Caxuxa, Caetana e Divinas se despedem do público do Barreto Júnior
Depois de quase um mês de ações no
Teatro Barreto Júnior, no Pina, em comemoração ao seu aniversário de oito anos,
a Duas Companhias se despede da temporada neste final de semana. Nesta sexta-feira
(19), às 20h, tem a peça "Divinas". No sábado (20), às 16h30 tem
"Caxuxa" e às 20h, o espetáculo "Caetana". No domingo (21),
mais uma sessão de "Caxuxa", às 16h30 e outra de "Divinas"
às 20h. O ingresso será vendido a R$ 8 para todas as apresentações.
Além dos espetáculos, foram realizadas
ao longo da trajetória, leituras dramatizadas gratuitas das obras de Oswald
Barroso e Hermilo Borba Filho e duas aulas espetáculo. Também segue em cartaz
até este final de semana a exposição “Risos da memória”, no primeiro andar do
teatro, com fotos que contam a trajetória do grupo e as afinidades e afetos
reunidos ao longo da caminhada. As fotografias são assinadas por Daniela Nader,
Renata Pires, Fred Jordão, Rodolfo Araújo, Renato Filho, Roberta Guimarães e Dudu
Schneider.
A Duas Companhias - O nascimento da Duas
Companhias partiu das atrizes pernambucanas Lívia Falcão e Fabiana Pirro, que
tinham vontade de falar do seu lugar de origem, investigar sua cultura,
mergulhar nas suas raízes. De 2004 a 2010, elas realizaram as montagens de
Caetana, com texto e direção de Moncho Rodriguez (espetáculo visto por mais de
75 mil espectadores e que permanece em cartaz até hoje), e A Árvore de Júlia,
com direção de Lívia Falcão; lançaram o livro “Uma história do teatro pernambucano
daqui pr'ali e de lá pra cá” e o documentário “Caetana o Filme”; produziram
oficinas e ciclos de leituras dramatizadas; e viajaram pelo Brasil e pela
Europa com o repertório da Companhia.
Em 2011, com o elenco e o time de
produção reforçados, a Duas Companhias realizou o pioneiro projeto “Formação de
Mulheres Palhaças em PE” e o “Que Comédia! Ciclo de Leituras da Commedia
Dell'Arte” e estreou mais um espetáculo, Divinas. Em 2012, a companhia comemora
oito anos de vida e trabalho com Caetana e Divinas na estrada, e o nascimento
do musical Caxuxa com o elenco jovem da trupe.
A
poesia e encantamento do espetáculo Divinas
Divinas é uma celebração e apresenta em
clima de brincadeira e poesia três figuras contadoras de histórias, na pele das
palhaças Uruba (Fabiana Pirro), Bandeira (Odília Nunes) e Zanoia (Lívia
Falcão), atravessando tempos e geografias diversas numa caminhada sobre a
delicadeza e a força na busca dos sonhos.
Tudo em diálogo com a música, a poesia
popular e a arte do palhaço. A peça foi pensada para ser livre e poder ser
encenada em qualquer espaço, no palco, nas praças, nas ruas... A montagem já teve uma elogiada curta
temporada no Teatro Barreto Júnior, no Recife e uma participação comemorada no
Festival de Circo do Brasil, incluindo duas apresentações abertas em praças do
Recife e Olinda, além do Janeiro de Grandes Espetáculos e Festival de Inverno
de Garanhuns.
Depois de mais de um ano de preparação,
incluindo a realização de dois ensaios abertos, na programação do Palco Giratório,
onde o público interagiu com as artistas, tecendo comentários e colaborando
também com o processo de criação, Divinas estreou no início de outubro de 2011,
no Teatro Barreto Júnior. A peça tem música ao vivo comandada pelo
percussionista Luca Teixeira e trilha sonora assinada por Beto Lemos. A
preparação das atrizes na arte da palhaçaria para encarar o espetáculo foi
feita pela palhaça e atriz Adelvane Néia, de Campinas. Na equipe de dramaturgia
o professor, filósofo e poeta Marcelo Pelizzoli, o escritor e poeta Samarone
Lima e a jornalista, poeta e dançarina Silvia Góes.
