Autor de Zé, Clamor, Estuário e Viagem ao Crepúsculo, escritor Samarone Lima lança na quarta (17)
Assim começa o longo poema Tempo de
Vidro, que dá título a um dos volumes que compõe junto com a coletânea A Praça
Azul a caixa poética que o escritor Samarone Lima apresenta ao público nesta
quarta-feira (17). Abrir essa “caixa” foi algo que Samarone desejou durante
muito tempo, mas por humildade talvez, timidez quem sabe, ou exigência poética,
esperou 43 anos para concretizar. E o feito pode ser creditado à generosidade
de um desconhecido, hoje amigo e confidente, que um dia visitou o endereço
eletrônico www.quemerospoemas.blogspot.com (onde sem alarde eram publicados os
versos do poeta desde 2005). O nome dele é Arsênio Meira Júnior, um apaixonado
estudioso, que dá a sua versão dessa história no posfácio de A Praça Azul.
“Li todos os poemas em seu blog. Reli,
continuo lendo, e o impacto permanece incólume”, diz Arsênio no texto. Samarone
conta que por ser muito criterioso com poesia ainda achava que ia demorar muito
até publicar, até que Arsênio começou a frequentar o “quemeros”. “Era uma
pessoa que eu não conhecia e começou a fazer comentários aprofundados sobre a
minha escrita poética, ele entendia muito sobre o assunto. Comecei a falar com
ele por email até que nos encontramos e ele sempre repetia que eu devia
publicar o livro, que não dava para esconder os poemas. Foi aumentando a
amizade e a confiança e propus que ele fizesse a seleção. Ele, muito generoso,
leu todos os arquivos do blog e fez a “curadoria” para a publicação de A Praça
Azul”, destaca Samarone Lima.
Com Tempo de Vidro a vontade de publicar
tinha levado o autor a imprimir um pequeno volume simples, filho único, que
carregava com ele para aprimoramentos. Esse também foi marcado por
generosidades. “Viajei para um evento literário junto com Ronaldo Correia de
Brito e entreguei o poema para que ele pudesse dar uma olhada no caminho. Ele
me chamou junto, deu várias sugestões, discutiu a necessidade de cortes.
Terminei indo várias vezes à sua casa e ele ia lendo o poema em voz alta,
fazendo todas as observações. Foi assim que Tempo de Vidro foi lapidado”,
relembra o autor.
O posfácio de Tempo de Vidro é assinado
por Lourival Holanda: “Uma das satisfações de quem trabalha com literatura é
ser surpreendido pelo timbre de uma voz singular, dessas em que a gente,
rápido, reconhece a evidência da poesia... Quando o tropel das evocações passa,
a inteligência do poeta as agencia, seleciona, num ritmo que adormece as
memórias dele – e faz sonhar as nossas. É através da música que o poeta convoca
o infante em cada um de nós, no assombro de reconhecer o estranho que a vida
vai fazendo nascer em nós...”.
A ideia do escritor era lançar Tempo de
Vidro, somente ele, inicialmente. Veio o encontro com Arsênio e a vontade de
entregar ao público também a poesia de A Praça Azul. Como seriam dois livros em
um, em muitas conversas com a Paés para definir a edição, a decisão tomada foi
de publicar dois livros separados unidos numa caixa poética.
Samarone começou a escrever poesias,
segundo ele mesmo, entre os 12 e 13 anos. Tem “milhares” de cadernos repletos
de versos e vários diários entremeados por poemas soltos. Conta que demorou
muito para se dizer poeta, mas quando pergunto como ele gostaria de ser
lembrado, nem titubeia: “como poeta”. Na contradição tão cantada por outros, na
vastidão de conter multidões, como escreveu um dia Walt Whitman, quando
pergunto se hoje ele se reconhece e se diz poeta, Samarone responde com um brilho
de água nos olhos: “bem baixinho”.
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