Últimos dias da exposição Casa Habitada, dos fotógrafos Ulisses Moura, Dhyego Lima e Nivaldo Carvalho
A mostra Casa Habitada, com trabalhos dos fotógrafos Ulisses Moura, Dhyego Lima e Nivaldo Carvalho, está na reta final de exposição, na Galeria de Arte Capibaribe, no CAC-UFPE
Segue em cartaz até o próximo dia 7 de novembro, a exposição Casa Habitada, uma mostra sobre o universo doméstico, com sua intimidade, memórias e afetos, dos fotógrafos pernambucanos Ulisses Moura, Dhyego Lima e Nivaldo Carvalho. O projeto, que tem curadoria da Profa. Dra. Milena Travassos, está em cartaz na Galeria de Arte Capibaribe, no CAC-UFPE, e no dia 5, a partir das 10h, Sala 162, 1º andar, CAC-UFPE, haverá um bate-papo com Nivaldo Carvalho e a curadora, seguido pelo lançamento do catálogo digital da exposição — que ficará disponível gratuitamente e contará com a audiodescrição das imagens.
A exposição foi aberta no início de outubro e, desde então, movimentou a Galeria Capibaribe com diversas atividades e trocas entre artista, público e curadora. Esse bate-papo será o terceiro de uma sequência que vem reunindo a curadora e um dos artistas. Em 14/10, Milena conversou com Ulisses Moura e, no dia 21/10, foi a vez dela trocar com Dhyego Lima.
A temática da mostra também terminou reverberando em duas ações paralelas: a oficina de mapas “Qual caminho te leva para casa?“, realizada no dia 30, por Agatha Oliveira, Áurea Patrícia, Marina Castro e Paulo Victor de Arruda, e a performance coletiva “Entre fios, memórias e gestos, vamos tecer juntos o tapete da casa que habitamos — dentro e fora de nós”, que convida o público a criar um tapete de crochê gigante, basta chegar e se juntar ao grupo na feitura desse tapete. A performance acontece em dois tempos, no dia 31/10 e no dia 7/11, na própria Galeria Capibaribe, das 14h às 16h.
A série de atividades dos últimos dias é uma chamada para a visitação da mostra, que foi contemplada nos Editais da Política Nacional Aldir Blanc Pernambuco e tem apoio financeiro do Governo do Estado de Pernambuco, através da Secretaria de Cultura do Estado via PNAB, direcionada pelo Ministério da Cultura - Governo Federal, e se encerra no próximo dia 7 de novembro.
SOBRE A MOSTRA
Com 38 obras, entre fotografias de variadas dimensões e uma videoarte, a exposição —contemplada nos Editais da Política Nacional Aldir Blanc Pernambuco e com apoio financeiro do Governo do Estado de Pernambuco, através da Secretaria de Cultura do Estado via PNAB, direcionada pelo Ministério da Cultura - Governo Federal — mergulha no cotidiano de pessoas ligadas afetivamente aos fotógrafos. As casas, habitadas por pessoas e cenários, tornam-se personagens centrais das narrativas visuais, nas quais objetos ordinários — como uma cadeira de balanço, um varal ou uma televisão — ganham significado poético.
Ainda que partam do registro da realidade, o trio não se propõe a trazer “verdades”, “testemunhos”. As imagens buscam incitar a imaginação e fomentar o diálogo. Por isso, a adoção do conceito de “documentário imaginário”, desenvolvido pela pesquisadora Kátia H. Lombardi, que oferece ferramentas para realizar apropriações e reconstruções na contemplação desse conjunto de imagens.
“A autora ressalta, além do caráter técnico das imagens fotográficas, suas particularidades culturais e estéticas. Cada foto é passível de modulações provocadas por elas, por seu contexto temporal e espacial, como também por quem as olha. O documentário misturado com o imaginário ofereceu-nos abertura para exercitarmos um recorte poético ao pensar a montagem da exposição e a leitura das obras”, explica a curadora Milena Travassos.
Dentro dessa proposta, a curadoria organizou o percurso em três eixos temáticos derivados das próprias imagens: "Solidez", com o ensaio de Ulisses Moura sobre sua avó, dona Hozana; "Limite", explorado por Dhyego Lima através das janelas que demarcam o dentro e o fora; e "Fluxo", onde Nivaldo Carvalho registra a mudança de sua casa, tratando objetos e corpos como rastros fugidios.
