As baladas cheias de estilo do Recife

Espaço Cultural Mamulengo
Por: Erika Fraga e Gianfrancesco Mello
Fotos: Gianfrancesco Mello

Não nos impressiona que uma cidade nascida e criada em berço cultural tenha vários locais em que as expressões artísticas se unam para criar um ambiente de prazer e descontração. O mais surpreendente ainda é verificar como esses lugares alimentam curiosidades e um “quê” de surpresa que dá o temperinho da descoberta de um ponto alternativo no centro da capital pernambucana. Para avaliar por quais pés anda a noite do Recife, a Agenda Cultural do Recife visitou alguns lugares badalados dos bairros do Recife, Santo Amaro, Santo Antônio e Boa Vista. Para nossa surpresa, encontramos bares e restaurantes boêmios, badalados e com diferentes alternativas para todos os gostos.

O nosso passeio de uma quinta-feira chuvosa teve início no centro histórico da cidade, o Bairro do Recife, popularmente conhecido como Recife Antigo. Lá, o nosso ponto de partida foi o Espaço Cultural Teatro Mamulengo, localizado na Rua da Guia, em frente à Praça do Arsenal.  O local, que comemora seu sexto ano de existência no mês de outubro, foi planejado estrategicamente de acordo com a necessidade cultural do bairro. Segundo Carlos Moura, proprietário do ambiente, o espaço abre as portas todos os dias da semana com uma proposta diversificada e repleta de riquezas para reinventar a noite do Recife, valorizando o que ele tem de melhor: os artistas e a cultura brasileira. “Tentei transformar o restaurante em algo ligado à cultura para me dar mais prazer de trabalhar e também para atender à demanda dos turistas. Por isso, botei o teatro de mamulengo para representar algo de nossas raízes”, frisa.

Todos os domingos, o Espaço Cultural Teatro Mamulengo oferece, aos seus frequentadores, espetáculos com bonecos de mamulengo, às 17h30. Já às 19h30, Moura realiza o Forró de 1 real. “Musicalmente falando, também temos jazz, blues e samba de raiz. Aqui, realizamos ainda lançamentos de livros e encontros de poetas mensalmente”, diz o proprietário. Com relação à gastronomia, o local oferece a típica comida regional no estilo self service no valor de R$ 17,90 (quilo), além de aperitivos como caldinho, arrumadinho e bolinho de charque.


Pepe Valença pretende movimentar a Rua da Moeda
Despedimo-nos da Rua da Guia e seguimos para a Rua da Moeda, muito frequentada por artistas. No local, existem em média 12 bares e restaurantes. Lá, o estabelecimento escolhido foi o Sushi Digital, dos empresários Pepe Valença e Valdecir Júnior. Inaugurado há pouco mais de um ano, o bar chegou para acrescentar à vida noturna da rua mais música de qualidade. Funcionando de segunda a domingo, ele apresenta uma programação diversificada. Apresentam-se no espaço, o MPB Trio (terça e quinta); Jana Figarella – voz e violão (quarta); Rock n Road com rock e música country (quinta e sábado); Isabela Moraes (sexta) e Doutores da Alegria (sábado e domingo).  É justamente essa musicalidade variada que atrai tantas pessoas, como afirma a estudante Juliana Macedo, frequentadora assídua: “o diferencial desse bar é que a maioria das bandas a gente só encontra aqui. Muitas vezes, nos outros bares, não há essa diversidade musical.” Também vale salientar que o lugar não cobra couvert artístico, sendo criado com o conceito de abraçar todas as tribos. “A nossa programação tem de tudo, pois somos democráticos, recebemos todos os públicos, até mesmo porque estamos em um bairro turístico e não podemos fazer nenhum tipo de discriminação”, comenta Pepe Valença.

