Duo Repercuti faz percussão erudita com raízes fincadas na ancestralidade afro-brasileira
Foto: Lorena Zuzart
Grupo pernambucano volta à cena em apresentações no Teatro Hermilo, dividindo o palco com músicos da Nação Xambá
“Mostraremos novos arranjos e composições completas inéditas, aproveitando a liberdade e a história musical da Xambá que tem uma estética marcante. Tínhamos essa vontade de trabalhar com eles há um tempo, e o edital do SIC permitiu isso. Estamos muito animados. Sem dúvida, será incrível”, ressalta Emerson Coelho. O artista destaca as semelhanças da música dos integrantes do Bongar com o Repercuti. “Temos esse mesmo coração e pulsação musical, sempre com a energia para cima, mesclando timbres, cores, sons e muito axé”, diz Coelho.
Na mesma trilha de Beto, Memé e Thulio da Xambá, integrantes do Bongar, Coelho tem origem e música fincadas na ancestralidade afro-brasileira. “Assim como o Repercuti, a Nação Xambá é formada por homens pretos e mulheres pretas, que já tocaram e compuseram com mestres como Naná Vasconcelos, que estamos homenageando. Também temos em comum o Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu, representado pela Rainha, dona Olga. Vamos levar essa herança para o palco. Música é política e faz parte de nosso papel, enquanto artistas, provocar reflexão”, coloca o músico, que brinca no Maracatu Estrela Brilhante desde criança e é ogã-olabê e cantador do Boi Maracá.
Já o outro integrante do Duo tem trajetória musical bem diferente. Nascido em Chã de Alegria, ele veio com a família para o Coque ainda garoto. Lá viveu e entrou em contato com a música sinfônica por meio da Orquestra Criança Cidadã. Ao longo da carreira, ambos passaram por diversos grupos e orquestras, a exemplo da Orquestra Sinfônica Jovem, Orquestra Sinfônica do Recife, Orquestra Sinfônica da Paraíba e Grupo de Percussão do Nordeste, atuando juntos ainda em formações como a Orquestra de Câmara de Pernambuco.
Emerson Rodrigues também observa a música como instrumento de reflexão, chegando a outros vieses artísticos. “Nosso show é de percussão, mas também é pensado para trazer outros sentidos para além da música, do lado educativo e cultural. Nunca pensei nessa reviravolta, que estaria em 2024 repensando o papel dos instrumentos sinfônicos e da música afro-brasileira através do nosso trabalho. Tive o prazer de conhecer Naná Vasconcelos muito novo ainda, quando integrei a primeira turma do Criança Cidadã. Foi um contato breve, mas ele foi extremamente generoso, receptivo e gentil conosco”, recorda ele, que também é arte-educador.
O namoro do Duo Repercuti com os músicos do Bongar é antigo. “A cultura popular pode dialogar com qualquer outra cultura. Estar com eles, celebrar, compartilhar informações é de suma importância”, comenta Beto da Xambá. Ele ressalta semelhanças na trajetória dos conjuntos. “O Duo e nós, da Xambá, ocupamos espaços que antes não nos eram permitidos. Estar dentro da universidade e também no candomblé e, ao mesmo tempo, ser referência para o futuro, são elementos que apontam para o poder transformador da percussão”, diz.
ALÉM DA MÚSICA
Outra característica forte do trabalho do Repercuti e que traz resultados interessantes ao show é que o espaço para a improvisação ultrapassa a música e chega aos aspectos visuais. Mais uma vez, o VJ Gools promete novas perspectivas cenográficas. Ele integrou a equipe em 2022, quando usou a estética visual de “O Som das Baquetas” e o conceito da autorreatividade, criando mecanismos que levavam o som executado ao vivo a afetar a cenografia.
Agora, a integração com o espaço físico toma por base a arquitetura cênica do Teatro Hermilo, com sua parede de tijolos antigos aparentes, que ganhará efeitos de inteligência computacional abstratos projetados formando um telão inusitado, somado às homenagens a artistas como Naná Vasconcelos, Dona Olga do Estrela e Guitinho da Xambá.
A produção do show segue com Tainá Menezes, e a produção dos figurinos e stylist, com a Zarina Moda Afro, de Jéssica e Rodrigo Zarina. “Recebemos a missão de produzir mais um figurino para o Repercuti, vestindo esses reis para esse grande momento, através de conexões ancestrais da musicalidade e essência de cada um. Esse sonho se materializa numa ‘Celebração das Águas’, carregada de significados e axé”, diz Jéssica.
AGENDA
Em agosto, em data a ser definida, o Duo volta ao Teatro Hermilo com outro show, apostando na parceria com o trio formado pelo arranjador Henrique Albino, Silva Barros (bateria), e Felipe de Lima (contrabaixo). Ainda no segundo semestre, o Duo Repercuti circulará com o espetáculo pelas cidades de Aracaju, Salvador, Fortaleza e em Pernambuco, por Gravatá e Igarassu.
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