O trabalho de pesquisa para a encenação
de Divinas começou em 2010, com a orientação de dramaturgia e direção do
espanhol Moncho Rodriguez, que passou quinze dias no Recife num programa de
imersão com a equipe e com a participação de Lívia Falcão, Fabiana Pirro e
Luciano Pontes como atores-pesquisadores. Depois dos primeiros estudos e
ensaios abertos, outros projetos da Duas Companhias foram a razão de um
intervalo no trabalho. O retorno efetivo do processo se deu em abril de 2011 e
para dar continuidade ao projeto, a Duas Companhias convidou a atriz Odília
Nunes para dividir o palco com Lívia e Fabiana. A palhaça Adelvane Néia, de
Campinas (SP), foi chamada para conduzir os improvisos e preparar as três
palhaças em cena. Marcelo, Samarone Lima e Silvia Góes foram convidados para
integrar a dramaturgia desta segunda fase de montagem da peça.
Desde o princípio a interação entre os
artistas e o público guiou o projeto e já em 2010 foram realizados alguns
ensaios abertos no Centro Apolo Hermilo. O convite para o Palco Giratório com a
demonstração do processo na última fase de lapidação do espetáculo foi uma nova
oportunidade de dialogar com o público e estudar as reações ao que vinha sendo
proposto em cena.
O trabalho em conjunto transforma o
grupo num grande amálgama de criatividade. A partir das improvisações das três
palhaças, os dramaturgos se inspiraram na elaboração do texto, que foi levado
de volta às palhaças e novamente trabalhado junto com as figuras. Na
construção, Adelvane Néia foi conduzindo como uma maestra os sons da orquestra.
A opção pela presença em cena e ao vivo do percussionista Luca Teixeira em
diálogo com os atrapalhamentos e poesias das três palhaças foi testada durante
os ensaios abertos e afinada para as apresentações que se seguiram, rendendo
elogios de público e crítica.
Divinas dá continuidade ao movimento em
busca de um corpo de mulher no universo do clown, criando uma linguagem própria
da palhaça. A integração de Adelvane Néia ao trabalho de pesquisa de Divinas se
deu a partir de novembro de 2010, quando, a convite da Duas Companhias, veio
ministrar as aulas do projeto “Formação de Mulheres Palhaças em Pernambuco”,
com a participação de quinze mulheres do estado.
Caxuxa
para crianças de todas as idades
Um convite à vida colorida a partir da
beleza dos sonhos, vozes que brincam e cantam juntas e que trazem ao público a
força de letras divertidas com frases como: “Tem que sonhar, porque senão fica
chato!” O musical “Caxuxa” estreou em abril deste ano.
Toda a peça se passa numa noite, na qual
as crianças, ao invés de dormir, resolvem sonhar acordadas. “Caxuxa” dramatiza
esses sonhos com muita leveza e alegria, e navega na ideia de que todo ser
humano, de qualquer cor, idade, raça ou crença tem sempre o desejo de, em algum
momento, se sentir outro, metamorfosear-se. Em cena, jogando com a simplicidade
e a criatividade, e corporificando com graça essa criança brincante que há em
todo ser humano, o talento das jovens atrizes Anaíra Mahin, Marina Duarte,
Natascha Falcão e Olga Ferrario é somado à experiência do ator e também diretor
deste espetáculo, Cláudio Ferrario.
Juntos, eles vivem intensamente cada sonho com a certeza de que estes
são reais e representam os desejos, a criatividade e a poesia de qualquer pessoa.
O texto original de “Caxuxa” é de
Ronaldo Ciambroni, com adaptação e músicas de João Falcão. Cenário e figurinos
de Fabiana Pirro em parceria com a equipe. Iluminação de Luciana Raposo.