Música de boa qualidade no Sushi Digital
Assim como a musicalidade, o cardápio também é variado. O carro-chefe é o sushi, como não poderia ser diferente, mas também serve comida chinesa, regional e, recentemente, foi inserido, na hora do almoço, self-service de frutos do mar. O preço também varia, no self-service é cobrado R$ 36,90 para o quilo do sushi e R$ 27,90, os demais. Já à noite, o rodízio de sushi sai por R$ 29,90. Os pratos à la carte custam R$ 18,90.

Maria Pagodinho assumiu o Bar Cordel
Deixando o Sushi Digital, mas ainda continuando na Rua da Moeda, é só andar alguns metros, no sentido do Marco zero, e encontramos a casa de número 63. Nesse espaço, está situado o Bar Cordel, a mais nova balada da região. Comandada pela sambista Maria Pagodinho, o espaço apresenta a proposta de trazer o samba para as noites da Rua da Moeda.  “Tenho 25 anos de carreira dentro do samba, já passei por muitas casas e me firmei aqui, onde canto há sete anos. Iniciei com a Confraria do Samba, mas só agora tive a oportunidade de abrir o meu próprio espaço”, revela a cantora.  Frequentado por um público cativo, que gosta de samba, o bar funciona de quinta a sábado. Durante a noite, o cardápio é composto pelos tradicionais petiscos de bar, mas aos sábados a festa começa às 13 horas, com roda de samba e feijoada.  A entrada é gratuita, e o couvert por mesa custa R$ 5.

Chegando à área mais central da cidade, entre os programas alternativos, estão os coloridos bares do Pátio de São Pedro, no bairro de Santo Antônio, que ficam lotados nos fins de semana. Também não podemos deixar de citar as noites de terça-feira do Pátio, cenário do Terça Negra, com shows de bandas de músicas afro-brasileiras. Deixamos Santo Antônio e seguimos direto ao bairro de Santo Amaro. Debaixo de chuva forte e, apesar dela, percebemos que  a nossa empolgação só fez aumentar. E seguimos em frente em busca de desvendar os segredos desses bares e restaurantes alternativos. 

Sétima Arte faz referência ao cinema nacional e internacional
Edivan André, gerente do Sétima Arte
Seguindo para mais um ponto, chegamos à Rua Capitão Lima, em Santo Amaro. O logradouro, que já abrigou e abriga vários espaços legais como Quintal do Lima, Cine Cultural Banquete, Espaço Muda e Nave, agora tem mais um espaço alternativo. Trata-se do Bar e Restaurante Sétima Arte, inaugurado há pouco mais de um mês. Apresentando uma proposta voltada para os amantes do cinema, o espaço é dividido em quatro ambientes. O primeiro ambiente é a área externa, sem som, ele é mais tranquilo e indicado para quem quer ficar curtindo o ar natural da cidade. O segundo e o terceiro ambientes têm características parecidas, são climatizados e possuem uma decoração que remete ao cinema, além de serem ambientados por trilhas sonoras de filmes. No entanto, o que mais chama a atenção ao entrar no bar é um mural formado por mais de 300 fotos e filmes variados. O projeto do bar conta com um ambiente denominado por Rústico. É nesse espaço que fica localizada a sala de artes, com exposições que serão trocadas a cada dois meses. O projeto ainda comporta música ao vivo, com apresentações de blues com a banda Projeto Blues da Praça, todas as sextas e sábados, a partir das 21 horas. “O espaço rústico é um lugar onde as pessoas podem fazer a sua festa, happy hour e confraternizações. Cabem, ao todo, 50 pessoas confortavelmente. Ele é feito para quem quer curtir música ao vivo”, explica Edivan André, gerente do lugar. O restaurante abre a partir das 11h30 para almoço e trabalha com pratos à la carte, com preços entre R$ 20 e R$ 28. As bebidas também fazem sucesso, tem para todos os gostos: vinhos e drinks, para os que gostam de bebidas mais leves, e as mais fortes para os que apreciam sabores mais intensos. Para reforçar ainda mais o clima cinematográfico, todos os pratos e drinks do cardápio têm nomes de filmes e, logo abaixo, tem-se a descrição da composição dos pratos. 

