Ulisses Dornelas


Por: Joás Benedito
Foto: Joás Benedito

Ator profissional há 36 anos, Ulisses Dornelas tem a missão de fazer com que a arte pernambucana seja um referencial. Preocupado com os equipamentos técnicos que os teatros oferecem, ele tenta garantir a funcionalidade e a continuidade das tarefas, como também atender às expectativas do público proporcionando conforto a todos e fidelidade dos espectadores para com a arte. O trabalho de acompanhar as etapas de montagens – técnicas, escolha do texto, elaboração, adaptação e direção – não o impede de exercer diferentes funções que ao mesmo tempo se interligam com o seu trabalho artístico em geral.


Há quanto tempo você assumiu o papel de produção teatral? O que levou você a se tornar gestor?
Estou na gestão por força das circunstâncias. Topei o desafio de reabrir o teatro, climatizar e cuidar da parte técnica. Tudo isso requer atenção. É um desafio. Não sou um administrador, sou um artista que atualmente está gerenciando um teatro. Sou um artista e me produzo, temos o cuidado de qualificar as nossas produções, nossos trabalhos e espetáculos. Atualmente, estou com o Circo do Futuro, escrito por Moises Neto. Quem faz a direção é Carlos Bartolomeu, a parte profissional é minha e de Simone Figueiredo, mas sempre acompanho as etapas dos meus espetáculos.

Existem outras atividades que você exerça e que não são ligadas à arte?
Sou um ator de profissão. Há 36 anos venho assumindo esse papel. Sou querido pela criançada com o Palhaço Chocolate, mas, além de ser ator, diretor de teatro e roteirista, eu também sou pedagogo, psicólogo e faço marketing em administração de empresas. Tudo isso para ajudar em meu trabalho e na minha empresa. Hoje, eu vivo do teatro, para o teatro e para os eventos que faço.

Quais foram as suas propostas em relação ao Teatro Boa Vista?
Foi uma necessidade, pois o Teatro do Parque fechou para reforma e fiquei sem espaço. Não conhecia o Teatro Boa Vista, ouvia falar sobre um auditório no Colégio Salesiano, mas quando entrei fiquei encantado com o espaço, apesar dele estar parado, desprezado, sujo, sem climatização e parte elétrica, sem sonorização e praticamente a parte técnica toda sem funcionar, tinha uma estrutura. Então, fiz uma proposta ao grupo Salesiano de reabrir o teatro que, por coincidência, tem um nome bonito que é Teatro Boa Vista em homenagem ao cine teatro no começo da rua Dom Bosco e que hoje é uma livraria. Fizemos exatamente essa busca e reativamos o nome, começamos essa empreitada que não é fácil. Começamos a tratar a plateia, acolchoamos todas as poltronas, climatizamos o teatro, recuperamos toda a parte elétrica, mesa de sonorização, tudo isso foi feito com investimento em parceria com o grupo Salesiano. É importante ter mais um espaço para o teatro de Pernambuco, hoje ele está integrado à cultura local.

Como você divide o papel do artista e o do produtor?
É uma tarefa difícil, pois trabalho 24 horas, mas consigo conciliar. A grande receita é gostar daquilo que se faz, aprimorar-se cada vez mais, estudar, pesquisar, etc. A minha parte de artista é bastante focada. Na hora em que vou fazer um show, um evento, é tudo em função do Palhaço Chocolate. Hoje eu trabalho com 48 artistas, uma banda, um corpo de baile, passistas, pessoas do circo, personagens infantis, é uma maratona. Viajo bastante e todos os domingos tenho que estar no teatro. Consigo conciliar cada etapa e cada momento bastante específico e qualificado.

Diante de toda essa sua experiência teatral, você acha que o interesse do público pernambucano pelo teatro tem aumentado ou diminuído?
Tem aumentado bastante. Inclusive, temos a missão de formar novas plateias. As crianças que vêm ao teatro são as que gostam do espetáculo e que frequentam várias vezes a mesma peça. Investimos em um espectador de teatro do futuro, pois o nosso foco é a criança e o adolescente. Essa visão é muito importante para a formação de novas plateias. Temos feito um trabalho bastante valoroso para o teatro pernambucano. A própria campanha diz: “Teatro é ao vivo, vá ver”.

Quais são as suas maiores preocupações a respeito dos teatros de Pernambuco?

Temos que nos preparar mais, além de estudar e nos aperfeiçoar para montar um espetáculo. Um problema sério no teatro pernambucano hoje é a parte técnica. Não temos bons operadores, iluminadores e bons sonoplastas. É preciso investir nessa área. As pessoas vêm fazer estágios aqui no teatro Boa Vista, vêm estudar, participar e reciclar-se. Precisamos de bons técnicos... Acho essa uma das deficiências mais graves aqui no Estado. Temos apenas bons autores, atores, diretores e escritores. É hora das universidades formarem esses profissionais, é hora das pessoas que, já fazem teatro, abrirem espaço para as novas gerações que estão chegando e que possam também atuar nesse campo. Aqui no teatro, tive que fazer todo o maquinário por conta própria, porque as pessoas não sabem como funciona e isso é fundamental. Hoje é preciso qualificar muito a parte técnica do teatro pernambucano.

Errata. Leia-se: Temos que nos preparar mais, além de estudar e nos aperfeiçoar para montar um espetáculo. Um problema sério no teatro pernambucano, hoje, é a parte técnica. Apesar de termos bons profissionais no Recife, é preciso investir nessa área. Tenho projetos futuros voltados para as artes cênicas, para que as pessoas venham aqui no teatro estudar, participar e se reciclar, pois, é fundamental que elas se aprimorem.  Acho essa uma das deficiências mais graves aqui no Estado. Temos bons autores, atores, diretores e escritores. É hora das universidades formarem esses profissionais, é hora das pessoas que, já fazem teatro, abrirem espaço para as novas gerações que estão chegando e que possam também atuar nesse campo. Aqui no teatro, tive que fazer todo o maquinário por conta própria, porque as pessoas não sabem como funciona e isso é fundamental. Hoje, é preciso especializar a parte técnica do teatro pernambucano. 

Quais foram às peças teatrais que você dirigiu? E quais foram as que você escreveu?
A Bela Adormecida para o teatro com dança e música, Branca de Neve, Alice, O Gato de Botas, Patinho Feio, Patinho Preto, todas com direção e adaptação minhas. Fui a primeira pessoa no Brasil a adaptar a Arca de Noé de Vinicius de Moraes para o teatro. Escrevemos O Circo do Chocolate, que é um musical que envolve teatro, dança e circo. Por isso é que estou fazendo hoje O Circo do Futuro que é uma linguagem mais futurista. Enfim, nem consigo contar durante todo esse tempo de teatro quantos espetáculos já fiz.

Quais são as suas maiores realizações hoje como artista e produtor?
Acabamos de fazer o Treze de Maio, uma lotação infinita de pessoas, que muitas vezes não têm condições de pagar e de ir ao teatro. Além desse evento, temos o Natal Solidário da Paz, o Carnaval da Garotada, o Festival de Quadrilhas, temos vários eventos voltados para o público infantil e minha agenda vai do Carnaval ao Natal, graças a Deus.
Pretendo continuar trabalhando. Fazer o presente ser cada vez melhor, mais feliz e com as crianças sendo os meus maiores professores. É o termômetro, pois temos que atuar de acordo com o público. As pessoas são exigentes, quando gostam abraçam, beijam e quando não gostam não vêm. Eu trabalho com um público sincero e essa é a minha maior escola. Quero continuar fazendo teatro.


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