Por trás das cortinas: Edivane Bactista e Ruy Aguiar

Ruy e Edivane. Fotos: Divulgação

Por Manoel Constantino

Há quase 15 anos, surgia no Recife a Métron Produções, capitaneada por Edivane Bactista e Ruy Aguiar, com um único sonho: desenvolver um trabalho nas artes cênicas com profissionalismo e paixão. Paixão que vem alimentando inúmeros trabalhos concretizados no Recife e em várias capitais do Nordeste brasileiro, notadamente e, em sua maioria, voltados para o público infantojuvenil. Um pouco da Métron, através de Edivane e Ruy:

Edivane Bactista (jornalista, atriz e produtora cultural) -  Recifense, iniciou sua carreira de atriz em 1988, com o Grupo de Teatro Chegou Maria Preá, dirigido por Manoel Constantino. Em 1991, foi convidada para participar de montagens das produtoras: Cristiano Lins Produções Artísticas e Papagaios Produções. Paralelamente, atuava na Cia. Teatro de Seraphim, sob a direção de Antonio Cadengue. Em 1995, iniciou seu trabalho como produtora cultural, atuando em Maceió/AL. Com o retorno ao Recife, passou a exercer as funções de atriz, produtora cultural e jornalista, fundando a Métron Produções Ltda, no ano de 1998. Em 2003 se lança como dramaturga com o texto para crianças “Grande Circo em Presente de Palhaço”. Alguns trabalhos com destaques desenvolvidos por Edivane Bactista: - “Batalha dos Guararapes - Assim Nasceu a Pátria” de José Pimentel; “Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco” e a publicação “Cenário Cultural”. Como atriz, também atuou em comerciais de televisão. Também ministra cursos de capacitação na área de produção cultural, a exemplo do projeto Multicultural da Prefeitura do Recife.

Ruy Aguiar é natural de Curitiba/PR com atuação no mercado pernambucano há 23 anos, como artista de teatro e produtor cultural. Com formação acadêmica em Marketing, seu currículo registra a participação como ator em montagens teatrais e diversos comerciais para televisão. Atualmente, vem investindo na função de diretor artístico e dramaturgo. Como produtor cultural, desde 1997, desenvolve importante trabalho para incrementar o segmento teatral a frente da Métron Produções, a exemplo do espetáculo ao ar livre “Batalha dos Guararapes: Assim Nasceu a Pátria” de José Pimentel e do “Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco”.
Em 2009 inicia as atividades do Grupo de Estudos em Dramaturgia da Fundaj, coordenado pelo Mestre Felipe Botelho, do qual fez parte até o ano de 2011.
Iniciou sua carreira como ator de teatro por meio de cursos promovido pelo Sesc-PE, além de ter feito parte do Grupo Teatral Novo Palco dirigido por Marco Camarotti. 


M.Constantino - Vocês começaram a carreira no teatro, atuando. Quais os motivos que os levaram a criar uma produtora?

Ruy Aguiar
Ruy Aguiar – A minha primeira aventura como produtor de teatro veio da vontade de estrear o espetáculo a Farsa de Yarim no céu de Mandacaru. O espetáculo estava sem recursos, investi recursos para arcar com os custos finais, e junto com a “Esculacho” coproduzi a peça com direção do saudoso amigo Uziel Lima. O espetáculo foi premiado, mas a bilheteria não pagou os custos, essa história é muito longa... Assim comecei a produzir para poder estar envolvido com o teatro, com a mágica do teatro, mas sempre buscando através dele a sobrevivência.

Edivane Bactista – A necessidade orgânica do exercício teatral sistematizado. Ou seja, viver da minha arte, pensar, estudar, refletir, criar para o teatro! O sonho vem da infância! Desde que me conheço por gente, sempre quis ser atriz, seja de teatro, de cinema ou TV. Nasci numa geração em que os pais não estimulavam os seus filhos a crescer como artistas. Eram diversos os fatores, desde a má fama do segmento até o fato de ser uma profissão cuja sobrevivência é muito difícil, principalmente no Nordeste do Brasil. É importante registrar que ainda tive contato com o final dos tempos áureos da televisão pernambucana. Então, assistir à Paixão de Cristo de Nova Jerusalém ou ao programa Catavento são registros importantes que me estimularam a abraçar a arte teatral como opção de vida!

