Afoxé Omô Nilê Ogunjá promove o IX Festival Feijão de Ogum




 Buscada do feijão, distribuição gratuita da feijoada, cortejo do Omô Nilê pelas ruas do Ibura e outros shows marcam o evento


O Afoxé Omô Nilê Ogunjá põe na panela mais um Feijão de Ogum. Ancestralidade, fé, tradição, cultura, educação, resistência, música, dança, percussão e alegria são alguns dos ingredientes que complementam o tradicional prato da culinária brasileira, que, no IX Festival Feijão de Ogum, é partilhado entre as pessoas que prestigiam o evento e a comunidade do Ibura, onde a sede do Afoxé está localizada.  O evento acontece no dia 23 de abril, a partir das 12h. A distribuição da feijoada é gratuita e precedida pela buscada do feijão, seguida pelo cortejo do Omô Nilê pelas ruas do bairro do Ibura. Logo depois, grupos de samba parceiros do Omô Nilê darão outros temperos ao Festival, com apresentações e muito axé - síntese de múltiplas forças trazidas pela diáspora africana.  O ponto de encontro é no Afoxé (Rua Fernandes Belo, 202).

“Essa função é de chão mesmo, é de rua; a rua como espaço de luta. É um cortejo de reis e rainhas, príncipes e princesas”, destaca Dario Júnior, presidente do Afoxé.

O Feijão de Ogum é realizado pelo Afoxé Omô Nilê desde 2013. Ao evocar o cheiro ancestral da feijoada, o Afoxé reverencia a resistência das senzalas e as memórias das pessoas escravizadas, das culturas e das tradições negras, além de fortalecer as lutas coletivas e antirracistas dos dias atuais. A feijoada é também uma comida ofertada, nos terreiros de Candomblé, ao orixá Ogum, divindade africana associada à guerra e à tecnologia, que é patrono do Afoxé.

Ao longo desses anos, o Afoxé Omô Nilê sempre se propôs, via Feijão de Ogum, a debater o seguinte questionamento: “o que alimenta a sua luta?”. Assim, por esse terreiro já passaram grupos como o Coco Raízes de Arcoverde, Bongar, Nação do Maracatu Leão da Campina, Maracatu Porto Rico, Mestre Zé Negão e Sua Laia, Pérola do Samba e os artistas Andreia Luiza, Leide do Banjo e Leno Galeria, entre outros.

Parceria com a UFPE – Programa Agogô
Nesta edição, o cortejo também carrega pelo percurso a consolidação de uma importante parceria firmada com a UFPE, por meio do Programa de Pós-graduação em Educação, Ciências e Matemática: o IX Feijão de Ogum marcará, no dia 23, o fim do 1º módulo das aulas da disciplina “Metodologias, Aprendizagem e a Educação das Relações Étnico-raciais”, que está sendo promovida dentro do Afoxé Omô Nilê/Ilê Axé Ojuomi, em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), por meio do Programa de Imersão Cultural e Educacional Agogô.

A disciplina, a ser ministrada pelos professores Marcos Barros e Ivanildo Carvalho, terá sua aula inaugural no dia 21 de abril, em formato de imersão, e pretende debater os fundamentos teóricos e metodológicos do ensino criativo, afetivo, imersivo e inovador, com base na pedagogia decolonial. Durante os três dias, sabedorias, movimentos e outros contornos para uma educação das relações étnico-raciais também serão abordados, com vistas à implantação da Lei 10.639/2003, que em 2023 completa 20 anos.

“A parceria da Universidade com o Afoxé, através do Ilê Axé Ojuomi, busca permitir que a Universidade aprenda com os terreiros. E o primeiro grande objetivo é que a gente, que está na academia, que faz uma ciência mais eurocêntrica, possa aprender novos saberes, que fazem parte das civilizações. Outra coisa é permitir que esses espaços se sintam confortáveis em dialogar com a academia. Quando a gente rompe com a lógica intelectual, a gente faz o movimento de aprender juntos, de criar uma nova estrutura de aula e de aprendizagem, abrindo novas perspectivas de construção de conhecimento, também por meio do sentir”, explica Barros.

