Bate-papo com Thiago Pethit



Foto: Divulgação

Após turnê por diversas capitais, cantor paulistano se apresenta no Festival de Inverno de Garanhuns e no Downtown Pub, no Recife

Lançado em 2012, o álbum "Estrela Decadente" dá nome também para a nova tour do cantor e compositor paulistano Thiago Pethit. Sua estreia foi em Recife, em setembro do ano passado e após passar por diversas outras capitais, o show retorna aos palcos pernambucanos. 

Integrando a programação do Festival de Inverno de Garanhuns, o cantor se apresenta hoje, às 20h30, no Palco Pop, no Parque Euclides Dourado com entrada gratuita. E amanhã (27), às 20h, Pethit se apresenta no Downtown Pub, com ingressos à venda antecipadamente por R$ 20 (meia) e R$ 40 (inteira) pelo site www.sympla.com.br.

Confira a seguir uma rápida conversa da Agenda Cultural do Recife com o artista:

Agenda Cultural - Como tem sido a recepção ao seu trabalho pelo público pernambucano?

Thiago Pethit - O público pernambucano sempre foi um dos mais receptivos com meu trabalho. Desde o primeiro EP em 2009, até hoje com mais 2 álbuns lançados, o público só cresceu e se engajou mais ainda nas minhas questões. É um publico caloroso com as letras das músicas na ponta da língua e muito abertos ao desbunde que este último álbum propõe.


AC - Embora tenha uma roupagem muito atual, ao ouvir o seu mais recente trabalho é possível sentir uma atmosfera “retrô”. Isso é porque você se inspira em alguns artistas do início do século XX? Se sim, quem são?

TP - Eu não gosto muito da palavra retrô. Embora o sentido dela esteja correto para explicar algumas características do meu trabalho, o seu significado soa esvaziado hoje em dia. Especialmente porque retrô é sinônimo de alguma coisa saudosista ou nostálgica de uma maneira que não olha para o 'aqui e agora', mas que fica presa ao passado. Eu, quando me inspiro nestes nestas épocas passadas ou nos artistas, seja citando Andy Warhol, Candy Darling, James Dean, Greta Garbo, Marlene Dietrich, estou querendo fazer uso da nossa história e das nossas referencias que possam dialogar com o mundo que vivemos hoje. Seja para lembrarmos de alguma lição histórica, seja para tentar sonhar com um futuro diferente do que foi construído lá atrás. O que pudemos observar e aprender com as manifestações que tomaram o Brasil é que se trata muitas vezes de uma guerra memética. E é isso que eu tento propor: uma luta entre símbolos. Os meus, são os símbolos de rebeldia, de juventude e de alertas para um mundo que vem encaretando sem que a gente se desse conta. A ascensão de uma classe religiosa retrograda no Brasil, não se diferencia muito das ascensão nazista da Alemanhã, então eu quero citar uma linguagem artistica do Brecht, Dietrich, do cabaré bizarro e bafônico que tentou combater e se sobrepor a isso. Não é saudosismo, portanto. É uma memória avivada, eu diria.

AC - Você pensa em gravar um DVD dessa turnê ou o público já pode esperar um novo cd para 2014?

TP - Eu penso em muitas coisas no momento. Já pensei inclusive em um DVD para Estrela Decadente Tour, mas eu não gosto desse formato. Acho DVD de show uma coisa sem sentido. Se todos que vão aos shows podem gravar seus registros fieis de espectadores numa tela de celular e espalhar isso pela internet em boa qualidade (cada vez fica melhor), não há razão para querer ter este material oficial em DVD. Além de show ser uma coisa feita para o 'ao vivo'. E não para ver em casa. Nunca é bom o suficiente a ponto de excluir a primeira opção, que é para o que os shows foram feitos: para serem vistos ao vivo. Talvez eu lance um outro trabalho, sem tirar o Estrela Decadente da frente ainda. Mas são muitas as ideias, não consegui definir ainda a que mais me agrada. Estou interessado em encontrar novos formatos.

Sobre o disco - Boca borrada de batom, que sustenta ao canto o final de um cigarro, e olhos velados por uma tarja-título em escaldantes letras douradas (técnica gráfica luxuosa conhecida, não por acaso, como hotstamp). Assim, Thiago Pethit ilustra a capa de “Estrela Decadente”, seu segundo disco totalmente independente. Com nove faixas, sendo oito autorais e uma versão de “Surabaya Johhny”,de Bertolt Brecht e Kurt Weill, o álbum produzido por Kassin inaugura novos e mais amplos lugares para a música de Pethit. 

Se em seu álbum de estreia, “Berlim, Texas” (2010), o compositor encontrava o tom de sua voz e situava-se em um ponto do mapa-múndi, no segundo trabalho, perde-se por aí para correr perigo. Uma ode cintilante e suntuosa à decadência, o novo álbum atualiza o cabaré de Pethit, que, ao lado do produtor musical Kassin e do diretor de arte Pedro Inoue, constrói um discurso estético contundente. 

Em “Estrela Decadente”, Pethit assume voz, postura e sentimentos da persona que permeia toda a produção, um dândi que se apresenta frontalmente, também em discurso narrativo, na faixa “Dandy Darling”, parceria com Rafael Barion. Mas, mais do que nas letras, compostas ora em português, ora em inglês ou em ambas as línguas, as mensagens surgem nas escolhas estéticas, uma marca do artista que neste segundo álbum tornam-se quase uma obsessão.

Na maioria das faixas, as influências sonoras passeiam por referências dos anos 1930 e 1960, contemporaneizadas por programações com samples, loops e ruídos digitais que se misturam aos outros instrumentos. O projeto gráfico tem direção de arte e design de Pedro Inoue, diretor criativo da revista canadense AdBusters que tem em seu currículo capas de discos de David Bowie e Jamie Cullun. A arte visual de "Estrela Decadente" é inspirada em figuras icônicas como Andy Warhol, James Dean e Greta Garbo.

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