Além do moderno, o Sétima Arte aposta no rústico
A poucos metros do Sétima Arte, podemos parar no Parque 13 de Maio e adentrar a Rua Mamede Simões. Na localidade, dirigimo-nos ao Bar Central, que é conhecido como point de jornalistas e empresários, além de ser uma das melhores opções da cidade para realizar um happy hour com boa música (jazz, rock e forró de raiz) e boa comida. Enfim, entra e sai ano, o bar dos irmãos André e Isio Rosemberg não perde o fôlego, e possui em seu cardápio opções que chegam até R$ 25. Reduto de um público jovem, bonito e descolado, o point foi inaugurado em 2004. Com tantas características, não é de estranhar que as mesas estejam sempre ocupadas no momento em que o sol se põe, seja no salão, seja no mezanino, decorados com fotos do Recife, ou até mesmo em torno da colorida jukebox, dotada de um acervo com 1,5 mil músicas.

No Sétima Arte os drinks são preparados na hora
Em frente ao Central, está localizado o seu “primo pobre”, o Frontal, que tem esse nome por estar literalmente em frente ao bar do “primo rico”. Apesar da cara de botecão, o Frontal aproveita justamente a clientela que não conseguiu mesa no Central ou prefere um local um pouco mais barato e com diversas opções de caldinhos e petiscos. Se for ao local, não espere um bar com estrutura, garçom fardado e cardápio elaborado, pois as mesas ficam na rua e é tudo muito simples, mas bastante badalado. O bate-ponto no point é certo por parte dos boêmios bebedores de cerveja. O Frontal funciona se você quiser fazer apenas uma espécie de esquente para a festa ou ficar sossegado em um local descontraído. De quinta a sábado, o bar começa a encher cedo. Depois das 20 horas, a dificuldade para conseguir mesa aumenta.

Deixando o bairro de Santo Amaro, chegamos ao último bairro a ser visitado, ou seja, a Boa Vista. Na Rua Bispo Cardoso Ayres, quase imperceptível, avistam-se as cores do movimento LGBTT. Trata-se do Nosso Jeito Bar, que antes se encontrava no bairro do Ipsep e foi idealizado pela empresária Tatiana Maria junto com a sua companheira Izaura Gouveia. Em 2007, com uma proposta mais ousada, o bar foi transferido para o centro do Recife e hoje é um point do movimento. As mudanças foram feitas ao longo do tempo. Os mínimos detalhes foram observados pelas sócias e companheiras. Atualmente, para entrar no local, o interessado deve pagar uma taxa que varia entre R$ 15 e R$ 20 (dependendo da atração). De acordo com Tatiana Maria, quem chegar mais cedo, pode reverter metade do valor em consumação. “O nosso som passeia pelo forró, brega, pop, MPB e samba. Com relação ao cardápio, temos todos os dias seis opções variadas de caldinhos, que custam R$ 4. Além disso, oferecemos o prato da casa, chamado de Nosso Jeito, que leva jerimum, carne de sol e queijo de coalho ao preço de R$ 18.”

Conchittas se tornou um point alternativo no bairro da Boa Vista
Saindo do Nosso Jeito Bar, fomos até o nosso último ponto de encontro: o Conchittas Bar e Lanchonete, que fica na Avenida Manoel Borba, na Boa Vista. O nome se dá por causa da decoração. Isso porque além das pinturas, dos quadros e dos adereços nas paredes, o ambiente é coberto por chitas. “Há oito meses, a nossa proposta era abrir um estabelecimento com opções de hambúrgueres diferenciados e com temperos especiais. Com o tempo, comecei a perceber que o meu público-alvo seria mais direcionado para um bar. Nesse momento, ainda não tínhamos um nome e a gente fez uma pesquisa com os nossos clientes até chegar ao Conchittas. Com relação à música, eu me inspirei em alguns bares que frequentava”, recorda Bruno Barros, um dos proprietários. Já Keylla Amaral, que também é proprietária do local, comenta: “depois de um tempo, diversificamos os nossos cardápios, incrementando, por exemplo, o caldinho, que se tornou o nosso atrativo principal. Ainda temos o bolo de rolo feito pela mãe do Bruno, Lindalva Barros”. O público do espaço é bem alternativo e acaba atraindo a curiosidade dos transeuntes. “Aqui já virou minha parada obrigatória porque fica no caminho de casa. Quando largo do trabalho, costumo parar nesse bar e esperar o trânsito diminuir. Faz parte da minha rotina diária”, confessa o frequentador assíduo Jorge Sotero. Já Austro Filho frisa: “esse bar respira arte contemporânea e no Recife é difícil de encontrar espaços como esse”.

