Samico: exposição "Devorador de Estrelas" estreia na Galeria Marco Zero

Devorador de Estrelas/ Helder Ferrer Fotografia-Divulgação


É a primeira vez que o pernambucano tem obra reunida no Recife desde 2014.
Gratuita, mostra entra em cartaz amanhã, dia 25/11, aniversário oito anos de morte do artista e fica em cartaz até fevereiro

 


 

Para marcar a sua inauguração nesta quinta-feira (25), a Galeria Marco Zero festeja o fértil terreno poético de Samico e apresenta a exposição “Devorador de Estrelas”, reunindo mais de 60 obras do artista plástico desde a década de 1960 até suas últimas gravuras. Desde 2014, um ano após sua morte, o Recife não recebia uma exposição individual do pernambucano. Com acesso gratuito, a mostra inaugural abre para visitação do público a partir da próxima sexta-feira (26), ficando em cartaz até o começo de fevereiro. A Galeria Marco Zero fica localizada na avenida Domingos Ferreira, 3393, Boa Viagem.


Para o curador da exposição, Moacir dos Anjos, é uma oportunidade do público da capital pernambucana  entre antigos admiradores e aqueles menos familiarizados com o universo do gravador – imergir na pluralidade de sua obra. Na constelação criativa de Gilvan Samico (1928-2013), astros, seres míticos, humanos e animais orbitam com uma liberdade própria da natureza dos sonhos. E é entre o onírico e o real que o artista pernambucano constrói um universo ímpar, capaz de agregar opostos - ou melhor, utilizando as disparidades como material artístico.

 

“O título da exposição faz referência a uma obra de Samico e enfatiza várias diretrizes do seu trabalho. Ele foi um artista que se nutriu de muitas influências, muitas informações, para construir sua obra. Essa metáfora alude à ideia de que ele devora esses elementos e cria uma constelação, palavra que aparece nas últimas gravuras dele, própria. É uma panorâmica temporal desde a fase formativa, focada na gravura, que tenta destacar também alguns temas recorrentes na obra de Samico, como a ideia de criação, não só artística, como da vida, o mistério da existência”, explica Moacir.

 

O encontro entre o legado de Samico e o nascimento do novo espaço dedicado às artes visuais foi natural. Eduardo Suassuna e Marcelle Farias, fundadores da Marco Zero, idealizaram a galeria como um local de conexões, de fomento da cultura e dos artistas locais e nacionais, fortalecendo o circuito da arte para além do eixo Rio-São Paulo. Um empreendimento pernambucano de excelência, em sintonia com as tendências da arte contemporânea nacional.

 

Durante sua trajetória, Gilvan Samico congregou essa identidade local, sem jamais deixar de dialogar com o universal. Com obras em instituições nacionais e internacionais, como o MoMa, em Nova York, ele desafiou qualquer tentativa de barreira à sua visão. Uma das maiores referências da xilogravura do Brasil, o pernambucano desenvolveu um estilo próprio, mantendo um diálogo com a cena artística do seu tempo, como nos casos do Atelier Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife e do Movimento Armorial.

 

A exposição convida os visitantes a percorrerem um caminho que se inicia com uma série de gravuras que evocam a ideia de concepção e surgimento. Outras séries enfatizam ainda temas relacionados ao conflito, como “A Luta dos Anjos”, “A Ascensão” e “A Queda do Anjo”. O curador enfatiza que essas duas forças opostas - criação e combate - se encontram no universo de Samico, um artista que se debruçou sobre as disparidades.

“Ele bebeu da cultura popular e da erudita, da literatura de cordel e seu imaginário, dos contos latino-americanos, especialmente aqueles reunidos por Eduardo Galeano em livro. Dentro de suas gravuras, inclusive formalmente, sempre há um dualismo temático: o pecado e a pureza, o bem e o mal, por exemplo. Na obra isto também está demarcado espacialmente, a parte de cima e a de baixo, lado esquerdo e direito - são simetrias muito acentuadas. É um universo fissurado, sempre com uma narrativa, que ganha significados diferentes a partir do olhar de cada pessoa”, pontua.

Moacir chama a atenção para a força da obra de Samico e como ela está imbricada à memória coletiva dos pernambucanos. O curador aponta que o nome dele é quase imediatamente associado às artes visuais do estado. Ao trabalhar com arquétipos e com questões que atravessam épocas, espaços e culturas, bebendo em vários mitos de criação, o artista pernambucano universaliza sua obra e a torna atemporal. Ele enxerga, também, a influência de Gilvan em vários artistas ao longo das décadas.

