Espetáculo “Aurora entre vias e vidas” ganha o palco do Teatro Santa Isabel
Dança, música e poesia contam a história do Recife e suas vidas potentes
Depois de passar pelo palco do Teatro Luiz Mendonça com dois dias de casa lotada, Aurora entre Vias e Vidas, primeiro espetáculo autoral do Centro de Artes Grupo Vida, está de volta neste fim de semana, onde irá ocupar nos dias 13 e 14 de setembro, o palco do mais antigo, tradicional e nobre teatro da cidade, o Santa Isabel, bem pertinho da Rua da Aurora, lugar que, ao lado da rua do Sol, protagoniza o enredo. O espetáculo, que tem direção cênica e enredo assinado por Analice Croccia percorre paisagens reais e imaginárias do Recife, conduzido por dois personagens simbólicos: o Sol – um jovem negro, artista, pulsante e presente – e a Aurora, mulher, vestida de tempo e saudade, que carrega em si a nostalgia da cidade. É a história da cidade do Recife contada no palco.
A montagem, é uma celebração do Recife e de suas múltiplas camadas de memória, presença e transformação. Com direção geral de Rita Vieira - fundadora e idealizadora do Grupo Vida, que há 45 anos vem formando gerações de artistas no Recife - a obra nasceu da vontade de transformar a cidade em cena viva, e suas ruas em personagens. Foi assim que a Rua do Sol e a Rua da Aurora se tornaram Sol e Aurora, dois corpos simbólicos que conduzem o público por uma travessia sensível entre o concreto e o imaginado.
Concebido como um espetáculo de dança multimídia, Aurora entre Vias e Vidas mistura coreografias em estilos diversos - jazz, sapateado, contemporâneo e danças urbanas - com projeções audiovisuais, trilhas de artistas pernambucanos e depoimentos reais de quem habita a cidade. A dramaturgia fragmentada acompanha o passeio dos personagens Sol e Aurora, em uma metáfora sobre pertencimento, tempo e resistência urbana. As sessões acontecem no sábado (13), às 19h, com ingressos à venda na secretaria do Centro de Artes Grupo Vida, na Madalena e na bilheteria do teatro e no domingo (14), às 17h, com ingressos com venda online na plataforma guicheweb.com ou na bilheteria do Teatro. Os valores são r$ 60 (meia entrada), r$ 120 inteira e r$ 80 social + 1kg de alimento.
No palco, a personagem Aurora, interpretada pela atriz convidada Mariana Perazzo, é o passado vestido de poesia. Ao seu encontro caminha Sol, interpretado pelo artista Gui Faiat. A travessia se completa com a presença de três outras figuras simbólicas: Lua - Malu Guimarães, a guardiã da noite; a cantora de frevo, Thais Lima, que irrompe como memória coletiva e alegria popular; e a Poesia, de Nanda Fonten, presença etérea que borda palavras no ar. Juntos, esses personagens encarnam um Recife dividido entre memória e futuro, entre saudade e reinvenção.
Inspirado pela cartografia afetiva do Recife, Aurora entre Vias e Vidas explora a dança como linguagem de evocação de identidades urbanas, memórias coletivas e transformações sociais. A composição cênica é construída em camadas simbólicas, onde cada elemento visual e sonoro potencializa o encontro entre corpo, tempo e cidade. A estrutura do espetáculo alterna momentos de euforia e introspecção, acompanhando a busca de Sol por Aurora, numa metáfora sobre tempo, pertencimento e resistência urbana.
A trilha sonora costura canções autorais de Nanda Fonten, diretora musical do espetáculo, e Vitor Araújo, Flaira Ferro, Barbarize, Uana, Silvério Pessoa, Alceu Valença, Chico Science, Nação Zumbi e Antônio Maria, entre outros, com sons urbanos: buzinas, batidas, vozes e o silêncio dos rios. No encontro entre passado e presente, e sinalizando o futuro, o trabalho propõe uma travessia poética pelas memórias que habitam o concreto, pelas luzes que cortam a noite, pelas vozes que ainda ecoam nas calçadas. Uma travessia entre tempo, corpo e território, onde a cidade se revela em suas luzes, sombras e sonhos.
