Luiz Gonzaga inspira a MPB

O Rei do Baião deixou seu legado e influenciou diretamente a música popular brasileira. Em 2012, será comemorado o Centenário do Mestre Lua e Recife dá o ponta pé inicial com o Encontro de Sanfoneiros da cidade

2012 é o ano do Centenário de Luiz Gonzaga
Por Gianfrancesco Mello
Fotos: Divulgação

“Quando o verde dos teus olhos, se espalha na plantação. Eu te asseguro, não chores não, viu, eu voltarei meu coração.” Quem nunca ouviu a música Asa Branca de Luiz Gonzaga? Pois é. Faz 21 anos que o Rei do Baião nos deixou e foi alegrar o andar de cima. Se vivo na Terra estivesse, Luiz Gonzaga do Nascimento, que nasceu no dia 13 de dezembro de 1912, em Exu, no sertão pernambucano, completaria 100 anos em 2012. Gonzagão, como também era conhecido, será sempre um exemplo muito respeitado. Até hoje, ele influencia muitos artistas. Lua escreveu seu nome na história da Música Popular Brasileira (MPB) ao resgatar a cultura popular no período pós-guerra. O baião reinou no Brasil de 1947 a 1957 como a maior vendagem de discos em todo o País.


Gonzagão, como também era conhecido, tornou-se referência na MPB
Na ocasião, o gênero do baião já existia e muitos ensinamentos dele vieram do seu pai, Januário José dos Santos, que tocava sanfona de oito baixos. O Mestre Lua não seguiu apenas os ensinamentos do seu pai e com a ajuda de parceiros como Humberto Teixeira e Zé Dantas, adequou o folclore popular brasileiro para a musicalidade. Ele cantava sobre um Nordeste esquecido e marginalizado. Quase ninguém acreditava no sucesso daquele jovem, que saiu da serra do Araripe, atravessou a Rio-Bahia e chegou ao Rio de Janeiro (local onde iniciou sua carreira artística, depois de passar nove anos no Exército como cabo corneteiro). Mas, com trabalho e muito suor, além da ajuda da sua sanfona, conquistou os cariocas e, posteriormente, o Brasil.

Mestre Lua imortalizou o baião
Poucas pessoas têm o conhecimento, mas o cantor que divulgou a cultura nordestina para todo o País, no início da carreira, tocava polcas, mazurcas, valsas e o foxtrot. Isso por causa da influência da música americana. Além de que, a gravadora RCA não pretendia investir nas letras folclóricas. Só depois de outro artista fazer sucesso com uma de suas canções, a empresa percebeu o erro e o cantor passou a fazer sucesso com diversas canções como, por exemplo, No meu pé serra, de 1946, junto com um figurino misto de vaqueiro com cangaceiro.

Luiz Gonzaga emplacou diversos sucessos, tornando-se, de fato, uma das lendas vivas de sua época. No entanto, houve um período que a Bossa Nova começou a ganhar muito espaço na mídia, com uma proposta mais voltada para o público do meio urbano. Desta forma, o Rei do Baião não possuía o mesmo espaço na imprensa, mas, como sua coroação já tinha acontecido, virou ídolo do povo nordestino e continuou fazendo sucesso. A sua volta à mídia se deu por causa de Gilberto Gil, pois quando surgiu o Tropicalismo, o cantor declarou que uma de suas principais influências foi o Gonzagão. Isso foi reforçado por Caetano Veloso, que gravou algumas das canções do Mestre Lua.

Segundo o produtor Marcos Veloso, que é um apreciador das músicas de Gonzaga, não tem nenhum artista que seja tão pesquisado quanto Luiz Gonzaga. “Ele tem música com todas as letras do alfabeto e gravou em mais de vinte gêneros diferentes. Além disso, Lua quebrou muitos tabus por ser preto, pobre e nordestino. A música, hoje em dia, tem influência direta do Rei do Baião. Até mesmo Raul Seixas reverenciava Gonzagão”, completa.

Nos anos 80, Gonzaguinha, que já era conhecido, e seu pai fizeram diversos shows pelo Brasil e isso fez a imprensa relembrar a importância do Mestre Lua para a MPB. Luiz Gonzaga foi referência para inúmeros artistas que desembarcaram no Sul e Sudeste do País como Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Fagner, Dominguinhos e Elba Ramalho. Por várias vezes, Gonzaga disse que iria se aposentar, entretanto, continuava a cantar. Suas letras e canções estão imortais na minha e na sua memória, além no das futuras gerações. Ele morreu no dia 2 de agosto de 1989, vítima de parada cardiorrespiratória no Hospital Santa Joana, na capital pernambucana.

