Meu bairro... Moro aqui: Imbiribeira


Crescimento urbano na Lagoa do Araçá. Foto: Innó

Por: Gianfrancesco Mello

Ao visitar um bairro e ficar por dentro da sua história, podemos viajar além das suas estruturas e formas. Com essa visão, o bairro ganha vida e respira em meio ao crescimento de uma globalização desenfreada. É no olhar, nas cores das suas casas (leia-se prédios e comércios) e nas conversas trocadas durante a correria do dia a dia, que essas linhas do tempo nos remetem a algo que não é só nosso, mas de todos aqueles que vivem na localidade. É nesse cenário de pessoas caminhando apressadas, do tráfego intenso e da movimentação abundante de cidade grande que o bairro da Imbiribeira, na Zona Sul do Recife, dá-nos o prazer de se “achegar mais um bocado”. Com isso, deixamos de lado o papel de transeunte e passamos a ter uma figuração de investigador dos atrativos culturais da região.

Avenida Marechal Mascarenhas de Morais.
Foto: Gianfrancesco Mello
Com aproximadamente 49 mil habitantes, a Imbiribeira integra a 6ª Região Político-Administrativa da cidade e faz limite com os bairros do Pina, Boa Viagem, Ipsep, Jiquiá e Afogados. A sua origem se deu no antigo Sítio da Barreta, uma grande extensão de terras entre o Recife e Jaboatão, onde, em 1630, existia um engenho e um depósito para armazenar açúcar. Utilizando a Estrada da Barreta, o exército holandês se deslocou até o Monte Guararapes durante a invasão holandesa, onde seriam finalmente derrotados e expulsos em 1654. A região teve muitos proprietários e vários nomes como, por exemplo, Sítio da Barreta, Estância da Barreta, Estrada da Barreta, Passo da Barreta e, depois, somente Barreta. Tratava-se de uma região estratégica na Capitania. Por fim, com a expulsão dos holandeses, todas as terras da Barreta voltaram para as mãos da Família Real Portuguesa, que começou a desmembrar a área em inúmeros sítios.


Innó no seu Museu do Retrato. Foto: Innó
Com o passar do tempo, no final do século XVII, os padres Jesuítas do Recife tornaram-se proprietários de algumas porções de terras na Barreta e construíram uma capela dedicada a Nossa Senhora do Rosário. O local logo ganhou fama por causa de denúncias de que estaria sendo usado para encontros amorosos dos padres com suas amantes. Por esse motivo, os religiosos acabaram deixando a área que virou uma fazenda de criação de gado.  O Sítio da Imbiribeira fazia parte dessas terras. Foi então que, a partir de 1837, depois da abertura da passagem chamada Estrada da Imbiribeira, o povoado cresceu. Já em setembro de 1893, marinheiros envolvidos na Revolta da Armada, rebelião militar iniciada no Rio de Janeiro, foram fuzilados na região porque estavam de passagem pelo Recife. A investida foi liderada pelo almirante Custódio José de Melo. O movimento era contra o presidente Floriano Peixoto, que se recusava a realizar eleições e estava no poder desde a renúncia de Deodoro da Fonseca, em 1891.

Innó, nosso guia. Foto: Gianfrancesco Mello
O nome Imbiribeira é um termo de origem indígena e deriva de uma planta nativa brasileira da família das mystaceas chamada Imbira. Na 6ª Região Político-Administrativa da cidade, existe um parque ecológico com área aproximada de 12 hectares e uma lagoa denominada Lagoa do Araçá. A Lagoa do Araçá é a única lagoa natural ainda existente na cidade. Ela foi urbanizada em 1993 e inaugurada no dia 17 de dezembro de 1994. Após vários anos de descaso, a Lagoa do Araçá vem passando, desde 2009, por obras de recuperação e, junto com a região conhecida como Vila Pinheiros, tem recebido obras de saneamento básico, além da requalificação da Avenida Arquiteto Luís Nunes, principal acesso da lagoa, assim como a Avenida Pinheiros.

