Barro

Praça Nossa Senhora de Loudes
 Por Felipe Mendes
Fotos Joás Benedito

Em quase quatro anos explorando e registrando aspectos da vida cultural e cotidiana dos bairros do Recife, a série Meu Bairro...Moro Aqui, desta Agenda Cultural, já visitou mais de quarenta bairros da cidade. Sempre em companhia de um morador, que ajuda a desvendar cada recanto da sua vizinhança, descobrimos em cada edição o quanto é vasta a vivência de uma cidade múltipla, em que convivem várias realidades culturais, sociais e econômicas.

Descobrimos também quão escasso é o espaço contido em letras e páginas para descrever tamanha riqueza. Nada melhor do que explorar por si mesmo o Recife, descobrindo a infinidade de personagens, histórias, ideias e realizações que se somam em uma teia invisível, mas determinante para a construção da nossa identidade.




Bairro marcantemente residencial, o Barro é dominado por casas, o que confere um clima especial de moradia, tranquilidade, família. Dotado de uma estação de metrô e um terminal de integração, com a maioria das vias pavimentadas e margeando um trecho da BR 101, é um bairro bem conectado ao resto da Região Metropolitana. Essa mobilidade tem um efeito marcante na qualidade de vida dos moradores.

Quem nos apresenta o local onde nasceu e mora é Elizeu Espíndola, músico da Banda Canção da Rosa Atômica. Apesar de algumas temporadas por outras paisagens, Elizeu nunca se desligou do bairro e novamente se instalou aqui há cinco anos. É no Barro que ele participa do Movimento Cultural Adiante, articulação de músicos, educadores, artesãos e poetas surgida em 2009, que busca unir forças e dar consistência à produção e ao pensar cultura da região.
Começamos nosso passeio pela igreja matriz do bairro, dedicada a Nossa Senhora da Conceição. O belo prédio pintado de azul foi erguido originalmente em 1839. Ao lado, fica a casa paroquial. Entramos e conversamos com Eurides Menezes, secretária da paróquia, que nos fala das ações da igreja, citando o grupo dos Vicentinos e a grande festa em homenagem à padroeira, que dura dez dias, no mês de dezembro.



Nosso guia Elizeu ressalta o grande número de pessoas que participam do evento, enchendo as ruas do bairro. Seguimos pela Rua André de Albuquerque, onde uma casa antiga chama atenção pela arquitetura, e pela simpática senhora que calmamente chupa uma laranja enquanto observa a rua. Após um pequeno declive, chegamos a uma bonita praça. Ao fundo, é possível ver a Mata do Engenho Uchôa, que ocupa boa parte do território do Barro.


Brinquedos infantis da Praça Nossa Senhora de Lourdes
Com quadra e brinquedos infantis, a Praça Nossa Senhora de Lourdes é agradável e acolhedora. Enquanto algumas pessoas leem, pais e avós observam as brincadeiras de suas crianças, nós caminhamos para encontrar um singelo oratório em homenagem à santa que nomeia a praça. O clima é muito tranquilo, quase bucólico. Elizeu nos aponta uma estrutura do outro lado da rua: “ali ficava o Clube Umuarama. Uma luta da comunidade é transformar esse lugar, que está abandonado”, diz nosso guia, citando a possibilidade de um Centro Social Urbano (C.S.U.).



Rumamos à Avenida Dr. José Rufino, a principal do bairro. Aqui, o maior movimento de automóveis e pedestres e o comércio lembram que estamos em uma metrópole. Paramos no Point do Turista. Nosso guia diz que duas edições do evento Poesia na Panela – realizado pelo Adiante – já foram realizadas aqui. Encontramos o dono, Edson Cavalcanti, que abriu o bar há dez anos. Ele conta que seu filho estudava turismo na época, daí a inspiração para o nome do estabelecimento.



Sobre eventos como o recital de poesia, Edson avisa que são sempre tranquilos e não se estendem por horas da madrugada: “a área é muito residencial e não podemos incomodar”, avisa. Seguimos a Rua Amador Araújo e, no fim dela, encontramos o Cemitério Paroquial do Barro. Curiosamente, ele fica exatamente ao lado de outro cemitério, o dos Israelitas, fundado em 1927.



Rua Manoel Salvador
Elizeu chama atenção para a boa arborização do bairro, intensificada com a presença da mata, e de suas consequências benéficas para as pessoas. Estamos na Rua Manoel Salvador. “Aqui ficam os polos oficiais nos ciclos festivos”, avisa nosso guia enquanto caminhamos. A rua também abriga a Associação dos Moradores do Barro, onde encontramos Joselito Ferreira, presidente. Além de falar das melhoras a estrutura urbana do bairro dos últimos anos e de reivindicações atuais, Joselito chama atenção para a grande participação popular nos eventos culturais e comunitários, como as reuniões do Orçamento Participativo.



Nosso Guia Elizeru Espíndola
Começamos a encontrar sedes de clubes de futebol: o Pelada da Madrugada, fundado em 1984, e o Juventus Futebol Clube, tradicional no bairro. Logo avistamos um campo de futebol, o Campo do Floresta. No momento ocupado por muitas crianças e jovens que correm, jogam bola e brincam à vontade, fazendo do lugar um amplo centro de recreação. Elizeu nos leva pra conversar com Gilmar dos Santos, presidente do Floresta Futebol Clube. Gilmar diz que o clube foi fundado em 1953, mas o campo é ainda mais antigo.



Em uma das entradas fica a Escola Municipal do Barro. O prédio que hoje é utilizado pela escola já foi sede do Floresta, e no campo acontecem diferentes torneios e jogos, garantindo uma intensa movimentação em todo o entorno. “Nessa região ficam duas escolas, dois cemitérios, o campo, a vida do bairro gira um pouco ao redor daqui”, resume Elizeu Espíndola.

Margareth Barros, ativista do movimento negro que nos acompanha em nossa exploração, indica o caminho para a Rua Deodato Torres, onde conhecemos a sede do Afoxé Oxum Pandá. O grupo é abrigado pelo Centro Espírita Rainha Iemanjá, criado por Jovelina de Oliveira em 1954. O Oxum Pandá, originalmente fundado em Olinda por Genivaldo Barbosa – que é babalorixá do centro há 25 anos – foi trazido para o Barro por seu fundador e já se integrou há muitos anos à vida do bairro.

O religioso fala do trabalho social do centro, que inclui a distribuição de sopa e cestas básicas. O Oxum Pandá, que tem trinta e cinco músicos, realiza aqui, aos domingos, ensaios abertos. A participação de todos é bem vinda. Andando pelas ruas do Recife é possível respirar um pouco a cidade e, por que não, entendê-la e desfrutá-la em sua complexidade e fertilidade cultural. 


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