Exposição ‘Primeiro a fome, depois a lua’ celebra os 90 anos de José Cláudio na Galeria Marco Zero

 


Seleção inédita de obras evidencia o tema trabalhador na mostra, que começa no próximo dia 11 e segue até outubro, com entrada gratuita

 

Festejando os 90 anos do pintor, desenhista, gravador, escultor, crítico de arte e escritor José Cláudio, um dos mais ilustres e produtivos representantes da arte pernambucana, a Galeria Marco Zero anuncia o artista como o protagonista da próxima exposição do espaço, comandado por Marcelle Farias e Eduardo Suassuna. Sob a curadoria de Clarissa Diniz, a mostra, que entra em cartaz no dia 11 de agosto e permanece até 01 de outubro, tomou como ponto de partida o quadro ‘Primeiro a fome, depois a lua’ (1968). O título da obra, pertencente ao acervo original do Museu de Arte do Rio (MAR), batiza a exposição que celebra não apenas a pujança de sua pintura ou experimentalismo de sua obra, mas principalmente o caráter ético de sua trajetória. Com acesso gratuito, a Galeria Marco Zero fica localizada na Av. Domingos Ferreira, nº 3393, em Boa Viagem, no Recife.

 

ABORDAGEM – “Primeiro a fome, depois a lua” elege, como sua perspectiva central, o trabalho. Fundamentalmente, como José Cláudio enfocou o tema do trabalhador em sua obra e, ao mesmo tempo, compreendeu e politizou sua própria posição de artista como uma condição de trabalho. O conceito curatorial apresenta ao público não as reconhecidas dimensões paisagísticas de sua pintura – as quais são especialmente conhecidas em Pernambuco – mas, ao contrário, seu menos acessado engajamento social e político. “A exposição revela um artista atento às urgências sociais que não são diferentes da sua prática artística, onde José Cláudio se dispunha a pintar oito horas por dia, todos os dias. Dessa forma ele entendia e queria mostrar que o artista é também um trabalhador”, explica Clarissa. 

 

SELEÇÃO INÉDITA - Além de reunir obras de colecionadores privados, datadas desde a década de 1950, a exposição apresenta importantes registros da coleção particular do artista, como os cadernos que José Cláudio produziu durante uma expedição pelo Rio Madeira, coordenada pelo zoólogo Paulo Vanzolini em 1975. Compreende a série dos carimbos; sua colaboração com o desenvolvimento de cartazes e pinturas murais para campanhas eleitorais; sua atuação como cronista e até mesmo – a exemplo do abissal projeto escultórico hoje guardado no Santuário dos Três Reinos – sua disposição a encarar grandes empreitadas de trabalho, que contaram com a colaboração com trabalhadores de áreas diversas: convocados não só por seu trabalho técnico ou mecânico, como também criador.

 

 

JOSÉ CLÁUDIO - Autodidata, já mostrava talento quando criança ao rabiscar com desenhos os papéis de embrulho do armazém do pai. Em paralelo a isso, seu interesse pela pintura nasceu ao observar o seu padrinho, o então promotor público, Othon Fialho de Oliveira, que tinha a pintura como hobby. Em 1952 interrompeu a carreira de estudante de Direito na faculdade recifense e dedicou-se inteiramente ao Atelier Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR), na época dirigido pelo escultor Abelardo da Hora.

De lá, levaria consigo a ideia de que o artista tem evidente papel social e político, devendo engajar-se com os problemas de seu território ou nação.Durante os próximos anos, dedicou-se à pintura em grande escala e aperfeiçoamento de suas técnicas de desenho. Frequentou a Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna em São Paulo e, a partir daí, sua trajetória como artista é gradualmente reconhecida. Hoje, José Cláudio é conhecido como um dos mais expressivos artistas do País por sua arte erudita e visceral.

 

CURADORA - Graduada em artes pela UFPE, mestre em história da arte pela UERJ e doutoranda em antropologia pela UFRJ, Clarissa Diniz é curadora, escritora e educadora em arte. Atualmente é professora da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV). Além de alguns livros e catálogos publicados, e ter trabalhado como editora da revista Tatuí,  tem textos incluídos em revistas e coletâneas sobre arte e crítica de arte. Trabalha como curadora desde 2008 e já encabeçou projetos no Museu de Arte do Rio – MAR (entre 2013 e 2018)  e na 13ª Bienal Naifs do Brasil (2016 - 2017). Entre 2018 e 2021, integrou a coordenação do Curso de Formação e Deformação da EAV junto a Ulisses Carrilho, processo concluído com a exposição Estopim e Segredo (2019) e Rebu (2021), dentre outras ações.

 

Sobre a Galeria Marco Zero

Comandada por Eduardo Suassuna e Marcelle Farias, a Galeria Marco Zero reúne um acervo de diversas vertentes, expressões, períodos e estilos. Entre os destaques, a representação do espólio de artistas pernambucanos como Abelardo da Hora, Gilvan Samic e Tereza Costa Rêgo; e a preservação e difusão de nomes do quilate de Cícero Dias, Gil Vicente, Francisco Brennand, Burle Marx, Vicente do Rego Monteiro, Reynaldo Fonseca, Lula Cardoso Ayres, Carybé, Di Cavalcanti, Cândido Portinari, Tomie Ohtake, Rubem Valentim, José Cláudio e  João Câmara.

A galeria também se corresponde com movimentos mais contemporâneos apresentando trabalhos de Tunga, Paulo Pasta, José Damasceno, Rodrigo Andrade, Túlio Pinto, Emmanuel Nassar, Felipe Cohen, Tatiana Blass e Tulio Pinto.  E acompanha jovens artistas locais como Bozó Bacamarte, David Alfonso, Ramonn Veitez e Rayana Rayo, cujos trabalhos estão focados no desenvolvimento de suas poéticas e conectados com questões fundamentais da atualidade.  A Marco Zero também abriga uma biblioteca especializada, inclusiva e em constante formação, contribuindo para o exercício da diversidade e a construção e difusão do conhecimento. Fomentar a produção local e descentralizar a circulação da arte para além do eixo Rio-São Paulo ao tempo que estabelece conexões entre a criação local e expoentes nacionais é um dos propósitos do espaço.

 

Serviço:
Exposição ‘
Primeiro a fome, depois a lua’ - Obras de José Cláudio, com curadoria de Clarissa Diniz
Galeria Marco Zero –
 Avenida Domingos Ferreira, nº 3393, Boa Viagem
Abertura:11/08 às 19h | Visitação 11/08 até 01/10
Horário - seg à sex | 10h-19h | sáb |10h-17h
Acesso gratuito

 

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