Já temos os vencedores do 8º Prêmio Cepe Nacional de Literatura e do 5º Prêmio Cepe Nacional de Literatura Infantil e Infantojuvenil
A última semana de julho trouxe ventos novos para a literatura nacional com a divulgação dos vencedores do 8º Prêmio Cepe Nacional de Literatura e do 5º Prêmio Cepe Nacional de Literatura Infantil e Infantojuvenil. Os escritos de Blanca Mares, do mineiro Roberto Marcos, foi escolhida a melhor obra na categoria Romance. Atemoia, do paulista Daniel Keichi, conquistou a categoria Conto. E Cicatrizes na paisagem, do gaúcho Felipe Julius, arrebatou a categoria Poesia.
No certame que selecionou os melhores textos infantil e infantojuvenil saíram vitoriosos: A morte e o estagiário da Morte, do gaúcho Ernani Ssó, e A menina que não queria ver Deus, da mineira Lisa Alves, respectivamente. Cada vencedor receberá um prêmio no valor de R$ 20 mil, além de ter a obra publicada e lançada pela Cepe. Os resultados das seleções foram divulgados na edição da quarta-feira (23 de julho) do Diário Oficial do Estado de Pernambuco e também estão disponíveis no site da editora (https://www.cepe.com.br/premio-cepe).
Natural de Belo Horizonte, Roberto Marcos mora na cidade de Teófilo Otoni onde atuou como radialista até decidir, em 2022, se dedicar exclusivamente à carreira de escritor. É autor dos livros O Encomendado Amadeu (1980), Verdades Intoleráveis, (2010), Os Ovos Azuis da Serpente (2017), O Santo do Rio Sangue (2020) e A Janela de Babiana Trudeau (2024), todas produções independentes.
Os escritos de Blanca Mares, trabalho vencedor do Prêmio Cepe, foi produzido há dez anos. Uma ficção que mergulha no Brasil profundo, inspirada em personagens reais de Teófilo Otoni, trazendo a história de Timóteo, o velho Tussa, sua relação afetiva com a Estrada de Ferro Bahia-Minas e a loucura perpetuada em sua existência com a morte da esposa. “Acompanho o Prêmio Cepe há muito tempo e tenho o maior respeito pelo trabalho sério que vem sendo realizado em Pernambuco pela literatura. Isso me motivou muito a inscrever o romance. Estou muito feliz com a notícia”, afirmou Roberto Marcos.
Na avaliação do júri, Atemoia, de Daniel Keichi, “é um livro de contos com histórias muito bem tramadas e desenvolvidas, nas quais o autor mantém o fôlego de quem lê e causa surpresas.” Ainda de acordo com o júri, “as personagens são bem estruturadas e o fato de serem oriundas de mundos invisibilizados não compromete sua humanidade e complexidade, constituindo um grande mérito do livro.”
Cicatrizes na paisagem, do gaúcho Felipe Julius, sintetiza em versos a tragédia provocada pelas chuvas que atingiram cerca de 2,4 milhões de pessoas no Rio Grande do Sul, em 2024. “A obra é uma road novel poética que nos carrega de volta à catástrofe climática mais difícil do estado”, afirma Felipe Julius. Na narrativa, diz ele, “uma mulher grávida atravessa o Sul do Brasil em meio às enchentes, acompanhada da companheira Maria e de uma família desconhecida com quem divide o carro e o destino.”
O texto foi escrito na primeira semana de janeiro. “Era uma promessa de ano novo que fiz após ter vivido in loco a situação de 2024. A reescrita durou mais meia semana. Foi o processo criativo mais rápido que tive, não me arrependo... mas não faria de novo. Eu já havia pensado muito na obra, tem isso também, talvez já tivesse alinhado tudo na minha mente e só faltava botar no papel, sou super grato pelo rumo”, declara.
O autor nasceu em Porto Alegre (RS), em 2000, e mora em Florianópolis (SC). É escritor, roteirista e redator publicitário, formado em Comunicação Social pela Famecos (PUCRS). Seu livro de estreia, Foram talvez os anjos revoltados, (Ed. Urutau, 2023) foi finalista do 66º Prêmio Jabuti, na categoria Poeta Estreante.
