Meu bairro... Moro aqui: Apipucos

Açude de Apipucos - ecologia no meio do
crescimento urbano acelerado

Texto e fotos: Gianfrancesco Mello

Palco de batalhas durante a Revolução Praieira no ano de 1849, atualmente, o bairro de Apipucos, na Zona Norte do Recife, possui várias mansões, principalmente à beira do Açude de Apipucos. O seu nome ceriva-se etimologicamente do tupi apé-puc, que significa caminho que se bifurca ou caminho longo. Isso surgiu por causa da conformação da estrada que existia no local e que até os dias de hoje faz parte do bairro. Pela origem do nome é possível que existisse um povoado indígena na localidade, antes da chegada dos portugueses. A região foi terra do Engenho São Pantaleão do Monteiro e, em 1577, parte dela foi dividida, surgindo o Engenho Apipucos, do colono Leonardo Pereira. Logo depois, passou para Dona Jerônima de Almeida e, em seguida, para Gaspar de Mendonça. Em 1630, Mendonça era o proprietário quando os holandeses invadiram o local. Em 1645, a Capela Nossa Senhora das Dores foi totalmente saqueada, teve imagens quebradas, paramentos, alfaias e móveis destruídos. A povoação da época também sofreu uma pilhagem completa, tendo os holandeses levado para o engenho de Dona Anna Paes ou Casa Forte todo o gado, escravos e mercadorias que encontraram.

Fundação Joaquim Nabuco
Segundo a bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco Lúcia Gaspar, com a guerra da Restauração, o Engenho de Apipucos ficou algum tempo abandonado, sendo restaurado, no entanto, depois do conflito. Até o século XVIII, a paisagem era característica de engenho, mas, a partir do século XIX, surgiram sítios e chácaras, onde os moradores do centro da cidade passavam os meses de verão. As águas do rio Capibaribe naquela região eram recomendadas para banhos medicinais. A bibliotecária explica ainda que existia na época o Hotel de Apipucos, localizado em um casarão que pertenceu depois a Delmiro Gouveia – a Vila Anunciada e onde, hoje, funciona a Unidade Central da Diretoria de Documentação da Fundação Joaquim Nabuco.


Fundação Gilberto Freyre
Casa - Museu Magdalena e Gilberto Freyre
O escritor Gilberto Freyre sempre frisou que a vida naquela região se resumia a banhos de rio pela manhã, jogo de cartas à tarde e, à noite, pastoris e danças. Essa era a rotina do povoado que, por causa do clima ameno e dos banhos de rio, ajudou a alavancar a região. Isso porque foi em Apipucos que se instalou a primeira companhia de transportes públicos, explorada pelo inglês Thomas Sayle, em 1841, e depois por Cláudio Dubeux, um morador de Apipucos. As diligências eram puxadas por cinco cavalos, com capacidade para aproximadamente 20 passageiros na parte interna e outros na parte de cima.

Casa - Museu Magdalena e Gilberto Freyre
Por ser um bairro bastante requisitado, Apipucos, no século XX, ganhou uma nova configuração urbana, pois foi escolhido como local de residência pelos ingleses, que introduziram o hábito de construir casarões com jardins e utilizar a água como recurso paisagístico. Foi nessa localidade que se instalou a Fábrica de Tecidos Othon Bezerra de Mello, popularmente conhecida como a Fábrica da Macaxeira. Além de Delmiro Gouveia, o bairro serviu de local de descanso e refúgio para muitos moradores ilustres como o pintor Murillo La Greca, o jornalista Assis Chateaubriand, o historiador Alfredo de Carvalho, a família de Burle Marx, parentes de Demócrito de Souza Filho e o sociólogo Gilberto Freyre, cuja residência, conhecida como o Solar de Santo Antônio, abriga a Fundação Gilberto Freyre. Falando nisso, Gilberto Freyre, falecido em 18 de julho de 1987, está sepultado junto de sua esposa, Magdalena, no mausoléu construído no jardim da sua casa.