Mesmo já tendo experiência com produção teatral desde o início da minha carreira no Grupo Teatral Chegou Maria Preá!, foi a partir da criação da Métron Produções, que em janeiro completará 15 anos, que passamos a contribuir para o incremento do mercado das artes cênicas em Pernambuco. Ou seja, quando ambos, com formação acadêmica e experiência nas áreas de comunicação, marketing e artes cênicas, e com essa vontade louca que os artistas têm de encantar o mundo, tiveram a maturidade de assumir os riscos existentes na função de produtores culturais. Até porque, quando iniciamos a Métron, o nosso mercado estava em crise, muitos artistas criadores deixaram de produzir, pois não existiam incentivos, nem patrocínios. A produção cultural era desenvolvida na ‘raça’ e na criatividade.

M.Constantino -  Como vocês lidam com o momento em que um ou outro vai para o palco e ao mesmo tempo faz a produção?

Ruy Aguiar – É sempre difícil separar o ator do produtor. É injusto para o ator, que naturalmente absorve a necessidade de estar completamente envolvido com a cena. Tem que buscar um lado positivo, meio como se fosse o capitão do time. Em Grande Circo em Presente de Palhaço, além de produtor e ator, era também diretor, e ainda contracenava com Edivane (grávida sem saber).

Edivane Bactista
Edivane Bactista Desde que decidi atuar e produzir, venho trabalhando a razão e a emoção, estabelecendo o limite de cada profissional. Ou seja, hora de produzir... hora de atuar... Hora de subir ao palco e esquecer que a nossa bilheteria foi levada por dois ladrões, de bicicleta [risos] (Isso foi real!) É o meu método de trabalho. Também penso: “Se não estivesse produzindo o meu espetáculo, eu também teria que trabalhar em alguma empresa para sobreviver e teria que estar em cena também para sobreviver, pois o teatro é o que move a nossa família de artistas.
Em relação à parceria de vida com Ruy Aguiar, tudo vai fluindo com maestria, pois  o que tem demais em um, supre o que falta no outro. Então, nos 21 anos de trabalho em conjunto, isso tem sido bem tranquilo: tem o momento que um de nós conquista algo e o outro comemora!

M.Constantino - Como produtores da Métron, como vocês observam o mercado aqui no Recife e no circuito Nordeste?

Ruy e Edivane – Já viajamos bastante pelo Nordeste, mas hoje sentimos dificuldade em buscar uma produção sem patrocínio. Alguns textos favorecem as bilheterias, já os autorais, fora dos clássicos do cotidiano, sofrem mais. Na atual conjuntura, ficamos agora amarrados, aguardando a loteria dos patrocínios dos incentivos federais e estaduais, já que as empresas privadas ainda não descobriram a viabilidade de investir suas verbas de marketing – de fato – no teatro pernambucano.

M. Constantino - Como vocês lidam com a famosa flutuação de público nos espetáculos?

Ruy e Edivane – Sempre buscamos parcerias na realização das temporadas, e também buscamos outras formas de viabilizar os espetáculos, procurando dar vida longa às peças produzidas.
Em relação ao teatro feito para crianças, estimulamos a ida das famílias ao teatro aos finais de semana, procurando sensibilizá-las sobre a importância desse convívio no momento de lazer das suas crianças e jovens, pois temos a certeza do trabalho de qualidade desenvolvido por muitas companhias do Estado. Precisamos ter a certeza de que quando um grupo pernambucano sai em circulação, ele é esperado, respeitado e bem recebido por onde passa. Vivenciamos isso na prática por meio de muitos espetáculos do nosso repertório, exibidos em outros estados do Nordeste.

M. Constantino - Que sugestões vocês têm para melhorar as políticas públicas de artes cênicas?

Ruy e Edivane – Que o Estado deixe de ser produtor e se torne parceiro dos grupos e produções existentes, bem como dos empreendimentos culturais independentes e de relevância. Em relação às leis de incentivo, que elas fossem menos burocráticas e valorizassem mais o valor cultural do projeto.

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