Infantil e Infantojuvenil - Vencedor do 5º Prêmio Cepe Nacional de Literatura, na categoria Infantil, A morte e o estagiário da morte, do gaúcho Ernani Ssó, aborda o tema da morte com humor, leveza e sensibilidade. A narrativa se destaca pela originalidade e equilibra diálogos engraçados e profundos entre os dois personagens centrais. Nesta obra, o autor volta a explorar um tema já apresentado em dois dos seus escritos, Contos de morte morrida (Companhia das Letrinhas, 2007) e As lendas urbanas da morte (Alfaguara, 2015).
Ernani, natural de Bom Jesus, na Serra do Rio Grande do Sul, tem mais de 30 livros escritos e traduziu mais de 50. Do espanhol para o português, ele fez a tradução de clássicos como Dom Quixote, de Miguel Cervantes, e O caderno de Maya e A ilha sob o mar, de Isabel Allende. “É uma tremenda alegria, porque não sou apenas eu que ganha o prêmio. Muitas crianças, com quem falei em escolas, me pediram mais histórias sobre a morte. É que algumas se divertiram lendo e outras, através delas, conseguiram lidar com seu luto. Isso não tem preço”, afirmou Ernani Ssó.
A mineira de Araxá Lisa Alves conquistou a categoria Infantojuvenil com A menina que não queria ver Deus. O livro conta a história de Maria Antônia, uma garota de 11 anos que vê um mundo adulto com brigas, ausências e silêncios e recorre à filosofia, à mitologia e às histórias da avó para tentar compreender o que não faz sentido. Em suas orações, pede para que Deus a ouça, mas não apareça. “Ganhar o Prêmio Cepe com A menina que não queria ver Deus é um alívio amargo. Escrevi esse livro pensando nas crianças que ainda têm tempo de perguntar, porque tantas outras têm sido silenciadas sem misericórdia. Obrigada a todas as mãos que cuidam das palavras. E a quem, como Maria Antônia, ainda prefere as perguntas às certezas”, afirmou. Escritora, videoartista e roteirista, Lisa Alves é autora dos livros Arame Farpado (Coletivo Púcaro, 2015), Quando tudo for possível (Mirada, 2022) e Jardim de Pragas (Patuá, 2025).
O editor da Cepe, Diogo Guedes, destaca a importância dos editais dos Prêmios Cepe para a valorização da produção literária. “Eles são fundamentais por promoverem a escrita e por trazerem novos originais, já respaldados por um júri especial, para o nosso catálogo, com obras que provaram sua capacidade de mobilizar leitores e se destacarem. Não é por acaso que vencedores de edições anteriores tiveram boas trajetórias em premiações literárias nacionais. Vemos entre esses originais premiados autores jovens, estreias na literatura e também nomes veteranos, de carreira consolidada”, assegurou.
Participação – Os prêmios literários da Cepe registraram um total de 1.740 obras inscritas - 1.075 na categoria adulta e 665 para a edição Infantil e Infantojuvenil - com um aumento de participação de 19,7% em relação aos últimos concursos, em 2022. São Paulo, Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia foram os estados com maior número de candidatos. Desta vez, houve uma proporcionalidade em relação ao gênero, sendo 52,9% componentes masculinos e 47,1% femininos.
Todos os trabalhos inscritos no 8º Prêmio Cepe Nacional de Literatura foram selecionados por duas comissões responsáveis pela pré-seleção e análise final. O júri inicial teve a participação de Clarissa Galvão, Igor Gomes (Romance), Marina Moura (Contos), Floresta e Júlia Côrtes Rodrigues (Poesia). Compôs o júri final as escritoras Cidinha da Silva, Jussara Salazar e Nara Vidal. O 5º Prêmio Cepe Nacional de Literatura Infantil e Infantojuvenil contou com um júri único formado pelos escritores Ana Estaregui, Nina Rizzi e Thiago Corrêa. “Buscamos ter um júri composto de pessoas com carreira destacada e significativa no meio da literatura, mas sempre considerando critérios de diversidade. O processo da premiação é anônimo, então o que pesa é a qualidade dos textos e a negociação entre os diferentes repertórios do júri final, que este ano foi composto de três mulheres ", destacou a editora-assistente da Cepe, Gianni Gianni.
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