Novo livro do contista Everardo Norões é lançado pela Cepe

 Garrafas que sonham macacos, coletânea de 19 contos, será lançada dia 21 de novembro, na Academia Pernambucana de Letras


Considerado pelos críticos um dos principais contistas e poetas do Brasil, o cearense radicado no Recife Everardo Norões, 78 anos, terá seu novo livro publicado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe): Garrafas que sonham macacos, com 19 contos inéditos e 144 páginas. O lançamento acontece dia 21 de novembro, às 19h, na Academia Pernambucana de Letras (APL), nas Graças. 


Everardo, que é colaborador fixo do jornal literário Pernambuco (Cepe) há cinco anos, não publicava um livro de contos há mais de dez anos. “Sou um escritor sucinto, tanto na poesia como nos contos”, afirma, acrescentando que ambos os gêneros literários se assemelham justamente por possuírem linguagem enxuta. “Você trabalha com poucas letras. Gosto de escrever pouco, retirando tudo de dispensável”, revela o escritor, que foi vencedor do então Prêmio Portugal Telecom da Língua Portuguesa - atual Prêmio Oceanos -, em 2014, com o livro de contos Entre Moscas (Confraria do Vento, 2013). 


Os 19 contos reunidos no livro foram escritos ao longo de três anos e, segundo o autor, têm em comum situações do cotidiano feitas para reflexão do leitor, uma característica da crônica. “Estamos tão acostumados com o trivial que acabamos por achar ‘normal’ o que de fato não é”, declara o escritor, que escreve também sobre a maneira como enxerga a arte, a política e a literatura e sua influência na vida. “Às vezes as pessoas não se chocam com o próprio comportamento em determinadas situações”, avalia Norões, chamando atenção também para a incompatibilidade entre pensamento e ações, o que é inerente aos seres humanos. Talvez seja essa a origem do bolsonarismo”, arrisca Norões, que atualmente reside em Portugal. 


No último conto, Garrafas que sonham macacos, há referência a Colinas como elefantes brancos, do escritor americano Ernest Hemingway. “É sobre o encontro entre duas pessoas em que parece que algo acontece ou que nada acontece”, explica Norões. 


Um certo asco acomete o leitor no conto O grande cuspe. Na narração em primeira pessoa, um passageiro de um carro avista um cuspe escorrendo pela lataria de um ônibus parado no trânsito. A cusparada é um pretexto micro asqueroso para falar do macro: a cidade. “O sol cospe chumbo enquanto a ‘coisa’ desloca-se de forma estranha, entre lesma e lagarto. É a metáfora de minha cidade, lugar sujo e cheio de pequenos indivíduos desgovernados, micróbios afogando-se num imenso rio cor de pus. Fosse um filme, teria como trilha sonora buzinas, motores a explosão, gritos de

vendedores ambulantes e tiros.”


Já em o Alemão comido por urubus, o título é literalmente sobre o que conta a narrativa. Tal como a dualidade “paradoxal e emblemática” do idioma alemão, o autor reflete sobre a contradição de percepções do silêncio no barulho. “Súbito, descobri que havia uma espécie de silêncio feito pelo barulho de animais invisíveis. Um silêncio cheio de sons, semelhante ao que acontece na esfera da ótica quando a soma de todas as cores inventa o território do branco.”


SOBRE O AUTOR


Everardo Norões nasceu no Crato, Ceará, em 1944. Exilado político, viveu na França, Argélia e Moçambique. Vive atualmente em Recife. É autor de vários livros de poesia, entre os quais A rua do padre inglês, Retábulo de Jerônimo Bosch, Poeiras na réstia. Colabora em várias revistas literárias do Brasil. Seus poemas foram traduzidos para o francês, espanhol, catalão e quíchua. Também tradutor, é conhecido na França sobretudo por seus poemas para o francês publicados nas revistas Gare maritime (Maison de la Poésie de Nantes) e Bacchanales (Maison de la Poésie de Grenoble). 



Serviço:

Lançamento do livro Garrafas que sonham macacos (Cepe Editora), de Everardo Norões

Quando: 21 de novembro

Onde: Academia Pernambucana de Letras (Avenida Rui Barbosa, 1593, Graças)

Horário: 19h às 22h

Preço: R$ 30 (impresso); R$ 12 (e-book)


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