Segundo Dario, a parceria visa a criar novos paradigmas educacionais, por meio das tecnologias já desenvolvidas pelo Afoxé. “Para nós, do Omô Nilê Ogunjá, o Feijão de Ogum tem sido também o momento de disseminar o que estamos construindo no nosso Programa de Imersão, uma iniciativa que junta os saberes acadêmicos com os que vêm da cultura, da religiosidade popular e da trajetória histórica do povo negro e de terreiro. Isso em torno do propósito de chegar a uma outra forma de educar”, complementa o presidente do Omô Nilê.

O Programa Agogô é fruto da relação dialógica entre o Afoxé e o Grupo de Pesquisa em Educação, Políticas Públicas, Inovação e Tecnologias da UFPE. O projeto conta com ações como vivências formativas em canto, dança e percussão, além das aulas direcionadas para estudantes de pós-graduação. O Programa Agogô também prevê a realização de atividades culturais e educativas na comunidade e nas escolas públicas do Ibura.
 

Afoxé Omô Nilê Ogunjá: o enunciado que faz acontecer
Em Iorubá, “afoxé” significa “a força da palavra”, “o enunciado que faz acontecer”. Fundado em 4 de outubro de 2004, o Afoxé Omô Nilê Ogunjá nasceu com a proposta de unir dança, música e percussão – reinvenção das tecnologias de luta e enfrentamento antirracista - ao compromisso de ocupar simbolicamente o espaço público, de dizer “nós existimos”, levando a beleza, a religiosidade, as narrativas e a tradição das religiões de matriz africana para as ruas. Para além de grupo artístico e cultural, o Omô Nilê assumiu a responsabilidade política de fortalecer a própria comunidade integrante do Afoxé, a comunidade do entorno e ampliar a luta contra o racismo. Com trajes em azul e branco, seus caminhos são guiados pelos orixás Ogum, a força instintiva e destemida que abre os caminhos; Oxalá, o senhor que traz a harmonia e mantém os passos confiantes e firmes; e Oxum, a rainha das águas doces, que garante que a prosperidade, a beleza e o encantamento sejam sempre parceiros na jornada.

 O grupo já gravou dois álbuns, "Berços dos Ancestrais" (2009) e "Odara" (2014), e produziu dois documentários, com o objetivo de contribuir para a salvaguarda e a divulgação da cultura negra no Brasil. As produções audiovisuais "Ikomòjadé" e "Sou Eu" foram exibidas dentro e fora do país e são utilizadas como referências na pesquisa sobre a temática.

A trajetória do Afoxé Omô Nilê Ogunjá é alicerçada nos pilares da ancestralidade, da educação social e política, da corporalidade, da exaltação da estética negra e do fortalecimento das culturas e das tradições negras. Não à toa, o grupo foi batizado, em 2011, pelo afoxé Filhos de Gandhy - que detém o título de um dos mais tradicionais Afoxés do país -, tendo feito apresentações em vários lugares do Brasil. Em 2014, também integrou a programação do New Orleans Jazz & Heritage Festival.

Desde a sua criação, o Omô Nilê participou de todas as edições, ininterruptamente, do Encontro dos Afoxés do Recife, no Pátio do Terço, um dos lugares mais emblemáticos da memória e da cultura negra pernambucana, por abrigar terreiros, agremiações carnavalescas e ser espaço de trabalho, convivência e sobrevivência para muitos negros e negras.

 Além disso, o Omô Nilê fez cortejos e apresentações em palcos descentralizados nos carnavais do Recife dos anos de 2011, 2013, 2015; cortejo com o Afoxé Filhos de Gandhy, em Olinda e Recife, em 2010; shows na Terça Negra (de 2005 até o fim do evento cultural); abertura do Carnaval do Recife, no palco do Marco Zero, em 2012; shows nas edições de 2013, 2015 e 2022 do Festival de Inverno de Garanhuns; apresentações no XIV Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros/GO (2014) e no 8º Festival Lula Calixto, em Arcoverde/PE (2013). Também participa, desde 2018, da cerimônia Ubuntu, celebração de paz e prosperidade que marca o encerramento das prévias carnavalescas.

Este ano (2023), além de cortejos e shows em palcos descentralizados do Carnaval do Recife, o Omô Nilê foi o primeiro afoxé de Pernambuco a se apresentar no palco do RecBeat.

SERVIÇO
IX Festival Feijão de Ogum – Dia 23 de abril, a partir das 12h, na sede do Afoxé Omo Nilê Ogunjá (Rua Fernandes Belo, 202, Ibura).

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