Fátima Aguiar

Foto: Joás Benedito

Por:   Joás Benedito


Desde criança Fátima Aguiar descobriu que era possível participar e entrar em um mundo de criação apresentado pelos pais que a levava para assistir os espetáculos de dança no Teatro de Santa Isabel. Começava daí o seu interesse pelas artes cênicas. Ainda na adolescência Fátima decidiu que o palco seria o caminho que iria trilhar na vida. Hoje – premiada como melhor atriz e melhor espetáculo pela Companhia das Artes com a peça Agnes de Deus e no projeto Janeiro de Grandes Espetáculos – o seu papel como arte-educadora traz grandes referências, influências e preocupações em relação à alfabetização dos alunos através das linguagens artísticas incentivando-os culturalmente.



Quando você decidiu se tornar arte-educadora? O que influenciou você a levar grupos teatrais para os colégios?
A arte em nosso país não é tida como uma profissão que mereça credibilidade. Na realidade, acho que foi a arte educação que veio ao meu encontro, para que eu pudesse conciliar o meu desejo de ser atriz, o de poder expandir o gosto pela profissão artística e cuidar da sobrevivência. Nos colégios há um público em potencial, principalmente o adolescente, que ainda não foi conquistado por grande parte dos grupos de teatro. Acredito que a aproximação desses segmentos, desperta no aluno o interesse pelas artes desenvolvendo nele, o conhecimento e o gosto apurado que ocorre do contato direto com as atividades artísticas de qualidade. É uma ação que não pode ser desprezada, uma vez que estamos tratando do terceiro elemento importantíssimo para as artes cênicas, que é a platéia. E esta formação se dá também nas escolas.

Como são desenvolvidos os trabalhos apresentados pelos grupos teatrais das escolas? Qual é o foco principal?
O trabalho desenvolvido pela arte-educação nas escolas é o de alfabetizador das linguagens artísticas, porque pode parecer inacreditável, mas é uma disciplina que ainda não foi bem assimilada no meio acadêmico. Educação e arte estão aprendendo a conviver, isso já faz um bom tempo. As resistências a muito custo são quebradas. O foco é apresentar aos alunos a matéria, que no meu caso é teatro, mesclando a prática, cujo programa contempla muito o trabalho corporal, com a teoria, que vai sendo estudada de acordo com o tema abordado, nas peças que lemos para futuras montagens, ou que servirão de inspiração para possíveis criações de textos coletivos com os alunos. A convivência nos grupos é muito estimulante do ponto de vista principalmente da afetividade, do respeito, enfim, do aprimorar valores positivos das relações humanas e também refletir sobre coisas que nos machucam destas mesmas relações.

Quais são as dificuldades para dirigir uma peça teatral?
Acredito que cada peça tem as suas dificuldades específicas. Não dá para generalizar. Às vezes é o elenco, em outras surgem problemas com financiamentos ou ainda poucos espaços e tempo para ensaios e para as apresentações. Há também barreira devido a nossa deficiente formação profissional e por isso há tanta gente migrando para outros locais, em busca de melhores oportunidades, pois tudo conspira para a expulsão dos que querem se profissionalizar na área artística nesta cidade.

Além de atuar nas escolas como arte-educadora, você ainda atua nos palcos?
O tal distanciamento do público com o teatro, nos torna atores e atrizes invisíveis. Aproveito então, esta oportunidade para falar um pouco da Companhia das Artes, companhia a qual também faz parte a atriz Galiana Brasil e juntas produzimos, entre outras peças, o espetáculo Agnes de Deus sob a direção de Roberto Lúcio, cujo elenco era composto ainda pela atriz Fátima Pontes. Acho que foi um excelente momento para todos nós. Atualmente estamos entusiasmadas estudando e produzindo a peça Entre Quatro Paredes de Jean-Paul Sartre, cuja estréia esperamos para março de 2012. Acredito que 2012 será um ano bem movimentado para os grupos de teatro da cidade.

Você acha que a educação em arte através dos meios de comunicação de massa sofre algum tipo de distorção?
É outra forma de educação, que possui muita força, poder, dinheiro e gente de talento à sua disposição, imprimindo uma estética multifacetada. Talvez a nossa angústia seja de não podermos lutar contra o monopólio que esses meios de comunicação nos impõem, sem nenhum pudor, limitando com isso as nossas escolhas e consequentemente o nosso conhecimento.



Comentários

  1. Tive a honra de ser aluna da Fátima, no Colégio São Cristóvão. Hoje me veio umas lembranças boas que passei com ela é com amigos. Lembrei de coisas que ela me ensinou.
    Saudades Fátima, bjs!


    Ass: Kaline Calypso

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