Livro “Três poetas – na periferia do simbolismo” resgata autores do simbolismo em Pernambuco
Esquecidos pela crítica da época,
poetas têm reconhecimento tardio em publicação do professor da UFPE e escritor
Fábio Andrade. O lançamento do e-book acontece nesta quinta-feira, às 17h,
na Editora UFPE, na Cidade Universitária. De autoria do professor de Letras da
UFPE e escritor Fábio Andrade, o livro “Três poetas - na periferia do
simbolismo” resgata e analisa o trabalho de três dos mais importantes poetas
desta fase em Pernambuco: Mendes Martins, Domingos Magarinos e Agripino Silva.
Poetas que experimentavam com
palavras e versos livres, que escreviam sobre sombras, melancolia e desencanto
com as mudanças do mundo na virada do século XIX para o século XX. Durante 40
anos, o Recife teve uma expressiva produção de poesia simbolista, esquecida
pela crítica nacional. “Eles ficaram esquecidos por décadas porque não eram
poetas que estavam inseridos em um grande centro cultural e não existia uma
crítica literária forte no Recife da época. Além disso, havia um forte
preconceito contra a poesia simbolista feita no Nordeste”, conta o autor. O
livro, que tem incentivo do Funcultura e apoio da Editora UFPE, estará
disponível para download gratuito no site da Editora UFPE (www.editoraufpe.com.br)
a partir do dia 29 de junho.
Vários fatores ajudaram o
Recife a produzir poesia simbolista de qualidade. Um deles foi a inauguração do
Derby Centro Comercial – uma espécie de precursor dos shoppings centers,
incendiado em 1902 –, que virou ponto de encontro dos poetas. Lá, funcionava a
única filial da Livraria Francesa – a matriz ficava no Rio de Janeiro. “Os
recifenses tinham contato direto com a produção dos autores europeus. Além dos
franceses – Baudelaire, Mallarmé, Rimbaud, Verlaine - os simbolistas
portugueses também influenciaram muito os pernambucanos”, conta Fábio
Andrade.
Mas ao contrário do que
aconteceu na França, onde o simbolismo de Baudelaire se sobrepôs ao
parnasianismo, no Brasil os poetas simbolistas foram colocados à margem. “Eram
os poetas undergrounds da época. Como o simbolismo vinha da
França, foi lido como algo importado, que não tinha a ver com o espírito do
brasileiro. Há também um fundo político muito forte. Era uma época de muita
crença na ciência, de racionalismo. E esses poetas aparecem mostrando um mundo
não tão rosa assim. Eles insistem em certas dimensões esquecidas do ser humano,
se contrapondo ao positivismo”, diz Fábio.
Houve também preconceito da
crítica contra os nordestinos, mesmo após o fim do simbolismo, compreendido
entre as duas primeiras décadas do século XIX e as duas primeiras do século XX.
“A partir dos anos 1930 e 1940 começou uma reabilitação do movimento. O crítico
José Cândido de Andrade Muricy teve interesse pelo tema e apresentou um
panorama do simbolismo no Brasil. Mas mesmo ele vai incorrer no erro de que o
simbolismo aconteceu apenas nas regiões Sul e Sudeste, porque, na visão dele,
são regiões mais frias e com colonização europeia. Ele cita apenas quatro
poetas pernambucanos no panorama, todos eles com vida literária fora do estado.
A cena literária no Recife foi totalmente ignorada”, afirma.
Principal estudioso do
simbolismo pernambucano, Fábio Andrade se debruçou sobre coleções particulares,
acervos especiais da Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco, do Gabinete Português
de Leitura e do Arquivo Público, em uma pesquisa que se estende ao longo de
mais de 15 anos. Muitos dos poemas que estão em “Três poetas – a
periferia do simbolismo” são inéditos em livro. Isso porque as obras eram
publicadas em tiragens limitadíssimas, em revistas em que muitas vezes os
próprios autores bancavam as impressões. As principais revistas simbolistas
foram a Heliópolis, impressa no Centro do Recife, e a Alma Latina, com
impressão no bairro de Beberibe.
Serviço:
Lançamento do e-book “Três poetas – na periferia do simbolismo”
Lançamento do e-book “Três poetas – na periferia do simbolismo”
Quinta-feira (29), às 17h
Editora UFPE (Rua Acadêmico Hélio
Ramos, 20, Cidade Universitária)
O livro estará disponível para download gratuito no site da Editora UFPE a partir do dia 29: www.editoraufpe.com.br
O livro estará disponível para download gratuito no site da Editora UFPE a partir do dia 29: www.editoraufpe.com.br
Os três poetas:
Mendes Martins – Há quase nenhum dado bibliográfico
sobre o poeta, a não ser que faleceu aos 41 anos no Recife. Seus poemas trazem
como característica mais marcante a morte como uma experiência que pode ser
vivida indiretamente. O medievalismo – ou seja, a volta de temas e personagens
da era medieval – e uma profunda melancolia também são marcas do escritor. “Os
interesses e estilos de vida influenciavam muito a obra dos simbolistas. Há
poemas de Mendes Martins que trazem todos os preceitos gnósticos. Eram as
ideias a serviço da poesia”, diz Fábio.
Domingos Magarinos – Membro da tradicional família
Souza Leão, passou a juventude no Recife, antes de se mudar para o Rio de
Janeiro. Seus escritos trazem temas ocultistas, como a crença de uma
civilização avançada na América pré-histórica, puritanos (a “mulher terrível”)
e apresentam uma sonoridade que muitas vezes emula os poemas de Cruz e Souza.
Magarinos também produziu poemas que se aproximam do pré-expressionismo
europeu, algo raro no simbolismo brasileiro.
Agripino da Silva – Foi um poeta dividido entre a “túnica e o fraque”. Ou seja, entre o sonho e a ilusão do simbolismo e o apuro da técnica do parnasianismo. Foi um dos fundadores e editores da revista Heliópolis, uma das principais a divulgar o simbolismo em Pernambuco. Sua poesia carrega forte inspiração da natureza, com jogo de cores. “A obra de Agripino da Silva traz muita criação de palavras, neologismos. Há palavras que nem estão dicionarizadas. Essa experimentação é um dos fatores que separa o parnasianismo do simbolismo”, explica Fábio.
Agripino da Silva – Foi um poeta dividido entre a “túnica e o fraque”. Ou seja, entre o sonho e a ilusão do simbolismo e o apuro da técnica do parnasianismo. Foi um dos fundadores e editores da revista Heliópolis, uma das principais a divulgar o simbolismo em Pernambuco. Sua poesia carrega forte inspiração da natureza, com jogo de cores. “A obra de Agripino da Silva traz muita criação de palavras, neologismos. Há palavras que nem estão dicionarizadas. Essa experimentação é um dos fatores que separa o parnasianismo do simbolismo”, explica Fábio.
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