Circo: Gilberto Trindade

Foto: Wagner Sales

Por Gianfrancesco Mello

Gilberto Trindade

Gilberto Trindade é sociólogo, pós-graduado em História da Arte e da Religião, pesquisador, ator e circense. Como parte das comemorações do Dia do Circo, que acontece no dia 27 de março, a Agenda o convidou para falar um pouco sobre o circo e suas atividades, em entrevista dada ao repórter Gianfrancesco Mello. A data foi criada em homenagem ao palhaço Piolim, Abelardo Pinto, nascido em 27 de março de 1897. Piolim comandou o circo de mesmo nome por mais de trinta anos. Seu pai havia sido dono de circo quando Abelardo ainda era pequeno, local onde aprendeu a tocar violino, a fazer contorcionismos e acrobacias. O artista nasceu em Ribeirão Preto, no estado de São Paulo.

1.      Agenda Cultural - Como começou o seu envolvimento com o circo?

Gilberto Trindade - Bem, acho que o circo surgiu na minha vida desde muito pequeno, pois meus pais sempre proporcionaram muito lazer para toda a família. Íamos para o Cais do Recife. Lá, havia um grande terreno para circos médios e grandes com toda a infraestrutura de estacionamento. Isso antes de existirem todos esses prédios da Polícia Federal, da Prefeitura do Recife ou do Tribunal. Existia todo um encantamento de criança com pipoca, bailado, trapezistas e palhaços; circos como Thiany, com o qual fiquei muito emocionado com sua chegada em grande estilo ao Recife. Recentemente, dividi essa sensação com amigos e a trupe (Circo da Trindade), ou seja, a força desse show por meio de Bartholo, Beto Carreiro, Garcia, Orlando Orfei, Stancowick e tantos outros que trouxeram os Trapalhões para suas lonas ao vivo. Muitas dessas casas de espetáculos e seus mestres, infelizmente, não estão mais levando seus múltiplos saberes ao Brasil e ao mundo. É um tesouro que vou levar para os meus filhos e quem sabe até os netos. Depois, foi como se chama no popular: “uma vida normal” até começar a carreira artística e outro encontro mais maduro com o circo através de uma montagem com o encenador Moncho Rodrigues, na obra Ditirambos, com forte ligação nos saltimbancos, mambembes, artistas de ruas e feiras. Foi um marco para começar a lei da atração com o circo.

Palhaço Cascatinha. Foto: Oscar Malta
2.      AC - Atualmente, como está o cenário circense no Recife?

GT - É uma pergunta que, talvez, eu não seja a pessoa mais indicada para respondê-la, pois o Circo da Trindade está me consumindo todos os dias, o dia todo. Só ouço os rechaços dos artistas que encontro por acaso na rua ou pelas redes sociais. Houve desencontros no decorrer da história do circo no Recife, apesar de tantas ações, eventos e encontros que marcaram não só a política cultural na capital pernambucana como também no Brasil. Existiram nomes de relevância que dedicaram suas vidas a organizar, pesquisar e fomentar essa arte como Marco Camarotti, Luíz Maurício Carvalheira, Palhaço Cascudo, Zé do Foto, Palhaço Gameloso e Severina Ramos.

3.      AC - O Circo da Trindade – Centro de Formação Aérea forma, cada vez mais, profissionais circenses. Que tipo de público frequenta as oficinas de circo?

GT - O Centro de Formação Aérea Pavilhão Marco Camarotti tem uma história de muito esforço e conquistas, pois surgiu em 2007 como centro de treinamento para o Circo da Trindade no seu afã de estudar as acrobacias aéreas. O Circo da Trindade abre suas portas ao público que deseja conhecer a arte do circo ou se exercitar de forma não convencional. O espaço também forma artistas profissionais que hoje estão cursando, por exemplo, na Escola Nacional de Circo do Rio de Janeiro.


4.      AC - O circo sobreviverá no meio de tantas tecnologias? Por quê?

GT - O circo, segundo Ermínia Silva - doutora no assunto, nasceu de braços dados com a tecnologia. Isso porque sua caminhada e sobrevivência dependiam e dependem de tudo que está a serviço não só do espetáculo como também do que o cerca. Então, será vital dentro dos seus saberes, os circenses continuarem buscando a tecnologia. Não havendo essa aliança, corre o risco de se configurar um quadro conhecido de inversão de valores, isto é, o circo depressivo, onde se troca as relações culturais por assistência social.

5.      AC - Fale um pouco sobre o Circo da Trindade. Quando surgiu? Quem foi seu idealizador? Quais serviços? Quais são os integrantes?

GT - O Circo da Trindade surgiu do desejo da imersão de se viver, respirar, pesquisar, reinventar, apaixonar-se e até odiar o circo, mesmo que passageiro. É como se pudesse comparar, talvez, com o futebol, uma paixão nacional, no qual se veste uma camisa do seu time desde bebê e nunca mais irá tirá-la, passando para os filhos e netos. Tenho certeza que escolhi a área certa e talvez isso seja muito caro, pois muitos que estão nesse ”muído” (como se diz popularmente) não tiveram a opção de escolher.

A idealização desse sonho foi por meio do desejo, como citei, de se trabalhar com pessoas sensíveis, que conseguissem vislumbrar os mesmos sentimentos. E tiveram tantas pessoas que deixaram o melhor delas no Circo da Trindade, que corro o risco de  cometer injustiças citando apenas alguns nomes. Aproveito para agradecer desde já aos parceiros e também ressaltar os 10 anos da companhia. Temos três pilares como missão: catalogar a memória de culturas populares, o desenvolvimento sustentável e a economia solidária. Dentre esses pilares, prestamos os serviços de formação, pesquisa, locação e confecção de equipamentos e apresentação do repertório (oito espetáculos).

Temos, atualmente, como integrantes da companhia: Rafael Barreiros (artista e diretor artístico), Clênio Oliveira, Gabriel Dantas, Itallaneyz Cavalcanti, Fabiana Amaral e Paula Basso. Gostaria de fechar com chave de ouro, como se fala no circo, e dizer que março é um mês em homenagem ao circo, e frisar que me sinto honrado de estar nesta edição compartilhando as comemorações do Circo da Trindade. 

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