“Esta é uma possibilidade de reapresentar a obra dele às pessoas. Exposições assim, em espaços de visibilidade, proporcionam outro contato com o trabalho. A ideia é mostrar esse artista incrível e inseri-lo na conversa contemporânea. As obras de Samico são narrativas plurais, há muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Você pode ver partes isoladas e depois o todo, entrando em contato com a narrativa de várias formas”, reforça.

“Por muitos anos, portanto, a obra de Samico foi apenas exibida em amostras pequenas, em território pernambucano e fora daqui. Nesse contexto, é da maior importância a exposição ‘Devorador de Estrelas’ da Marco Zero, ao trazer de volta a obra de Samico, com grande cuidado curatorial e expositivo, para marcar a abertura de suas atividades, cumprindo também uma função educativa para o público local”, corrobora Mateus Samico, neto do mestre pernambucano. “É uma oportunidade de fortalecer os vínculos do público local com um artista que é tão pernambucano quanto é universal.”

 

Serviço:
Exposição “Devorador de Estrelas” – Gilvan Samico

Galeria Marco Zero – avenida Domingos Ferreira, 3393, Boa Viagem
Abertura: 25/11 |  Visitação: 26/11 a 06/02/22

De segunda a sexta, das 10h às 18h, aos sábados, das 10h às 15h.

Acesso gratuito.

 

Sobre a Galeria Marco Zero

Comandada pelos galeristas Eduardo Suassuna e Marcelle Farias, a Galeria Marco Zero ocupa um espaço de 600m² dividido em três espaços expositivos, sendo dois no andar terreno e um no mezanino, que receberão uma programação artística baseada na pesquisa curatorial e com uma abordagem voltada para um público plural. No acervo potente e vasto e na sofisticada reserva técnica, a galeria reúne obras de diversas vertentes, expressões, períodos e estilos. Entre os destaques, a representação do espólio do pernambucano Gilvan Samico, e a preservação e difusão de nomes do quilate de Abelardo da Hora, Cícero Dias, Gil Vicente, Francisco Brennand, Burle Marx, Vicente do Rego Monteiro, Tereza Costa Rêgo, Reynaldo Fonseca, Lula Cardoso Ayres, Carybé, Di Cavalcanti, Portinari, Tomie Ohtake, Abraham Palatnik, Rubem Valentim, José Cláudio e  João Câmara.

 

A galeria também se corresponde com movimentos mais contemporâneos apresentando trabalhos de Tunga, Miguel Rio Branco, Paulo Pasta, José Damasceno, Rodrigo Andrade, Túlio Pinto, Emmanuel Nassar, Felipe Cohen, Tatiana Blass, Tulio Pinto, Paulo Whitaker.  E representa jovens artistas locais como Ramonn Veitez e Rayana Rayo, cujos trabalhos estão focados no desenvolvimento de suas poéticas e conectados com questões fundamentais da atualidade.  “A Marco Zero foi concebida como um centro cultural para o qual confluem diferentes gerações e correntes artísticas, da arte moderna à contemporânea, onde artistas consagrados encontram-se com talentos em ascensão”, registra Eduardo Suassuna.

 

Na galeria, o visitante é convidado não só a ser um espectador, mas também um participante do pensamento sobre arte e cultura. A partir da sensibilização do olhar, com exposições, atividades formativas e eventos relacionados à área, a galeria busca formar novos colecionadores e públicos para as artes visuais. A Marco Zero também abriga uma biblioteca especializada, inclusiva e em constante formação, contribuindo para o exercício  da diversidade e a construção e difusão do conhecimento. Fomentar a produção local e descentralizar a circulação da arte para além do eixo Rio-São Paulo ao tempo que estabelece conexões entre a criação local e expoentes nacionais é também um outro propósito do espaço. Pernambuco é um celeiro de grandes e futuros artistas que iremos trabalhar para dar a visibilidade que a potência criativa local merece. Esse movimento se dará com capilaridade estratégica e capacidade de fazer pontes com as grandes galerias do País. Queremos sempre propor novas perspectivas sobre a arte e para a função social que pode ter uma galeria, fomentando debates, proporcionando encontros com artistas e especialistas do circuito de artes visuais”, anota Marcelle Farias.

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