Keylla Amaral, Mário Lopes e Rosy Ferreira em frente ao Conchittas
Jorge Sotero (D) e seu amigo dizem que o Conchittas
virou parada obrigatória durante a semana
Para a proprietária Keylla Amaral, o mais importante é perceber que o público heterossexual está se envolvendo mais com o homossexual e sem preconceitos. “O bar acabou trazendo essa miscigenação natural. Aqui, você chega numa mesa e, de repente, já está em outra mesa.” Uma das atrações do local, a banda Cafajeste Saltissista toca o melhor do rock-pop dos anos 1980 e 1990. “A banda começou em dezembro do ano passado e, por enquanto, tocamos exclusivamente aqui, no Conchittas Bar e Lanchonete”, pontua o cantor Mário Lopes. E é dessa maneira que finalizamos a nossa peregrinação noturna por entre os bares e restaurantes alternativos do Recife. Claro que há muitos outros points descolados na cidade. Esta matéria serviu apenas para enfatizar que há vida noturna na capital pernambucana, bastando, para curti-la, somente escolher que tipo de entretenimento se quer encontrar.

Serviços:

Espaço Cultural Teatro Mamulengo
Rua da Guia, 207, Bairro do Recife
De segunda a terça-feira até 20h / Quartas, quintas e sextas-feiras até 0h / Aos sábados só funciona só quando há eventos como, por exemplo, apresentações de jazz e blues, realizadas de 15 em 15 dias sob o comando de Rodrigo Morcego e Banda. O próximo encontro será no dia 4 deste mês, das 17h às 23h / Domingos, das 16h à 0h.

Sushi Digital
Rua da Moeda, 88, Bairro do Recife
3224 3860
Todos os dias a partir das 11h

Bar Cordel
Rua da Moeda, 63, Bairro do Recife
3224 4753
Qui a partir das 19h até 0h / Sexta 19h às 3h / Sáb 13h às 3h
                                 
Sétima Arte possui  bannheiros personalizados
Bar e Restaurante Sétima Arte
Rua Capitão Lima, 195, Santo Amaro
3423 0785
Seg a qua 11h30 às 22h / Qui e sex 11h30 às 2h / Sáb a partir das 20h até 2h

Bar Central
Rua Mamede Simões, 144, Santo Amaro
3222 7622 / central@centralrecife.com.br
De segunda a sexta-feira, das 11h ao último cliente / Sábados, das 18h ao último cliente / Fecha aos domingos.

Nosso Jeito Bar
Rua Bispo Cardoso Ayres, 65, Boa Vista
3221 8337 / www.nossojeitobar.com.br / nossojeitobar@hotmail.com
Sextas-feiras, das 22h às 4h / Sábados, das 22h às 5h / Domingos, das 18h à 0h.

Um outro atrativo do Conchittas é o famoso bolo de rolo
Conchittas Bar e Lanchonete
Avenida Manoel Borba, 653, Boa Vista (Praticamente em frente à Boate Metrópole - point certo nos fins de semana da turma LGBTT)
8712 4260 / 8777 6838 / www.conchittas.com.br
De segunda a terça-feira, a partir das 18h até 1h30 / Quarta a sexta-feira, das 18h até 4h / Sábado, das 18h até às 6h.

O banheiro do Conchittas é personalizado pela  proprietária do local

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