setembro, contará com o Terreiro Phertil da Associação dos Moradores da UR-11. Trata-se de um projeto que pretende desenvolver diversas atividades culturais como palestras, exibição de documentários, aulas de dança e teatro. “A nossa intenção é contribuir com os sonhos e torná-los realidade”, frisa Carlos André. Em frente à Associação, existe uma área de lazer, que é aproveitada pelas famílias do bairro. “Tentamos aproveitar o nosso bairro da melhor maneira possível”, enfatiza Phuba. Por ser um dos maiores bairros da capital pernambucana, claro que não iríamos conseguir retratar em poucas páginas tanta riqueza cultural existente no bairro. Existem muitos outros movimentos e grupos no Ibura como o Explosão Cultural (hip hop), a Cia de Folguedos, a Quadrilha Matutinho Dançante (uma das mais antigas em atividade no Estado), o Pinto do Dia (bloco que sai no Carnaval), a Cia. 8 de Dança, a Cia. de Dança e Teatro Luadart, a Cia. AJE de Dança, o Grupo 6’1 de Dança, a Saltos Cia de Dança e o Ballet Corpo em Linha . Esperamos, portanto, representar esses movimentos nessa matéria. Aos que não conhecem ainda o Ibura, sintam-se convidados para respirar, também, essa efervescência cultural.

Mais fotos:

Cia. de Dança e Teatro Luadart. Foto: Alcides Ferraz

Cia. AJE de Dança. Foto: Fernando Azevedo

Área de lazer em frente à Associação dos Moradores da UR-11

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