Eduardo Araújo um pintor inquieto entre o Brasil e a Itália em exposição no Museu do Estado


Eduardo Araújo no momento da sua criação.
Foto: Divulgação
Até 30 de dezembro, os trabalhos do pintor Eduardo Araújo estarão em exposição no Museu do Estado. O artista que, há dez anos não faz uma individual em Recife, apresenta um seriado de 50 xilogravuras feitas em 1991, 1998 e 2000, parte delas na Itália, sendo na maioria preto e branco e 40 pinturas recentes em óleo sobre tela. Eduardo Araújo é da geração do Ateliê Coletivo Contemporâneo de Olinda. Ele costuma dizer que o ateliê se dividia em três gerações: a dele com Luciano Pinheiro e Zé de Barros a de Guita, Zé Claudio, Samico, Bacaro, José Barbosa e a de Gil Vicente, entre outros .

O catálogo contem texto do pintor José Cláudio e da curadora Betânia Correia de Araújo. A rica biografia artística do pintor que nasceu em Escada, em 1947, assim como Cícero Dia, também ganhou o mundo. A biografia é comentada por Gianluca Marinelli. A exposição conta com o apoio da Fundarpe, Museu da Cidade do Recife e a CEPE.

O interesse de Eduardo em ser artista plástico veio aos poucos, de observações e visitas a museus. Na sua permanência de dois anos no Rio de Janeiro, cresce o seu interesse pelas artes. Frequenta assiduamente exposições e os leilões de arte, que naquela época comercializavam pintores como Ismael Nery, Guiganar, Volpi, Di Cavalcanti, Rebolo e tantos outros. Passa dois anos em Londres frequenta cursos livres de desenho com modelo na Chelsea Svool of Art e tem a certeza de que realmente queria ser pintor deixando para traz a engenharia de Minas e professor de Geologia Aplicada da UFPE.


  Na sua longa história de idas e vindas, o Inquieto Eduardo, ávido a conhecer melhor a arte que abraçou morou durante 12 anos em Ostuni interior da Itália com 20 mil habitantes. Sem deixar suas raízes vinha sempre a Pernambuco. Ali começa uma nova etapa de sua vida artística entre o mar Adriático, se dedicando primeiramente a xilogravura com estudos da cidade medieval de Gubbio, onde expõe a sua obra gráfica.A Xilogravura “Paisagem Metafísica “, é premiada pelo Centro  Cultural Mario Conti de França e estará na exposição.

Eduardo estudou por conta própria, anatomia, perspectiva e teoria das cores. Frequentando o gabinete de desenhos do British museum, teve a oportunidade de um contato direto com os desenhos dos mestres renascentistas. Período de cotidiana leitura da edição inglesa das cartas completas de Van Gog.

 Em 1999 inicia um estudo exaustivo dos campos de oliveiras que se estendem na planície entre Ostuni e o Mar Adriático. Pinta por dois anos, uma centena de telas, que seria a sua última série de trabalhos realizados diretamente da natureza. São pinturas particularmente complexas como definição de espaço, os planos quase se dividem em três , quatro ou oito blocos  de pinceladas não uniformes com cores fortes( vermelho terra, ocre e várias tonalidades de verde), frequentemente as copas verde oliva invadem em diversas direções o espaço da tela, com buracos brancos.

A exposição que hoje Eduardo apresenta no Museu do Estado é de temas variados, amadurecida durante anos de grande dedicação e um persistente exercício interior. Todo o seu trabalho tem uma qualidade hoje rara, na arte contemporânea. O que vale apena conhecer seus trabalhos. 

A curadora Betânia Araújo diz que encontra nas obras de Eduardo a urgência de expressar a beleza do mundo. A tentativa de fixar em suportes materiais as experiências gravadas na pele. A possibilidade de dizer o indizível. Em gestos violentos ou delicados em telas, papel ou madeira surgem paisagens/corpos ou corpos/paisagens. Pintura diz ela é coisa mental- a mão, o braço, a imagem, todo o corpo.

Já José Claudio interpreta o mundo criador de Eduardo, dizendo que ele não é deste mundo. “Ele olha para o nosso Paraíso terreal com certo enfado. Quanto barulho que há, parece dizer tudo vaidade.” Para o também pintor, Eduardo Araújo cometeu um deslize na vida: entregou-se ao danado vício de pintar. Avassalador. O Tinhoso sempre encontra uma brecha para mostrar, aos eleitos, que são feitos de barro, barro esse que, em Eduardo, depois de uma “avatar” como geólogo, se fez carne sob as espécies de pintura, condenando-o a pintar.

José Claudio expressa o carinho e o respeito pelo o trabalho do colega Eduardo Araújo ressaltando ser ele um pintor racional, ou Clássico, mais de muita emoção. “Eduardo precisa de um ordenamento feito para ele entender a natureza, com frequência na disposição da pincelada nos grandes planos. Quando falo do sublime, do sagrado, é como se os seus quadros estivessem parados, estático contemplativos. Fora do mundo e do tempo, querendo salientar o seu sentimento profundo, sua religiosidade”, diz José Claudio.

José Claudio vai mais além ao citar a “carnalidade” insuperável no trabalho de Eduardo referindo-se ao quadro (Mulher na rede, verde, Francisca) E, com ser analítico, não exclui a grandiosidade, magnificência (Grande Céu, paisagens do Sertão), ou Flagrante (Banho de Mar) e os mais altos acordes do lirismo (Paixão).

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