Exposição ‘Eu não enterrei meu umbigo aqui’ leva ancestralidade e pertencimento à Galeria Marco Zero
Edgar Kanaykõ Xakriabá Uï kanã pataxi festa das águas. Povo Pataxó, Aldeia Imbiruçú |
Composta por 60 obras e dividida em três núcleos conceituais, a mostra reúne narrativas diferentes sob a ótica de 32 artistas. Com acesso gratuito, a exibição fica na galeria até 08 de abril
Com o objetivo de refletir sobre as reais e diferentes formas como aconteceram os fluxos migratórios do Brasil, a Galeria Marco Zero recebe a exposição ‘Eu não enterrei meu umbigo aqui’, sob a curadoria de Galciani Neves. Dividida em três núcleos conceituais, a estrutura da mostra segue primeiro a narrativa do ‘Exercício de permanência como resistência', depois a de ‘Migrar para insurgir' e, por fim, o ponto do ‘Desterro forçado'. Com acesso gratuito, a mostra segue abera para visitação do público a partir da próxima quinta-feira (26) e fica em exibição até o dia 08 de abril na Galeria Marco Zero, localizada na Av. Domingos Ferreira, nº 3393, bairro de Boa Viagem.
PONTO DE PARTIDA - Para iniciar o trabalho de curadoria, Galciani Neves conta que sua pesquisa teve início ao buscar personagens cujas histórias de vida foram marcadas por migrações e travessias, muitas vezes a contragosto. Dos personagens mais conhecidos estão a primeira mulher presa política do Brasil, Bárbara de Alencar; a Maria de Déa, mais conhecida como ‘Maria Bonita’; e a Iracema, que virou personagem do filme teuto-brasileiro ‘Iracema - Uma Transa Amazônica’ (1974). O título da exposição ‘Eu não enterrei meu umbigo aqui’ é uma referência a uma das falas de uma personagem do filme e significa a necessidade de deslocar-se para a sobrevivência. Com historiografia densa, a exposição mostra relatos artísticos reunidos em 60 obras sob o ponto de vista de 32 artistas brasileiros que fogem do ponto de vista do branco colonizador. Segundo Neves, a tarefa de reescrever a História do Brasil, desse território tão diverso, de tantos povos e tantas culturas, só é possível se for reescrita de forma coletiva, com atenção às questões que envolvem atravessamentos pessoais e experiências dos próprios artistas. “Quando se olha para a nossa história, é impossível ignorar perspectivas com problemáticas racistas, patriarcais e patrimonialistas. Reviver os fluxos migratórios pelo prisma da Arte, faz a gente revirar a nossa ancestralidade e repensar nosso pertencimento”, pontua Galciani.
ARTISTAS - Segundo Marcelle Farias, sócia da Galeria Marco Zero, junto com Eduardo Suassuna, esta coletiva é uma oportunidade de o público enxergar as questões através do trabalho de artistas diversos. “São olhares de diferentes históricos, procedências, gerações que, justapostos, trazem uma excelente reflexão para temas que são urgentes e necessários”, observa. Na lista de artistas estão os nomes de Aislam Pankararu; André Vargas; Antonia Nayane; Bozó Bacamarte; Bruno Faria; Carmela Gross; Cícero Dias; Clara Moreira; Chico Albuquerque; Cristiano Lenhardt; Davi de Jesus do Nascimento; Edgar Kanaykõ Xakriabá; Elilson; Fernanda Porto; Fred Jordão; Guga Szabzon; Gustavo Caboco e Lucilene Wapichana; Ianah Maia; Janaina Wagner; Júlia Pontés; Juraci Dórea; Letícia Parente; Maria das Dores Cândido Monteiro; Maria do Socorro Cândido Monteiro; Maria Macedo; Marlene Costa de Almeida; Mestre Neguinha e Nanai; Rafael RG; Rubiane Maia; Tiago Sant'anna ; Tereza Costa Rêgo e Vitor Cesar.
CURADORA - Cearense radicada em São Paulo, Galciani Neves é curadora, professora e pesquisadora no campo das artes visuais. Obteve o título de mestre (2009) em Comunicação e Semiótica na PUC-SP. É autora do livro Exercícios críticos: gestos e procedimentos de invenção (EDUC, 2016, com auxílio FAPESP). Foi coordenadora da Escola Entrópica (Instituto Tomie Ohtake - SP). Trabalhou em instituições como a Fundação Bienal de São Paulo, Instituto Tomie Ohtake e MuBE (Museu Brasileiro da Escultura e da Ecologia). Também foi professora colaboradora do Mestrado em Artes da Universidade Federal do Ceará. Atualmente, é professora do Curso de Artes Visuais e da Pós-Graduação em Práticas Artísticas Contemporâneas na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), na Escola Tomie, bem como é uma das consultoras-colaboradoras artístico-pedagógicas da Biblioteca-Floresta, trabalho sócio-artístico-ambiental de Simone Moraes, em Goiás.
Sobre a Galeria Marco Zero
Comandada por Eduardo Suassuna e Marcelle Farias, a Galeria Marco Zero reúne um acervo de diversas vertentes, expressões, períodos e estilos. Entre os destaques, a representação do espólio do pernambucano Gilvan Samico, e a preservação e difusão de nomes do quilate de Abelardo da Hora, Cícero Dias, Gil Vicente, Francisco Brennand, Burle Marx, Vicente do Rego Monteiro, Tereza Costa Rêgo, Reynaldo Fonseca, Lula Cardoso Ayres, Carybé, Di Cavalcanti, Portinari, Tomie Ohtake, Abraham Palatnik, Rubem Valentim, José Cláudio e João Câmara.
A galeria também se corresponde com movimentos mais contemporâneos apresentando trabalhos de Tunga, Miguel Rio Branco, Paulo Pasta, José Damasceno, Rodrigo Andrade, Túlio Pinto, Emmanuel Nassar, Felipe Cohen, Tatiana Blass, Tulio Pinto, Paulo Whitaker. E representa jovens artistas locais como Ramonn Veitez e Rayana Rayo, cujos trabalhos estão focados no desenvolvimento de suas poéticas e conectados com questões fundamentais da atualidade. A Marco Zero também abriga uma biblioteca especializada, inclusiva e em constante formação, contribuindo para o exercício da diversidade e a construção e difusão do conhecimento. Fomentar a produção local e descentralizar a circulação da arte para além do eixo Rio-São Paulo ao tempo que estabelece conexões entre a criação local e expoentes nacionais é um dos propósitos do espaço.
Serviço:
Exposição ‘Eu não enterrei meu umbigo aqui’, curadoria de Galciani Neves
Galeria Marco Zero – Avenida Domingos Ferreira, nº 3393, Boa Viagem
Abertura: 26/01 às 19h | Visitação 26/01 até 08/04
Horário - seg à sex | 10h-19h | sáb e dom | 10h-17h
Acesso gratuito
Comentários
Postar um comentário