Faculdade Marista
Gruta Nossa Senhora de Lourdes
Nesse mesmo bairro, instalou-se, no dia 16 de janeiro de 1911, a comunidade dos Irmãos Maristas do Norte do Brasil. Naquele dia, o Irmão Conon, acompanhado do Irmão Ludovico, visitou uma casa que já lhes havia chamado a atenção. No dia seguinte, o então Provincial, Irmão Alypius, também visitou a casa e, da mesma forma, o local também lhe agradou. Finalmente, no dia 14 de maio de 1914, a Província tornou-se proprietária da casa e dos oito hectares de terreno que formavam esse sítio. A partir daí, os Irmãos se tornaram pedreiros, serventes e carpinteiros, tomando para si a responsabilidade por uma série de construções que, com advento da primeira grande Guerra Mundial, foram interrompidas no período de 1914 a 1918. Em 1920, retomaram a construção do lado sul. Depois, veio a construção da capela, em 1926. A partir de 1950, a casa já apresentava várias outras construções sucessivas. No dia 20 de janeiro de 2006, a casa passou a ser o novo campus da Faculdade Marista. Com isso, da época primitiva, restou apenas o térreo, que se encontra à esquerda de quem sobe a atual escadaria central e algumas paredes do 1º andar, do mesmo lado. O local abriga também a Gruta Nossa Senhora de Lourdes, que é uma reprodução da Gruta de Lourdes, na França. A gruta foi inaugurado no dia 11 de fevereiro de 1947.

Capela Nossa Senhora das Dores, na Rua Dois Irmãos
Nosso guia Padre Moisés Ferreira
Distante cerca de nove quilômetros do centro da cidade, Apipucos possui 1,2 quilômetros quadrados de área, uma população de mais de três mil habitantes e é protegido pela Lei Municipal 13.975/1979. Apipucos faz parte das Zonas Especiais de Interesse Social, denominada ZEIS. Completam essa abrangência a Vila Macionila/Mussum e parte da Vila São João. Depois de toda a evolução histórica, a Agenda Cultural do Recife foi conferir de perto as transformações urbanas que o bairro recebeu nos últimos anos. Para ser o nosso guia, convidamos o padre renponsável pela Capela Nossa Senhora das Dores, Moisés Ferreira, situada na Rua Dois Irmãos. Nessa mesma rua, podemos encontrar casas com arquitetura centenária, que nos remete imediatamente ao passado.

Parque Apipucos Maximiano Campos
Parque Apipucos Maximiano Campos
Logo mais à frente, deparamo-nos com a Rose Beltrão Recepções já nos confins do bairro. A casa atua há mais de 20 anos no mercado de festas e eventos, buscando a excelência nos serviços e na gastronomia que oferece. Ao retornarmos, aportamos no Parque Apipucos Maximiano Campos, que foi entregue à população pela Prefeitura do Recife no dia 21 de dezembro de 2012. O equipamento conta com uma área de 11,5 mil metros quadrados e faz parte do Programa Capibaribe Melhor. A primeira etapa denominada “Janela para o Capibaribe” é composta pelo Pavilhão Casa Grande (passeio central, quiosques e mirante), o espaço Recreativo Cultural (anfiteatro e academia ao ar livre, além de brinquedos infantis), Administração e Serviços (estacionamento com vaga para 46 carros e dois ônibus, bicicletário, etc), além da área Passeio/Cooper, espaço exclusivo para caminhadas e corridas. Isso foi o estopim para novas propostas urbanas que surgem para a localidade. Na atualidade, empreendimentos estão sendo planejados para a região, tornando o bairro mais atrativo financeiramente e valorizando, cada vez mais, a ecologia e os espaços públicos da região.

Casarões complementam a paisagem do bairro
Casas centenárias na Rua Dois Irmãos
Amparado pelos bairros da Caxangá, Dois Irmãos, Córrego do Jenipapo, Macaxeira, Alto do Mandu, Monteiro e Iputinga, o bairro sobre o qual nos referimos neste mês de abril vive glorioso em meio ao contraste social dos seus vizinhos. No fim do nosso passeio por Apipucos, acabamos por reparar uma cena singular. Aquele pedaço de chão, mais precisamente o açude, continua sendo cenário de diversão para jovens carentes da região, ou seja, a tradição de se banhar nas águas é uma realidade que persiste até os nossos dias. Ali, a recompensa foi dada por Deus de forma justa a cada varão. Eles pulavam e sorriam. Quiséramos nós que todos os bairros nos chamassem a atenção com uma diversão simples, mas garantida. Assim foi o nosso passeio por esse bairro que muito representa para a história do Recife.

Confira mais fotos:

Jovens de localidades vizinhas resgatam a tradição do banho de rio

Associação dos Empregados da Fundação Joaquim Nabuco

Praça Gilberto Freyre


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