A história do Brasil holandês antes de Nassau

As Memorias de Krzysztof Arciszewski

 Cepe lança As memórias de Krzysztof Arciszewski (1630-1637): Um polonês a serviço da Companhia das Índias Ocidentais no Brasil,  com textos inéditos com tradução do neerlandês para o português


Quando, entre leigos, se fala sobre a colonização holandesa, o nome do alemão-neerlandês João Maurício de Nassau logo surge. Apesar de sua inegável contribuição para a colônia - trazendo artistas e naturalistas para eternizar em pinturas e desenhos a paisagem e a gente  que por aqui perambulava no século XVII -, o conde Johan Maurits van Nassau-Siegen já chegou em um território apaziguado, em 1637. No começo da exploração do Brasil-colônia pela Companhia das Índias Ocidentais, um dos personagens mais importantes a desembarcar aqui, em 1630, foi o militar polonês Krzysztof Arciszewski, peça-chave nas batalhas mais importantes contra outros exploradores portugueses e hispânicos.


Mapa do Brasil. Gravura em papel

Diante da relevância desse período e desse personagem, a Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) lança As memórias de Krzysztof Arciszewski (1630-1637): Um polonês a serviço da Companhia das Índias Ocidentais no Brasil, organizado e traduzido pelos especialistas em história do Brasil holandês Bruno Miranda e Lucia Xavier. A pesquisa que resultou no livro foi financiada pelo Consulado Geral da República da Polônia em Curitiba, e pelo Arquivo Nacional da Haia, nos Países Baixos. O lançamento acontece no dia 22 de novembro, às 19h, no Museu do Estado de Pernambuco (Mepe), e contará com bate-papo entre os autores e o professor da UFPE George Cabral, membro da Academia Pernambucana de Letras (APL), e do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco (Iphan). 


“As Memórias de Arciszewski constituem um documento de interesse para historiadores e amantes da História que se dedicam ao estudo da presença neerlandesa no Brasil e a temas relativos à história do Brasil colonial e a expansão ultramarina europeia. O texto evidencia também antigos vínculos históricos do Brasil com os Países Baixos e a Polônia no século XVII”, declara a historiadora.

 

A publicação de 222 páginas é inédita em língua portuguesa, e traz duas partes, a primeira com a análise crítica dos autores e o processo de produção do livro, e a segunda reproduz o memorial escrito por Krzysztof, sob encomenda dos comandantes da companhia, como é comum numa troca de comandos. Ainda que não fosse Arciszewski o governador no período, ele foi escolhido para o relato devido à sua erudição e amplo conhecimento de nossas terras, do litoral ao interior. 


Em seu memorial, o polonês revela detalhes sobre os erros das ações militares; sugere a melhor forma de administrar o território; esmiúça as relações entre os holandeses e os outros europeus que por aqui já haviam se estabelecido, e entre estes e os índios e os escravos. E chega a defender que Itamaracá seria melhor região para fixar residência do que Recife. “É um importante relato para entender a história e a logística e o impacto das guerras na sociedade”, resume Bruno que, ao lado de Lucia, trabalhou três mil horas em dez meses para finalizar a obra, cuja importância se reflete na dificuldade de sua feitura. Bruno e Lucia já haviam utilizado trechos do memorial de Arciszewski em suas pesquisas. Mas para compilar tudo em um livro, foi necessário contar com tradução do neerlandês arcaico para o contemporâneo, e deste para o português. Uma tradução difícil também porque, dada a erudição de  Krzysztof, não era incomum encontrar palavras mais rebuscadas e citações políticas em latim. Os historiadores tiveram ainda que traduzir as três versões do relato existentes - duas manuscritas e uma impressa -, pois há divergências em alguns fatos. Daí a presença essencial das diversas notas explicativas que o livro apresenta, como forma de esclarecer iniciados e iniciantes no assunto. 


Figura amarga e extremamente sincera, Krzysztof desde cedo já demonstrava interesse em treinos militares. Tanto é que conquista admiração de seus superiores, mas não é muito apreciado no trato pessoal. Assim foi com o conde Nassau. A história oficial diz que Nassau e Arciszewski tinham boas relações, tanto que foi ele quem guiou o nobre quando de sua chegada ao Brasil. Mais tarde, em 1639, o polonês foi expulso da colônia. O motivo é que é um mistério. “Sabe-se somente que Nassau pediu ao conselho para escolher entre ele e o militar. Quanto à causa, só especulações. Há quem diga, por exemplo, que Arciszewski era um espião”, conta Lucia.


SOBRE OS AUTORES


Bruno é licenciado (2003) e mestre (2006) em História pela Universidade Federal de Pernambuco e doutor em História pela Universidade de Leiden, Países Baixos (2011). É professor do Departamento de História da Universidade Federal Rural de Pernambuco, membro associado do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano e editor da revista do instituto, desde 2014. Tem publicado sobre o Brasil holandês e outros temas em revistas especializadas do Brasil e do exterior e é autor de livros como Peter Hansen Hajstrup: Viagem ao Brasil, 1644-1654 (Cepe, 2016). A obra, finalista do Prêmio Jabuti 2017 na categoria Ciências Humanas, foi escrita em conjunto com o professor emérito da Universidade de Leiden, Benjamin NicolaasTeensma, e por Lucia Furquim Werneck Xavier. 


Lucia é licenciada em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (1995), mestre em História Social pela Universidade Erasmus em Roterdã (2007) e doutora em Arqueologia pela Universidade de Leiden, Países Baixos (2018). Atuou como pesquisadora do Projeto Resgate de Documentação Barão do Rio Branco, da Secretaria Especial da Cultura e do Ministério do Turismo, em parceria com a Universidade de Leiden, entre 2007 e 2018. Atualmente é pesquisadora associada  no projeto Modus Scribendi (UFBA – CNPQ) e no Laboratório de Humanidades Digitais (USP).


Serviço:


Lançamento do livro As memórias de Krzysztof Arciszewski (1630-1637): Um polonês a serviço da Companhia das Índias Ocidentais no Brasil (Cepe Editora), com presença dos autores e bate-papo

Quando: 22 de novembro

Onde: Mepe (Avenida Rui Barbosa, 960, Graças)

Horário: 19h

Preço: R$ 60 (livro impresso); R$ 24 (e-book)

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