Sanfoneiros levantam a poeira para Gonzagão

Patrício e Dominguinhos
Abrindo as comemorações do Centenário de Luiz Gonzaga, o produtor Marcos Veloso realizará nos dias 3 e 4 de dezembro, no Pátio de São Pedro, no centro do Recife, o 14º Encontro de Sanfoneiros do Recife. O projeto pretende promover a preservação e a difusão da arte dos sanfoneiros e procura divulgar a música popular regional, além da sanfona para várias gerações. “Desde o primeiro encontro, que eu realizei junto com o Paulo Alves, de Serra Talhada, reunimos músicos de vários ritmos regionais como xote, xaxado, baião e forró. Queremos com isso, divulgar a obra de um dos maiores ícones da nossa música, Luiz Gonzaga”, pontua o produtor Marcos Veloso.

 “Além de mostrarmos a arte dos sanfoneiros, procuramos apresentar a arte dos aboiadores, grupos de xaxado e bandas de pífano, que são algumas das inspirações do Rei do Baião”, destaca Veloso. Durante os dois dias do evento, o público pode conferir feiras de artesanato, mostra de documentários, palestras e exposições de sanfona.

Marahtma
“Cada sanfoneiro, que participa do Encontro, ganha troféu, camisa e cachê, além do transporte e hospedagem para aqueles que moram fora da Região Metropolitana do Recife. Em homenagem ao Centenário de Luiz Gonzaga, iremos colocar cem sanfoneiros no evento, sob a regência do maestro Camarão”, explica o produtor. O evento homenageia anualmente um grande sanfoneiro. Este ano, o homenageado é Joquinha Gonzaga, que é sobrinho de Gonzagão. Ele é filho de Raimunda Januario (segunda irmã de Luiz Gonzaga) e começou a carreira tocando em escolas, festas e forrós do Rio de Janeiro. Atualmente, Joquinha segue sua trajetória divulgando o legado do seu tio, Lua.

A arte dos sanfoneiros nordestinos teve seu maior momento com o sucesso de Luiz Gonzaga, que projetou Pernambuco para o mundo depois de ser aclamado no programa de Ary Barroso, na Rádio Nacional. O Encontro de Sanfoneiros surgiu em 1998 e é realizado sempre em dezembro, que é o mês do nascimento do Mestre Lua. “Fizemos o Encontro no Nosso Quintal, no Bongi, até o 8º evento, mas o espaço ficou pequeno para tantos apreciadores. Então, por exigência do público, procuramos espaços maiores e que fossem em um local mais central. Começamos a fazer o Encontro no Pátio de São Pedro por ter o Memorial Luiz Gonzaga”, diz Marcos Veloso.

Arlindo dos 8 Baixos e Camarão
Para aquecer o evento, nesse mês de novembro, já começam as comemorações. Todos os sábados, a partir das 8h, nos mercados públicos da Madalena, Encruzilhada, Afogados e Boa Vista, as pessoas podem conferir a apresentação de um trio pé de serra. O projeto também irá presentear aqueles que estão nos hospitais públicos. Isso porque todos os sábados, das 8h às 10h, terão apresentações no Getúlio Vargas, Hospital das Clínicas, Agamenon Magalhães e Oswaldo Cruz.

Sanfoneiros mirins - Meninos de Custódia
Marcos Veloso – natural de Garanhuns e filho de comerciante, sempre observou os movimentos culturais da região, além de escutar as músicas de Gonzaga. Estudou economia na UFPE e criou o primeiro grupo de Estudantes de Arte de Economia. Com o tempo, foi cuidar dos projetos culturais e há 20 anos, fundou o bar e restaurante Nosso Quintal para mostrar a gastronomia local. Mas isso não era o suficiente para esse pernambucano, Veloso fez do espaço um local para a divulgação da cultura regional. Todas as sextas-feiras, das 18h à 1h, existe a Roda de Sanfona e Poesia. “É uma espécie de preparatório para o Encontro de Sanfoneiros do Recife”, fala. Aos sábados, das 15h às 20h, o produtor desenvolve um trabalho antológico voltado para o choro pernambucano.

Espaço Cultural Alberto da Cunha Melo/ Xico Bizerra – é um quintal aberto às manifestações culturais pernambucanas. O lugar é uma homenagem aos poetas pernambucanos da geração de 65. O espaço funciona no bar e restaurante Nosso Quintal.

Encontro de Sanfoneiros do Recife anima o público todos os anos
Projeto Correios Sanfonado – a iniciativa surgiu da necessidade de apresentar os instrumentistas (sanfoneiros) de uma forma mais universal, mostrando, além dos ritmos regionais (forró, xote e baião), a diversidade cultural como choro, frevo, maracatu, valsa, tango, bolero e jazz. Foi lançado em novembro de 2009, no Centro Cultural Correios e tem o objetivo de mostrar a habilidade de cada instrumentista nos diversos gêneros musicais e proporcionar à população o acesso à música instrumental, de forma democrática e gratuita. O projeto acontece no último domingo de cada mês, das 15h às 18h.

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