SOLIDEZ
No eixo "Solidez", Ulisses Moura apresenta um ensaio íntimo sobre sua avó, Dona Hozana. As imagens, em tons de sépia e preto e branco, registram sua rotina, incluindo a extenuante jornada de hemodiálise — sugerida por um curativo visível em sua perna. Cenas do cotidiano, como observá-la sentada na porta de casa olhando a rua, congelam com afeto momentos de introspecção.
O olhar do fotógrafo, que também atua como cuidador, captura a dualidade entre a fortaleza e a fragilidade da matriarca. A fotografia surge aqui como um meio de processar e conviver com essa dor e compreender as transformações impostas por essa rotina. "Ao ter a fotografia como paixão, optou por fazer de sua câmera um meio para conviver com a realidade que se apresentava. Expressões, rotinas, momentos de apatia, distração e ócio foram congelados com respeito e afeição. Nas imagens de Ulisses, encontramos algo de sobriedade, de permanência que atravessa gerações. Sua avó não é apenas retratada - ela é celebrada como pilar familiar, memória viva que ancora a narrativa doméstica", comenta Milena Travassos, curadora.
Além da exibição das imagens, há uma preocupação com a ambientação da mostra. Em Solidez, o clima é dado pela presença de uma cadeira de balanço e um iluminação em tons avermelhados.
LIMITE
No eixo "Limite", Dhyego Lima apresenta uma série de dípticos fotográficos que exploram as janelas como elemento central. A proposta surgiu de visitas a amigos, registrando momentos cotidianos de pausa ou ações simples. As janelas surgiram como o cenário ideal para capturar esses momentos cotidianos e cheios de afeto.
É através das janelas que o interior se encontra com o exterior, numa casa elas são como limites, aproximando tudo que está dentro do turbilhão de fora, luz, sons, cheiros… O artista explora todo esse simbolismo em seus registros. Uma mesma janela pode ser vista em dois momentos: primeiro vazia, depois habitada por duas crianças de costas, observando algo que não é possível ver. Esse conjunto de imagens convida o espectador a observar as janelas, cada uma delas cercada por um entorno interno e também como um ponto de fuga para o exterior. "Em tempos de isolamento, as janelas se tornaram nossos portais para o mundo. Dhyego captura essas molduras que delimitam territórios, que criam diálogos entre o íntimo e o público, o seguro e o desconhecido. Cada janela fotografada conta uma história sobre os limites que habitamos - físicos, emocionais, simbólicos. Durante a pandemia, esses limites se tornaram ainda mais significativos”, pontua a curadora.
Cenograficamente, este núcleo contará com paredes pretas, iluminação direcionada aos dípticos e "mensageiros dos ventos" suspensos no teto, recriando poeticamente a atmosfera das janelas retratadas.
FLUXO
No eixo "Fluxo", Nivaldo Carvalho registra o processo de mudança de sua própria casa, capturando o desmonte do espaço doméstico em imagens em preto e branco. Estantes vazias, pilhas de livros, caixas e objetos pessoais compõem um balé frenético de transição, onde corpos – incluindo o do artista, de sua companheira e de seu filho recém-nascido – aparecem como rastros em movimento.
A série provoca e não se preocupa apenas em documentar o processo físico de mudança, trata do deslocamento existencial inerente ao ato de mudar. A luz, utilizada como elemento narrativo, evidencia a passagem e a transformação, revelando como a casa se torna uma extensão de seus habitantes. O projeto inclui ainda um videoarte criado a partir do mesmo processo.
"Durante o período de mudança de casa, Nivaldo encontrou poesia no transitório. Objetos empacotados, espaços vazios, seu filho pequeno navegando entre caixas - tudo vira registro sensível do movimento constante da vida doméstica. O fluxo não é apenas mudança física, é também transformação emocional. É o tempo que não pára, mesmo quando estamos confinados em casa”, explica Milena Travassos.
Para imersão do público, o espaço expositivo contará com caixas e objetos pessoais espalhados pelo chão, disponíveis para interação, reforçando a sensação de transição e reorganização proposta por este núcleo.
Casa Habitada
Ulisses Moura, Dhyego Lima e Nivaldo Carvalho
Curadoria: Milena Travassos
Galeria de Arte Capibaribe, CAC-UFPE
Até 7 de novembro de 2025
Horário de visitação: segunda a sexta, das 8h às 12h e das 14h às 18h
Entrada gratuita
Bate-Papo e lançamento do catálogo digital.
05 de novembro, a partir das 10h, Sala 162, 1º andar, CAC-UFPE.
“Tapete Casa-Memória” , performance coletiva.
07 de novembro, das 14h às 19h, Galeria Capibaribe (UFPE).
Comentários
Postar um comentário