Meu bairro... Moro aqui: Zumbi

Praça Esperança, também conhecida como Praça do Zumbi

Texto e fotos: Gianfrancesco Mello

Algo comum entre muitos recifenses é passear de ônibus pelos diversos bairros da cidade ou até mesmo em seus carros e observar a paisagem. Confesso que circulo bastante pelo Recife e, quase sempre, deixo passar despercebido algum detalhe peculiar de certos bairros. Quem nunca passou pela Avenida Caxangá? Acredito que dificilmente aparecerá alguém que não tenha transitado por aqueles lados. Nos últimos meses, tenho observado com mais atenção tudo ao meu redor e minhas idas e vindas, aos locais costumeiros, são como se percorresse os caminhos pela primeira vez. Ao fazer isso, percebi que, verdadeiramente, não conheço o Recife. São tantos detalhes, tantas nuanças e histórias enraizadas que fica difícil afirmar que conhecemos a capital pernambucana.

Nossa guia: a atriz Dany Brito
Neste mês de maio, vamos conhecer o bairro do Zumbi, que pertence à Região Político-Administrativa 4 (RPA 4), popularmente conhecida como Oeste da cidade. Cordeiro, Prado, Madalena e Torre são os bairros que encontramos nas extremidades do Zumbi. O local era um sítio de propriedade de Constâncio Maranhão. Na década de 1920, foi arrendado a um senhor conhecido por Major Pessoa e o sítio passou a se chamar Sítio do Major. Com a morte do arrendatário, o sítio mudou de mãos. Mas, pelos boatos que corriam de que ali apareciam assombrações, passou a se chamar Zumbi. Leia-se que zumbi é uma criatura fictícia que aparece nos livros e na cultura popular tipicamente como um morto reanimado, ou seja, um morto-vivo.

Jardim das Festas Buffet e Recepções, na Rua Caratinga
Enfim, para dar início a nossa “peregrinação” pela localidade, convidamos a moradora e atriz recifense Dany Brito, para nos mostrar o bairro. A família dela mora no Zumbi há anos e Dany, a nossa guia do mês, nasceu nesse bairro. Hoje, com 19 anos, ela vive em meio às grandes transformações urbanas da região. “Minha vida toda foi aqui. Minha avó (Ângela Fialho), por exemplo, veio morar aqui com minha mãe há uns 25 anos. Nesse tempo, muitas construções foram feitas e o bairro começou a ser modificado. Chegou até a ficar menor do que era antes”, explica. A atriz nos levou inicialmente até o Jardim das Festas Buffet e Recepções, na Rua Caratinga. O local destina-se à realização de casamentos, bailes, aniversários e até missas. “Faz mais de 15 anos que eu tenho este espaço e moro no bairro há 40”, informou a proprietária, Alcione Fragoso, que também é artesã.


Jandeck Barbosa, Ângela Fialho, Dany Brito e
Alcione Fragoso representam os moradores
do bairro do Zumbi
Lá, tivemos uma calorosa recepção e conhecemos ainda o senhor Jandeck Barbosa. O pai dele foi o segundo morador do Zumbi e ele lembra com detalhes as transformações sofridas com o passar dos anos. “Antes, tudo era de uma portuguesa chamada Suzana Vieira. Ela foi, aos poucos, vendendo tudo e se mudou para Portugal. Nunca mais tivemos notícias sobre ela. Algo que funcionava em pleno vapor era a Fábrica do Zumbi. Mas, com o tempo, ela fechou. Atualmente, a Prefeitura do Recife está finalizando o projeto de transformar a antiga fábrica em uma área poliesportiva de cultura, saúde e lazer”, pontua.

Centro de Apoio Psicossocial em Álcool e
Outras Drogas, na Rua Rondônia
Depois de uma breve conversa, Dany Brito, nossa guia, levou-nos até a Praça Esperança, também conhecida como Praça do Zumbi, ainda na Rua Caratinga. “Aqui, normalmente, acontecem todas as festividades do bairro, sejam elas recreativas, educativas, esportivas ou religiosas, com a reza do terço. Tudo é concentrado na praça”, frisa a nossa guia. A praça é bem singular, igual ao bairro como um todo. Percebemos muitas moradias, em quase sua totalidade. Depois de clicarmos fotografarmos a pracinha, fomos até o Centro de Apoio Psicossocial em Álcool e Outras Drogas (CAPS – AD – Eulâmpio Cordeiro), na Rua Rondônia. Trata-se do primeiro serviço público destinado ao auxílio de usuários e dependentes químicos em Pernambuco. O centro de reabilitação atende principalmente a homens na faixa etária entre 40 e 50 anos. Fundado no dia 10 de maio de 1986 pelo psiquiatra José Carlos Escobar, o estabelecimento já atendeu a mais de 8 mil usuários de álcool e outros entorpecentes. Hoje, a unidade realiza aproximadamente 150 atendimentos mensais e 45 diários.

Capela Escola Santa Terezinha
Perto dali, na Rua Abrahão Alliz, existe a Capela Escola Santa Terezinha. Modesta. Se não parássemos para observar, passaria despercebida por causa da imensa quantidade de cor, som e cheiros. Por fim, chegamos à Casa de Apoio ao Idoso Vovó Bibia (Caivob), que fica na Rua Frei Teófilo de Virgoleta. A casa é uma organização sem fins lucrativos que foi fundada em 2004. Lá, trabalha-se com programas de inclusão social e criou-se um banco para atender a população idosa carente. A ONG atua na prevenção de doenças com palestras, oficinas e cursos para os “cuidadores”. Eles oferecem várias atividades, como aulas de ioga e informática, além de promoverem bazares e aulas de pintura. As atividades também são feitas por pessoas de qualquer idade.

Casa de Apoio ao Idoso Vovó Bibia, na Rua Frei Teófilo de Virgoleta
Assim foi a nossa visita ao bairro do Zumbi, que se reinventa a cada dia. É uma parte da terra que não se rende aos holandeses, portugueses ou ao avanço do mar. A explicação morto-vivo não condiz, pois a brisa do desenvolvimento sopra constantemente o bairro. Além disso, seus moradores são a prova de que tudo está muito vivo e atuante por lá. Por isso, até mais, bairro do Zumbi!

Comentários

  1. Amei. Meu pai, jandeck, ama esse bairro e tem muita historia para contar!!!

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  2. Muito bom conhecer a história dos territórios. Penso que toda a cidade poderia ser contemplada com suas histórias, e que fossem transmitidas aos estudantes como conteúdo pedagógico em todos os currículos. Parabéns!

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  3. Nasci no Zumbí em 1959,muitas histórias boas.

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