Casa da Cultura Luiz Gonzaga: a fortaleza multicultural do Recife
| Casa da Cultura Luiz Gonzaga |
Texto e fotos: Gianfrancesco Mello
Quem acha que a cultura e o turismo pernambucano se
resumem a praias e programas gastronômicos excêntricos, está completamente
enganado. Isso porque a Casa da Cultura Luiz Gonzaga, localizada no centro do
Recife, é um dos roteiros indispensáveis para quem visita ou mora na capital do
Estado. Passear entre lojas e artesanatos faz com que conheçamos a história
local por meio de diferentes artes. Todos que a visitam ficam deslumbrados, inicialmente,
com a variedade do artesanato, que vem de mais de 149 municípios de Pernambuco.
Ao chegar, ainda no lado de fora,
ouvi um visitante questionando o guia turístico sobre a arquitetura da casa:
“qual o motivo dela ter um aspecto
tão rústico”, perguntou. A dúvida dele é certamente a de muitos que não
conhecem o ambiente. Para tirar as minhas dúvidas e também as suas, fui ao encontro
do passado. Lendo diversos livros e artigos na internet, tomei ciência de que,
em 1848, o governo da província de Pernambuco resolveu construir uma nova
cadeia no Recife. As obras, iniciadas no ano de 1850, basearam-se no projeto do
engenheiro Mamede Alves Ferreira, idealizador de mais dois prédios históricos
tombados: o Ginásio Pernambuco e o Hospital Pedro II.
A nova Casa de Detenção do
Recife, com 8,4 mil m² de área construída e 6 mil m² de pátio externo, foi
finalizada em 1867. Na época, seu projeto foi concebido seguindo o modelo de
penitenciária mais moderno existente na França. Com essa lógica, o edifício,
inaugurado no ano de 1855, apresenta o formato de cruz, e é composto por quatro
raios correspondentes aos pontos cardeais: Norte, Sul, Leste e Oeste (todos com
três pavimentos, que se juntam para um saguão central, coberto por uma cúpula
metálica – o Mirante).
| Casa da Cultura Luiz Gonzaga: o passado e o presente se encontram sem agressão |
De acordo com o site da Associação dos Lojistas da
Casa da Cultura Luiz Gonzaga, o prédio, tombado pela Fundação do Patrimônio
Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), em 1980, funcionou como
penitenciária durante 118 anos. Em 1963, o então chefe da Casa Civil, Francisco
Brennand, imaginou que o local poderia ser transformado em uma casa que
abrigasse toda a produção cultural de Pernambuco, criando assim uma instituição
similar aos centros de educação nas áreas de literatura, teatro, música e artes
plásticas que estavam sendo criados na França pelo escritor André Malraux. Contudo,
a ideia só foi posta em prática quando a Casa de Detenção chegou a uma
superpopulação de mil presos. Esse excesso de detentos e a noção de que não era
mais seguro manter uma casa de detenção no centro da cidade fizeram com que, em
1973, o então governador Eraldo Gueiros Leite decidisse fechar a Casa de
Detenção do Recife e enviasse os presos, em sua maioria, para a Penitenciária
Agrícola de Itamaracá. Na ocasião, foram necessários estudos para adaptar a
antiga Casa de Detenção às suas novas funções, ficando o projeto para
restauração do antigo complexo neoclássico sob a responsabilidade da arquiteta
ítalo-brasileira Lina Bo Bardi e Jorge Martins Junior e a restauração e o
aparelhamento a cargo da Fundarpe. Três anos depois do fechamento da Casa de
Detenção, em 14 de abril de 1976, a Casa da Cultura foi inaugurada.
| Comerciantes atraem turistas de todos os lugares |
Com a inauguração, as antigas celas – que também
abrigaram personalidades como Antonio Silvino, Gregório Bezerra, Paulo
Cavalcanti, Graciliano Ramos, entre outros – foram transformadas em 110 lojas
de artesanato, livrarias e lanchonetes – apenas uma, no raio Leste, permanece
exatamente como foi deixada pelos presos. Por lá, além do comércio, no pátio
externo há shows, manifestações populares e folclóricas e comidas típicas
feitas na hora. Para os turistas que desejam levar souvenires, o ambiente é o ideal, pois reúne bom preço e variedade.
Os que desejam um momento mais cult e
introspectivo, o pátio da Casa está à disposição para uma leitura ou um
descanso entre um banco e outro.
| Maria José Félix Moutinho, coordenadora de gestão da Casa da Cultura Luiz Gonzaga |
Segundo a coordenadora de gestão da Casa da Cultura
Luiz Gonzaga, Maria José Félix Moutinho, quando a nova gestão assumiu, a missão
foi colocar ordem na casa, pois o espaço estava ‘esquecido’. “A casa é um
equipamento comercial, mas também multicultural. Desde o início, quisemos
resgatar a nossa cultura e tudo que tivesse a ver com as nossas raízes. O mais
importante é que o próprio recifense dê valor a esse espaço que foi feito
também para ele. Aqui, o passado ‘aprisionado’ e o presente cultural convivem
harmoniosamente. O nosso objetivo para 2013 é ampliar o leque para sermos
também um ponto de instrução com cursos profissionalizantes. Temos espaço pra
tudo, inclusive para o lazer.”
A fortaleza
da cultura abriga a única livraria especializada em livros de Pernambuco, cybercafé,
sala de pesquisa, teatro, Concha Acústica e Anfiteatro externo, além do Museu
do Frevo e ainda várias entidades culturais como a Associação dos Lojistas da
Casa da Cultura Luiz Gonzaga, a Federação de Teatro de Pernambuco, a Associação
de Capoeira, entre outras. A decoração acompanha os ciclos quaresmal, junino e
folclórico. O prédio passou por uma reforma no ano de 2004, quando foram
recuperadas a área externa e todas as instalações hidráulicas e elétricas, além
de terem sido instalados três novos elevadores panorâmicos. Foi colocado um
painel em cada um dos três portões de acesso e outros no saguão central
representando a Revolução de 1817 e o martírio de Frei Caneca, pintado pelo
pernambucano Cícero Dias.
| Atrações culturais animam o espaço regularmente |
A movimentação do local varia de acordo com os
períodos. Na baixa estação, fica em torno de 500 pessoas por dia e, nos
períodos de alta estação, alcança uma média de 3 mil pessoas por dia. Todavia,
vale salientar que sua localização no coração da cidade, ao lado da estação de
metrô, atrai os que estão de passagem. Muita gente que trabalha no centro e
mora por perto visita o ponto no horário do almoço para aproveitar o ambiente
agradável e respirar a multiculturalidade
do Recife. O espaço leva-nos a uma viagem ao passado e nos proporciona um
passeio que faz bem à alma e ao conhecimento. Aberto das 9h às 19h.
Mais fotos:
| O local serviu de prisão para muitos nomes famosos |
| O lugar ideal para aprender e levar lembranças do Estado |
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| A Revolução de 1824_Casa da Cultura Luiz Gonzaga |
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| A Revolução de 1817_Casa da Cultura Luiz Gonzaga |
| Casa da Cultura Luiz Gonzaga. Foto: Arquivo Governo do Estado |
| Casa da Cultura Luiz Gonzaga. Foto: Arquivo Governo do Estado |
| Casa da Cultura Luiz Gonzaga. Foto: Arquivo Governo do Estado |


Parabéns pela postagem, perfeita!
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