Por trás das cortinas / Flávio Luiz


Flávio Luiz em Cleópatra do Morro.
Foto: Divulgação
Por Manoel Constantino

O trabalho do ator requer uma permanente disponibilidade para novos caminhos, reciclagens, desafios e uma boa dose de bom senso, humor, alegria, além do exercício cotidiano de ficar antenado com o mundo ao seu redor. Tudo faz parte do processo de construção do ator que realmente se dedica e ama o fazer teatral. Imagine agora um ator que atua na cena e ao mesmo tempo faz a produção dos seus trabalhos, convivendo e buscando patrocínios, provocando o público e tudo que seja necessário para manter o espetáculo em cartaz. Flávio Luiz trabalha desse jeito há mais de 20 anos. Muito suor mas, por trás de toda essa batalha, há um comediante de mão cheia que não perde a chance de dialogar com o seu público.

Manoel Constantino – Como foi a tal descoberta do teatro para você, quais os caminhos que percorreu para o encontro com essa arte tão diferente do seu mundo na época?

Flávio Luiz - Eram dois mundos. Na realidade estava no quartel em 1983, quando resolvi ir ao Diretório Central dos Estudantes que ficava quase na esquina da Rua do Hospício com a Conde da Boa Vista, pois soube que ali aconteciam encontros de grupos de teatro amador estudantil. A partir daí tudo começou a se modificar na minha vida. Fui fazer um curso de ator pela Fundarpe,  na Casa da Cultura.  Logo em seguida entrei em uma montagem de um espetáculo, que ficou em cartaz no Teatro de Santa Isabel, na época sob a administração de Geninha da Rosa Borges que me deu muita força e acreditou em mim,  mesmo sendo recém-ingresso ao universo o teatro. Ela foi de uma  gentileza  e  sutileza ímpares.


Manoel Constantino – Como definiria a comédia para você e seu público?

Flávio Luiz – Gosto do riso fácil, que traz o público para perto de mim. Quando você faz um trabalho bem elaborado,  buscando construir uma personagem  que possua elementos de identificação com o seu público-alvo, há, quase sempre, um retorno imediato, na hora da cena. Naquele momento das risadas do público, no caso da comédia, o ator recebe uma dose de energia muito bacana.

Manoel Constantino - Você é considerado como um dos bons produtores do Recife. Quais os caminhos, as alegrias e as decepções, que o produtor percorre aqui em Pernambuco?

Flávio Luiz – Tenho vontade de soltar várias risadas quando falo em produção. Não é um riso fácil. É riso da piada que incomoda. Há muitos caminhos quando estamos produzindo e nessa estrada encontramos pessoas equivocadas, ideias que, de imediato, sabemos que não funcionam. Quando tenho um projeto na minha mão, preciso estudar todas as estratégias possíveis e criativas para chegar ao objetivo final: o produto teatral que seja atrativo para o possível patrocinador, apoiador, parceiro e principalmente que possa cativar o público. Saber conduzir o projeto é a chave do possível sucesso. Com o surgimento das leis de incentivo que não contemplam espetáculos que classificam como “besteirol”, passei a enfrentar muitas barreiras. Ora, não importa que seja tragédia ou comédia ou besteirol, o que importa é a qualidade do produto e para qual público é direcionado. A arte é subjetiva. Acho que nós temos espaços para todo tipo de espetáculos. Algumas empresas de grande porte só querem usar as leis de incentivo e como somos independentes, perdemos alguns parceiros. Por outro há uma série de empresas que se identificam com o seu produto, com o seu projeto de espetáculo e sabem que podemos, juntos,  desenvolver um trabalho sério, com retorno midiático para os parceiros.

Manoel Constantino  - Quais os sentimentos que você vive quando está no palco e ao mesmo tempo produzindo?

Flávio Luiz – São poucas as pessoas que se interessam em ser produtor, com todas as letras que o empreendimento exige, sabendo dos riscos e das responsabilidades. Quando comecei a produzir foi muito mais por necessidade, por não ter ninguém do grupo que topasse. Encarei a tarefa e fui descobrindo os caminhos. Quanto ao palco, é minha maior alegria defender personagens, visto que ali estou sendo inteiro. Tudo é à flor da pele, principalmente quando trabalho com o teatro improvisacional. Tudo pode acontecer ali, no fluxo e refluxo que tenho com o público.Nesses momentos, o ator funciona no aqui e no agora. Gosto muito de estar em cena e respeito profundamente a plateia.

Manoel Constantino - Como você percebe a produção independente, sem patrocínio das leis de incentivo à cultura e quais os seus entraves?

Flávio Luiz – São muitas dificuldades. Temos que matar os piores bichos, uma selva inteira todos os dias. Se para quem utiliza as leis de incentivo também há dificuldades, imagine quem não as utilizam? Sabemos que há saídas. Por exemplo, porque o Estado ainda não implantou o projeto Todos com a Nota para as artes cênicas? Funciona muito bem para o futebol. Acredito que funcionaria com as artes cênicas e aí poderíamos criar, de fato, um mercado de trabalho para todos, atores, técnicos e produtores.

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