Amparo 60 recebe a exposição "Murucututu", dos artistas Amanda Melo da Mota e Cristiano Lenhardt.

 

Murucututu

Murucututu é o nome da exposição de Amanda Melo da Mota e Cristiano Lenhardt lançada na última quarta, dia 11 de setembro, na Amparo 60. Os artistas apresentam cerca de 28 obras, algumas produzidas em conjunto, nos últimos meses, e outras de seus projetos e pesquisas individuais que, ao longo do processo, se colocaram em diálogo. 

Amanda e Cristiano viveram a efervescência da arte contemporânea no Recife, no início dos anos 2000. Tornaram-se amigos desde aquele período e, ainda que morando em cidades diferentes, mantiveram um profícuo canal de diálogo e de apoio artístico e espiritual. Entre suas poéticas e caminhos sempre houve importantes pontos de intersecção, mas eles nunca haviam realizado uma exposição conjunta, com trabalhos feitos também em conjunto. Foi justamente pela observação da relevância e da densidade dessa troca entre os dois que a galerista Lúcia Costa Santos propôs uma mostra que celebrasse esse encontro.

Segundo a dupla, as obras e toda a base para concepção da exposição nasceram antes mesmo dela estar prevista. No final da pandemia da Covid-19, Amanda visitou seu amigo no Mundo Bicho, ateliê e casa de Cristiano Lenhardt, situado no município de São Lourenço da Mata. Um sítio encravado numa vasta área de mata atlântica, um ambiente rico e provocador. Nessa temporada de Amanda na casa do amigo, eles ouviram um canto grave que vinha da mata, depois descobriram que aquilo que ressoava era do Murucututu, uma coruja cujo habitat é a mata atlântica. Aquele canto foi compreendido como um chamado, como uma convocação para que os dois criassem juntos. Assim eles foram desenvolvendo alguns experimentos.

Nesse processo, eles realizaram um exercício, chamado por Cristiano, de Rito a Rito. Nele, a proposta é desenhar/pintar em conjunto. Assim, os dois abriram uma grande tela no chão e começaram a trabalhar livremente tendo como material uma terra avermelhada encontrada na região. E, quando o convite da exposição chegou, foi dessa tela nascida desse exercício de alguns anos antes que os artistas escolheram partir. “Foi algo muito orgânico e fluido vivermos esta experiência. Depois dessa primeira pintura veio um desenho em carvão com exercício de desenho cego e os outros trabalhos foram surgindo”, lembra Amanda.

Num segundo encontro, Cristiano visitou a casa de Amanda em São Paulo, onde também funciona seu ateliê, e que estava em plena reforma. Nesse novo ambiente eles seguiram com mais alguns exercícios e planejaram aquilo que fariam no retorno de Amanda ao Mundo Bicho.  

“Decidimos que iríamos trabalhar com a cerâmica, com o barro, com esse solo sagrado. Começamos a produzir juntos com essa matéria-prima, deixamos secar e posteriormente levamos ao fogo. Mas a queima não deu muito certo, as peças explodiram, terminamos com uma série de estilhaços. E fomos pensando em como trabalhar com esse material”, explica Cristiano. A partir dessas lascas nasceram espécies de esculturas, enigmas trazidos pela beleza das formas, numa conexão com a matéria, como a materialidade, com os significados ali forjados. “Foi um processo intenso, intuitivo e muito divertido. A gente ficou se divertindo com as coisas que davam errado e aproveitando e imaginando soluções, lidando com nossas emoções e exp ectativas”, conta Cristiano. As cerâmicas também se transformaram em molduras para alguns desenhos, reafirmando a importância dos ciclos e da ideia de circularidade para os artistas.

No texto da exposição, a crítica Ana Maria Maia escreve: “Outro traço partilhado é a abertura para lidar com os materiais, dispostos a acolher suas verdades, limites e vontades. Diante da indisciplina das partes, da quebra, do fracasso e da surpresa das técnicas, a criação se refaz sem pudor, mantendo aparentes as cicatrizes do processo. Desta maneira, alguns trabalhos parecem existir não como resultado de algo programado, mas como pretexto para atravessar o desconhecido”.

Ao mesmo tempo em que nasciam as obras a quatro mãos, eram desveladas aproximações com seus projetos individuais recentes.  Ao colocá-los em diálogo, juntos, num processo de apoio, de compartilhamento de ideias, de visões de mundo, ganharam mais potência e mostraram que toda a produção não era aleatória. “Também pensamos quais trabalhos nos tocavam. Aqueles do Cris que eu gosto, os meus que ele gosta, todos eles entraram em uma primeira lista. Meus interesses estão sempre ligados ao corpo, corpo - gênero-paisagem, muitas vezes usando diversas linguagens para conseguir dar conta daquilo que me interessa produzir. E aí encontrar o Cris e seu trabalho relacionado com minha produção atual foi uma espécie de amplifica&ccedi l;ão”, destaca Amanda.

A pausa para esse estar junto fez os dois bordarem, repetirem um gesto incansáveis vezes como mantras, como rezas, vendo nascer desses pontos obras têxteis.  Do diálogo com Amanda, Cristiano encontrou o caminho para uma espécie de manta acolchoada que havia feito, mas que ainda não visualizava como obra. “Eu fiz uma promessa. O que eu pedi foi realizado e a promessa era usar roupas amarelas durante 6 meses. Fiz isso. Depois peguei todas essas roupas e fiz uma espécie de colcha de retalhos. Eu não via uma obra ali, para mim faltava corpo. Conversando com Amanda, decidi começar a bordar. Trouxe para esse material os pontos, os furos, algo tão presente no meu trabalho”, lembra Cristiano 

“Nessa empreitada, importa menos tentar traçar uma linha clara de autorias e mais destacar onde essas pesquisas encontram-se e como se potencializam. Nutridos por uma ética afim, os artistas somam suas ferramentas para imantar a terra, ou a “chã”, nela demarcando presenças, ancorando energias e estabelecendo o compromisso primordial de honrar a vida”, resume Ana Maria em seu texto. Murucututu fica em cartaz até , na galeria Amparo 60.

SERVIÇO

Murucututu - AMANDA MELO DA MOTA E CRISTIANO LENHARDT

Visitação: De 12 de setembro a 17 de outubro.

Segunda a sexta, das 10h às 19h

Sábados das 10h às 15h, com agendamento prévio

Galeria Amparo 60 - No 3º andar da Dona Santa (Rua Professor Eduardo Wanderley Filho, 187 - Boa Viagem, Recife - PE, 51020-170)

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