O grande diferencial é que a arte se mistura à tecnologia. O audiovisual em Aurora - entre vias e vidas é parte ativa da narrativa - ele documenta, amplia, duplica e também distorce a cidade. O espetáculo traz vídeos documentais, captados pelo diretor audiovisual, Max Levay, com cenas reais da cidade de hoje (Rua do Sol, Aurora, Ponte Maurício de Nassau, Marco Zero, mangue…); vídeos poéticos, a exemplo de flutuações no rio, sombras projetadas, silhuetas dançantes, céu se transformando, uso de câmera lenta e sobreposição; vozes em off: depoimentos de pessoas reais alternando com o silêncio ou com trilha ambiente; e imagens de arquivo: antigos carnavais, cenas em preto e branco, arquivos do centro do Recife (disponíveis no Arquivo Público ou Cinemateca Pernambucana).
Além disso, pela primeira vez num espetáculo de dança, haverá uma intervenção artística do artista visual e arte educador, Teo Armando, que fará uma ilustração ao vivo em grafite enquanto os bailarinos se apresentam. O grand finale também é mais um ponto de destaque na exibição, pois levará ao palco o músico Mestre Lua de Olinda e seu grupo Poço de Batuque.
Em 1h30 de espetáculo, o público vai poder vivenciar um Recife de antigamente, nos cenários e figurinos, mas sempre com propostas voltadas para o amanhã. As ruas do Recife se tornam cenário, personagem e presença viva. O elenco é formado por mais de sessenta bailarinos, todos alunos e alunas do Grupo Vida – crianças, jovens e adultos – que compartilham o palco em um exercício cênico intergeracional, promovendo a escuta e a convivência entre diferentes faixas etárias e experiências artísticas. Por quase um ano ensaiam juntos. A missão é difícil. A história eles já conhecem. O desafio é tornar poética, a vida do recifense trabalhador, guerreiro, que nunca foi fácil.
As coreografias foram concebidas pelos professores e coreógrafos Bianca Morena, Duda Serafim, Gui Faiat, Madson de Paula, Thiago Sousa e Rita Vieira. Cada quadro coreográfico expressa uma paisagem sensível da cidade, ora pulsante, ora introspectiva, respeitando a identidade de cada grupo e o estilo próprio de cada modalidade. O corpo coletivo se desdobra em fluxos, multidões, atravessamentos e encontros, evocando o Recife em sua pluralidade. Um dos principais objetivos de Aurora entre Vias e Vidas também é promover a cultura local, valorizando compositores, poetas e imagens da cidade em suas múltiplas dimensões.
A obra se ancora em uma dramaturgia híbrida, na qual o corpo dos intérpretes se entrelaça com trilhas sonoras emblemáticas, textos de autores pernambucanos (como Gilberto Freyre e Miró da Muribeca), depoimentos pessoais e os vídeos captados por Max Levay, em locações reais do Recife. Aurora e Sol conduzem o público por uma Recife onírica, dividida entre lembrança e urgência. Através dessa travessia coreográfica, é possível reviver os carnavais, mangues, pontes, lutas e brilhos que compõem a alma da cidade.
Na tela projetada por trás do palco, os vídeos trazem registros reais da cidade e dialogam com videoartes poéticas: ruas vazias, sombras dançantes, o Capibaribe ao entardecer, o mangue. As vozes em off costuram relatos íntimos e coletivos, ampliando a sensação de uma cidade que pensa, respira, canta e lembra.
O espetáculo foi idealizado e realizado pelo Centro de Artes Grupo Vida. O projeto tem como um de seus pilares a valorização da formação artística como prática viva e coletiva integrando as diferentes modalidades de dança desenvolvidas na escola e respeitando a identidade de cada grupo e seu grau de experiência. Aurora entre Vias e Vidas propõe-se como um manifesto visual e afetivo sobre uma cidade em transformação — onde a memória ainda dança, e o presente pulsa como frevo e sol. Mais do que uma apresentação, é uma experiência sensorial, um mapa emocional, um convite à escuta da cidade. Porque, entre ruas e pontes, o Recife dança.
SERVIÇO:
O QUÊ? Espetáculo Aurora - entre Vias e Vidas
ONDE? Teatro Santa Isabel, centro do Recife
QUANDO? 13 de setembro, às 19h – sessão com venda de ingressos na secretaria do Centro de Artes Grupo Vida, na Madalena; e no teatro
14 de setembro, às 17h – bilheteria aberta ao público em geral
VALOR? R$ 120,00 – ingresso inteira
R$ 60,00 – ingresso meia entrada
R$ 80,00 + 1 kg de alimento não-perecível – ingresso social
Classificação: Livre
Duração: 1h30
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