Geraldão. Foto: Gianfrancesco Mello
Para melhor nos explicar sobre a realidade diária da Imbiribeira, convidamos o artista plástico Luiz Inocêncio Lima Filho, mais conhecido como Innó, para nos acompanhar numa tarde inteira pelas ruas e avenidas do bairro. Segundo Innó, a área tem sido alvo de expansão imobiliária, que pode, se não for bem acompanhada, comprometer o seu principal atrativo, que é a beleza natural da lagoa rodeada de mangue e das várias espécies de aves. Criado na Imbiribeira, Innó cursou Engenharia Elétrica na Escola Politécnica e Administração de Empresas na UFPE, mas foi no campo das artes visuais que encontrou a sua vocação profissional. Atualmente, desenvolve diferentes processos criativos fazendo uso da fotografia e de técnicas da pintura industrial artística na construção ou desconstrução da imagem. Entre os anos 1998 e 2002, capturou mais de 16 mil fotos da diversidade cultural recifense. “Resolvi deixar a Engenharia Elétrica para me dedicar à arte. Com o passar dos anos, criei o Museu do Retrato para melhorar o descobrimento cultural da região.” O museu fica na Rua Zeferino Pinho, 547.

Museu do Retrato, do artista plástico Innó.
Foto: Gianfrancesco Mello
Uma das outras “chamas” do bairro é, de fato, a Avenida Mascarenhas de Morais por se tratar de um corredor imobiliário, educacional e, principalmente, comercial. É na avenida que encontramos o Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães, núcleo que coordena as políticas esportivas da gestão municipal. Além da gestão de ações que promovem a integração de atividades esportivas e de lazer, o Geraldão, como é popularmente conhecido, oferece periodicamente aulas em modalidades esportivas, através das escolinhas de futsal, basquete, voleibol, handebol, ginástica olímpica, caratê, judô, capoeira, kickboxing, hidromassagem, natação, ginástica localizada e aeróbica. Também funciona para grupos de caminhada, dança de salão, dança popular e breakdance. As escolinhas são abertas a todas as pessoas, independentemente da idade, com exceção das alas de natação, que são destinadas apenas a crianças. Ao redor da avenida e nas ruas por trás dela, podemos encontrar 67 opções de bares, restaurantes, padarias e lanchonetes, que permitem aos moradores e aos visitantes uma grande diversidade gastronômica.

Ilha de Deus e o meio de transporte e pesca. Foto: Innó
A Imbiribeira também nos chama a atenção pela sua distribuição social. Na região, diversas comunidades carentes integram seu mapa geográfico. Em especial, uma delas se destaca por conta de um movimento de resistência surgido na Ilha de Deus, em 2002, chamado Ação Comunitária Caranguejo Uçá. A iniciativa, composta por jovens da própria comunidade e de outras localidades, tem a missão principal de contribuir para o processo de construção do pensamento crítico e favorecer a descoberta da capacidade e força inerentes a todo ser humano. Essa ideologia deve ser mantida em razão da identificação de suas potencialidades, tendo como base a arte em suas diversas formas. O projeto se propõe estimular a estrutura educacional básica necessária para a apropriação do exercício da cidadania, assim como identificar, articular e conquistar parceiros do poder público e da sociedade civil que tenham como compromisso a formação, a politização e a inclusão socieconômica e cultural do mangue.

Lagoa do Araçá. Foto: Innó
Ao anoitecer, despedimo-nos da Imbiribeira. Nesse momento, é possível ver moradores caminhando pela Lagoa do Araçá ou até mesmo usufruindo a noite, que silencia o barulhento trânsito de um dia agitado. Essas coisas que nem imaginávamos ser possível encontrar nos arredores da cidade grande, tornaram-se realidade nesse bairro. Todavia, para sentir o clima da Imbiribeira, é necessário estar lá, viver e presenciar o que a região tem a nos oferecer.

Confira mais fotos:
A Lagoa do Araçá também serve de encontro para pescaria.
Foto: Innó

Moradores aproveitam a tranquilidade da Lagoa do Araçá.
Foto: Gianfrancesco Mello
A Lagoa do Araçá também tem espaço para a prática da fé.
Foto: Gianfrancesco Mello

Innó nos mostra a exuberância da Lagoa do Araçá.
Foto: Gianfrancesco Mello

Posto policial garante a segurança na Lagoa do Araçá.
Foto: Gianfrancesco Mello

Pracinha da Lagoa do Araçá. Foto: Gianfrancesco Mello
Sarau in Concert no Museu do Retrato. Foto: Innó

Sarau in Concert no Museu do Retrato. Foto: Innó

Viaduto Tancredo Neves na Avenida Marechal
Mascarenhas de Morais. Foto: Gianfrancesco Mello

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