Direção musical de Adriana Milet. As coreografias foram criadas com a
participação de todo o elenco e dos diretores, com a colaboração da bailarina
Silvia Góes, do Coletivo Lugar Comum. A direção geral é assinada em dupla por
Cláudio Ferrário e Lívia Falcão.
“Caxuxa”, segundo Lívia, é um musical para
todas as idades e conta a história de quatro crianças e um homem cego que vivem
na rua transformando sua realidade através dos sonhos a cada momento, dando
espaço e voz aos “outros” que sempre nos habitam como seres humanos. “Todos
temos o desejo de vez em quando de nos sentirmos outro né?”, diz Lívia.
Caetana
marca o começo dessa história
A comédia teatral CAETANA, com Lívia
Falcão e Fabiana Pirro, estreou em 2004 numa apresentação em Garanhuns (terra
natal da atriz Lívia Falcão). O espetáculo dirigido por Moncho Rodriguez e com
texto do próprio Moncho em parceria com Weydson Barros Leal, passou por várias
cidades do Nordeste, pelo Sudeste, Sul, já teve até temporada na Europa, foi
indicado ao Prêmio SHELL e reuniu mais de 50 mil espectadores ao redor do
mundo.
“Para mim CAETANA é sempre um desafio.
Benta é a personagem que mais exige da atriz Lívia, em tudo, voz, corpo,
interpretação. É o meu 100%.”, diz Lívia Falcão, que encarna a divertida
rezadeira Benta, arrancando risos e lágrimas da plateia por onde passa.
Tomando como base a pesquisa
desenvolvida pelo encenador Moncho Rodriguez na procura de novas linguagens
para um teatro de identidade nordestina, a peça trata do tema da moça CAETANA,
inspiração armorialista utilizada pelo dramaturgo Ariano Suassuna em suas obras
e poemas.
CAETANA é a identidade da morte, aqui
interpretada por Fabiana Pirro. Lívia Falcão “encarna” Benta, uma rezadeira
“encomendadora” de almas que, após indicar o caminho do além a tantas outras,
vê-se diante do seu próprio encontro com a CAETANA. As almas anteriormente
encomendadas por Benta reaparecem para um divertido encontro em forma de
bonecos, articulados e dublados por Fabiana.
Em 2005, Lívia Falcão e Fabiana Pirro
receberam o Prêmio APACEPE de melhor atriz e atriz coadjuvante, respectivamente,
no projeto “Janeiro de Grandes Espetáculos”. O prêmio também foi conferido às
categorias figurino, maquiagem, produção e ainda o Especial do Júri em
Dramaturgia para o encenador Moncho Rodriguez e o poeta Weydson Barros Leal. O
espetáculo também foi indicado ao Prêmio SHELL, o mais importante do teatro
nacional, em três categorias: melhor atriz (Lívia Falcão), melhor texto
(Weydson Barros Leal e Moncho Rodriguez) e melhor trilha sonora (Narciso
Fernandes).
“A encenação resgata elementos do teatro
das tradições populares e os transforma em linguagens renovadas de
contemporaneidade. Um teatro de celebração, de encantamento e diversão”,
destaca Moncho Rodriguez. CAETANA aparece de forma poética, com muita música e
celebrações presentes no imaginário popular do Nordeste.
A morte passa pelo memorial do
imaginário nordestino deixando um rastro de histórias, mistérios, encantamentos
e assombrações que despertam a curiosidade num universo de fábulas e crendices
que terminaram se tornando íntimos do povo.
O circo, o desaparecimento, os desafios
do amor e da vida, as diferentes formas de aparições dessa CAETANA estão
presentes no espetáculo, escrito a quatro mãos por Moncho Rodriguez e pelo
poeta Weydson Barros Leal, que marcou com CAETANA a sua estreia na dramaturgia
teatral.
De acordo com Moncho Rodriguez, que
também assina a cenografia e o figurino, a cenografia do espetáculo propõe a
autonomia de mobilidade levando a cena completa para qualquer lugar onde possa
se realizar. Trata-se de uma “máquina teatral” circense, onde já se incrusta a
própria iluminação, o som, os efeitos visuais. “Assim, resgatamos a praticidade
dos antigos comediantes mambembes, que percorriam cidades e feiras levando seu
teatro a todos os lugares”, explica.
CAETANA também leva ao palco o diálogo
entre atrizes e bonecos, sempre dublados por Fabiana Pirro, que encarna, além
da própria CAETANA em carne e osso, papéis complementares à trama. São
esculturas volumétricas, utilizando materiais reciclados e alternativos,
misturados com elementos puros da tecelagem usada no interior do Nordeste por
artesãos e bordadeiras. O bêbado, que aparece num divertido diálogo com a velha
encomendadora de almas Benta – personagem de Lívia Falcão – é representado por
um cabo de vassoura na mão de Fabiana, relembrando uma brincadeira de infância
comum no interior.
Espanhol, nascido em Vigo, ao longo de
30 anos de carreira o encenador Moncho Rodriguez desenvolveu vários projetos de
pesquisa no teatro do mundo ibérico em Portugal, na Espanha e no Brasil.
Dirigiu importantes companhias de teatro oficiais e independentes e foi
formador de muitos jovens atores que hoje atuam no cenário do teatro ibérico
nos três países. Nos últimos 15 anos tem se dedicado ao estudo e pesquisa da
dramaturgia ibérica no Nordeste do Brasil, promovendo e criando espetáculos com
outros dramaturgos nordestinos como Lourdes Ramalho (PB), Ronaldo de Brito
(PE), Racine Santos (RN), Aglaé Fontes de Alencar (SE), Oswald Barroso (CE).
Entre os principais projetos de
intercâmbio entre a península ibérica e o Brasil destaca-se o projeto
Cumplicidades, do qual foi idealizador e coordenador na primeira jornada.
Financiado pela Comunidade Europeia, realizou ainda projetos como o Universo do
Cordel, com jovens atores de Portugal, Uruguai, Espanha e Brasil. Promoveu
circuitos de descentralização teatral na Espanha e Portugal e dirigiu no Vale
do Ave, em Portugal, a Oficina – Centro de Artes e Mestres Tradicionais, com a
participação de mais de 400 jovens integrados em programas de re-inserção
social.
Quem são os personagens de CAETANA
segundo o diretor Moncho Rodriguez:
Benta – interpretada por Lívia Falcão.
“É uma encomendadora de almas.
Representa a mãe coragem, o espírito nordestino daqueles que tentam
sobreviver”.
CAETANA – interpretada por Fabiana Pirro.
“É a morte presente em nosso imaginário
lúdico. A tragédia transformada em riso”.
Ninguém – boneco inspirado nos cabeçudos
populares.
“É o homem simples do povo. O
moleque-de-recado, sem alternativas de profissão. É visto como louco, porque só
loucos conseguem sobreviver assim”.
Epifânio – boneco inspirado nos
trabalhos do Mestre Saúba, de Carpina, andando sempre bambo sobre uma bicicletinha.
“É o político corno. Representa toda a
minha raiva do egoísmo do poder”.
Rita Tabaqueira – boneco inspirado num
tipo de marionete utilizado numa ópera em Lisboa. Escultura com meio corpo
próprio e que utiliza parte do corpo do ator.
“É a mulher reprimida pela Igreja e pela
família do Sertão, desvendando o desejo feminino”.
Tonho da Braúna – boneco construído
sobre um cabo de vassoura.
“É o bêbado e poeta. Representa o
romântico, que transforma tudo numa brincadeira. Uma homenagem aos poetas populares.
Tonho já ganhou inclusive um papel no meu próximo espetáculo”.
Dioclécio – boneco inspirado nos
mamulengos.
“Faz parte do universo dos excluídos e é
exatamente dele que vem a consciência do humano. É um homossexual, sensível e
prestativo e termina emprestando à Benta a consciência do que é viver sem a
“chave da vida”.
O Anunciador – interpretado por Fabiana
Pirro.
“É muito parecido comigo”.
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